Koi wa Ameagari no You ni – ep 6 – O som da chuva e do vento
O título deste episódio pode ser chuva fina, mas a verdade é que presenciamos uma inundação de sons; desde uma trilha sonora estonteante e completamente imersiva aos sons internos do próprio anime. Não por acaso, este episódio teve poucos diálogos, mas passou longe de ser monótono ou vazio, pelo contrário, o “som da chuva” e o “som do vento” disseram tudo o que eles queriam dizer.
Chegando a metade do anime já fica claro que ou qualquer avanço amoroso da Tachibana com relação ao Kondou pode facilmente ficar em segundo plano em alguns momentos ,ou que isso sempre estará ali – o que acho vital para a caracterização desse romance –, mas será lentamente trabalhado enquanto algumas outras coisas serão ditas sobre a Tachibana – e quiçá sobre o Kondou.
Neste episódio uma qualidade do anime se destacou em meio a tantas outras, a sua capacidade de se tornar um alvo de contemplação para o público. Destacar uma trilha sonora com peças tão belas e que funcionaram tão bem como complemento para as cenas em que elas aparecem foi um acerto e tornou ainda mais agradável e interessante uma experiência que teria seus méritos mesmo “calada”.
Em um primeiro momento, o que ocupou o episódio foi a Haruka em sua tentativa de se reaproximar da Tachibana. Uma amizade construída a base do suor dos vários dias em que passaram correndo juntas demonstra bem a importância desse tipo de organização escolar na vida de um aluno japonês. Isso fica ainda mais evidente se lembrarmos que após se retirar do clube a Tachibana não conseguiu “ficar parada” e acabou encontrando uma coisa com a qual ocupar sua mente – paixão, trabalho, etc.
Uma cisão entre elas era previsível, mas, junto com a linda cena em que a Haruka reabriu um canal de comunicação entre as duas – o que se ligou ao romance de forma leve e simbólica –, a seguinte pergunta fica no ar: a amizade delas se resumia apenas às suas atividades no clube de atletismo ou a Tachibana sempre teve uma verdadeira amiga – só ainda não percebeu – com a qual poderia contar? Creio ser a segunda opção e que a presença recorrente da Haruka tornaria a obra mais interessante.
Um ponto comum em um romance são os personagens secundários que rondam os protagonistas e muitas vezes agregam a história com suas personalidades e dramas, assim ajudando a desenvolver o que é importante. Koi wa é um romance bem atípico no qual não vejo muito a possibilidade de se formar um forte círculo de amizades, mas ter ao menos uma ou outra personagem com as quais a Tachibana possa contar, mesmo que indiretamente, é necessário. Todos precisam de apoio às vezes!
Torço para que a Haruka apareça mais e vá recuperando essa amizade, que ela vá descobrindo como poderia estreitar seus laços com a Tachibana. Elas são amigas de infância, parecem realmente gostar uma da outra e a Haruka pode ser um apoio emocional importante, além de alguém que ajudaria a Tachibana a descobrir se ela está só tentando “compensar” a sua frustração pela saída do clube com a paixão e o trabalho ou essas coisas não são substitutos, mas sim coisas que ela deseja de verdade.
Outro ponto importante deste episódio foi voltar a falar sobre a paixão do Kondou por livros e dessa vez com ele mesmo aparecendo “caracterizado” – são só óculos, eu sei, mas óculos sempre dão à pessoa um “ar intelectual”, não acham? – como alguém da sua idade que você esperaria que lesse – pessoas de maior idade costumam ter problemas de visão e precisar de óculos para ler bem.
O encontro na biblioteca pública foi uma coincidência bem conveniente, mas se aquela é a melhor da região e é melhor que a da cidade dele, dá até para entender ele estar ali. Como a Tachibana mesma disse no episódio passado, ela quer conhecer ele melhor e para isso compartilhar algo em comum é necessário, ainda melhor se for algo que agregaria muito a uma garota ainda inexperiente em vários sentidos. Quanto ao Kondou, mais uma vez ele apareceu bem, sem reações desproporcionais e mantendo a sua atenção para com a garota, agindo como alguém que realmente gosta de ler e leva esse hobby(?) a sério. Cada vez mais me interessa saber o que esse gosto pode acrescentar à história.
