Bom dia!

Esse episódio de Kujira no Kora veio recheado de informações, boa parte delas respostas para questões do anime que estavam no ar desde os dois primeiros episódios. É um clássico infodump, todo mundo apenas conversou e contou tudo o que tinha para contar. Poderia ser melhor – quero dizer, o anime já está quase na metade e algumas dessas respostas, pelo menos em parte, poderiam ter vindo antes ou esse momento em que finalmente são reveladas poderia ter sido melhor construído. Mas também poderia ser pior: poderiam todos sentar para conversar sobre coisas que todos já sabem, apenas para que o espectador passe a saber também. Boa parte da narração do Chakuro é desse tipo, principalmente nos primeiros episódios, mas dou um desconto porque estou considerando isso recurso estilístico para indicar que o garoto, um escriba, está contando a história em algum momento do futuro indeterminado – ou que alguém está lendo os registros dele.

Mas, ufa! Pelo menos viraram-se várias páginas e o anime pode finalmente seguir em frente.

Qual será a revelação mais importante desse episódio? Algo sobre a Baleia de Lama? Ou sobre o Império? Os dois estão intrinsecamente ligados, então é difícil dizer. Não obstante, a separação de um século fez com que cada um tenha uma história própria. Os atuais habitantes da Baleia não sabem nada sobre a verdade, apenas os Anciões têm acesso a ela e não a compartilham com ninguém. Me pergunto em que momento essa regra foi criada, e com qual objetivo. Não consigo pensar em causas nobres, apenas coisas como uma dada geração de anciões temeu revelar a verdade para os cidadãos da ilha para que eles não se rebelassem e escolhessem retornar para o Império. Ou seja: para manter o poder e o status quo. Não fica melhor do que isso. Se tiver hipótese melhor, compartilhe, por favor!

Lycos conta tudo

No que importa, é o que já se havia especulado mesmo. O Império usa os nous para criar soldados sem emoções, e a Baleia de Lama foi exilada por causa disso. A coisa toda fica meio confusa porque a primeira coisa que o anime conta na primeira cena do primeiro episódio é sobre como mesmo na Baleia de Lama eles procuram limitar suas emoções, embora na prática sejam bastante compreensivos com quem não consegue, afinal, segurar suas emoções.  O conflito ficou um pouco mal construído por causa disso. Emoções são boas ou más? O Império e a Baleia de Lama têm mesmo posição divergente quanto a elas? Essas perguntas são retóricas, tenho certeza que Kujira não irá respondê-las.

Um dado muito mais interessante é saber que o nous da Baleia, Falaina, é diferente dos demais (oito, contando com Lycos, controlados pelo Império): ele não se alimenta de emoções. Porque o Império não achava útil um nous que não consome emoções e porque queria punir dissidentes que não aceitavam abdicar de suas emoções, os pioneiros da atual Baleia de Lama foram em sua época exilados para a Baleia de Lama, de Falaina. Mas mesmo que seja um nous “defeituoso”, o Império não está disposto a correr o risco de vê-lo nas mãos de inimigos, por isso decidiu reaver Falaina assim que uma nação adversária não especificada adquiriu a tecnologia para viajar pelo oceano de areia, e daí a ordem para exterminar o povo da Baleia de Lama. Bom, suponho que poderiam só apreendê-los e fazer com que jurem lealdade ao Império de volta? Bom, que seja, quem sou eu para dizer aos líderes do Império com que critérios decidir seus genocídios.

Essa era a tal “saída digna”

Se Falaina não se alimenta de emoções, então de quê? Acho que é óbvio, não é? O episódio não disse isso, o anime não disse isso, mas acredito que só possa haver uma resposta: da vitalidade dos marcados. Isso traz a implicação de que os nous só podem consumir o que quer que seja dos marcados. E eu adoraria que isso explicasse o super-emotivo moleque de cabelo rosa do episódio três, mas ele ativa o poder telecinético pelo menos uma vez, de forma bastante visível, então mesmo que seja verdade que os nous só afetem os marcados, ele continua sendo um marcado não afetado. Ou ele tem uma história bastante diferente. De um jeito ou de outro, ele é uma exceção que a essa altura só serve para confundir.

Falando em exceções, parece que o ancião que defendia veementemente que todos deveriam morrer era, ele também, uma exceção entre os anciões. De algum modo conseguiu fazer valer a sua opinião. Quando desafiado, os demais foram rápidos em abandoná-lo. E o capitão da guarda também parece ser outra exceção, no sentido de que ele é um marcado e não é um ancião (o que é óbvio, um marcado em Falaina jamais poderia se tornar ancião) e mesmo assim acha a ideia de todo mundo morrer muito boa, está até ansioso para isso. Enfim, exceções demais para um anime tão curto e com cenário tão complexo.

O Discurso do Rei (quase)

A mensagem central, contudo, parece ser a que escolhi como título do artigo. Suou faz essas perguntas retóricas literalmente durante o episódio: Existe alguém que possa aceitá-los como são? Eles aguentarão viver e sobreviver até encontrar esse alguém? É uma mensagem que soa cretina quando aplicada a um povo inteiro, como é o caso, ainda que possa parecer razoável em alguns momentos especialmente tensos, como é o caso. Mas ela se aplica ao nível individual também, tome-se por exemplo a Lycos: apesar de tudo, Chakuro a aceitou exatamente como ela é – na verdade, ele enxergou o coração dela e viu como ela realmente é, e foi essa Lycos que ele aceitou. Ela precisou sobreviver ao massacre de sua tripulação para encontrá-lo, com certeza não foi fácil. Enterrou todos os seus companheiros. Chorou ao sair do estado de catatonia para atacar o que lhe pareceu mais um invasor. Serve também para todos os marcados da Baleia de Lama, com vidas tão curtas – no caso deles, a formulação é literal: viverão o suficiente para encontrar alguém que faça suas vidas valerem a pena?

Não sou especialmente fã da ideia de precisarmos de outras pessoas para nos validarmos, contudo, mas estarei aqui até o final para ver se pelo menos esse tema será bem desenvolvido em Kujira no Kora. Sem exceções.

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