Não poderia deixar de citar algo recorrente e muito positivo em Koi wa, que é a história sempre começar e fechar o que está querendo dizer em certo trecho – mas naturalmente dando margem para que aquilo seja revisitado em algum outro ponto da história. Pode se perceber isso pelo caso do pingente que, mesmo tendo aparecido do nada, serviu a um propósito e fechou bem o que estava sendo trabalhado naquele momento tanto sobre a Tachibana quanto sobre a Haruka. Outra forma de aplicar isso fica clara quanto o Kondou percebeu que a frase que ele disse a Tachibana serviu para ele – ao mesmo tempo em que, sem ele saber, aquela frase caiu bem para ela com seu livro de fotos – sendo que naquele momento tanto novamente tínhamos de um lado a garota apaixonada que quer conhecer mais dos interesses da sua paixão, quanto a história e os interesses da outa pessoa; nesse caso, alguém que só estava interessado em ler, ajudar uma leitora de primeira viagem e ter cautela quanto a óbvia tentativa de aproximação da adolescente – a cena em que eles se despedem é carregada por uma música que expressa exatamente esses sentimentos conflitantes e angustiantes do Kondou quanto a essa aproximação da Tachibana, ao gradativo envolvimento dos dois.
Fazer isso demonstra uma segurança da autora ao escrever a sua obra – imagino que no mangá seja o mesmo –, porque há a preocupação em dar significado às pequenas coisas, em possibilitar um destrinchamento do quadro geral através dos detalhes, os quais muitas vezes contêm verdades não ditas sobre a vida cotidiana, sobre os dramas de cada um, sobre quem as pessoas realmente são. O “trato fino” com esses detalhes possibilita que eles definam o tom da história e isso é um ponto positivo, pois faz com que a sua execução não dê margem para que você “pense mal” da obra por se tratar de um possível romance entre uma adolescente e um homem de meia-idade, até por ele avançar de forma lenta – muito por causa da delicadeza da situação que envolve esses personagens.
Antes de concluir minha análise, não poderia deixar de falar sobre as citações a autores prestigiados da literatura japonesa através de algumas de suas grandes obras, tais como: Rashomon de Akutagawa Ryuunosuke; e Botchan de Natsume Souseki. O primeiro é tido como um dos maiores contistas da literatura japonesa e até hoje suas obras são influentes em diversas mídias, enquanto o segundo foi um escritor e filósofo da Era Meiji, que no século 21 recebeu um crescente interesse por suas obras.
Acho interessante citar autores que muito provavelmente influenciaram a escrita da autora e creio que isso até desperte o interesse do telespectador – principalmente se for ocidental – em conhecer obras da literatura japonesa. Isso é algo que eu mesmo devo fazer e vai que não pego algumas pistas sobre os caminhos pelos quais Koi wa pode seguir ao folhear algumas de suas possíveis influências?
Outro detalhe importante é que Kujou Chihiro não é um autor real e sim um personagem da obra, o que implica que se trata da mãe do Yuuto. Talvez, creio que o primeiro nome é comum para ambos os sexos, mas acho que seria previsível demais e até bobo se pensarmos que não deveria ser um problema para ele conseguir uma cópia com ela. Pela forma como o nome do autor, ou da autora, foi enfatizado me parece que o Kondou é um apreciador de seus trabalhos e que há margem para que esse, e talvez até outros, autores apareçam “em carne e osso” na história – talvez até sejam conhecidos do Kondou? –, o que enfatizaria o desejo da autora de seguir pelo “caminho das letras”.
Como último adendo, só gostaria de explicar que o som da chuva se trata da trilha sonora do anime, a qual realmente se esparramou pelas cenas, inundando-as de sons e uma atmosfera que acolheu incrivelmente bem as sensações e sentimentos que desejavam transmitir. Já o som do vento é apenas o puro e simples som do vento no rosto e ouvidos da Tachibana, que, sendo criança ou moça, sente prazer em ouvir esse som e através dele consegue se sentir sendo uma com o céu. O contraste da cena dela criança com a última cena do episódio é interessante, pois na primeira ela tinha acabado de correr e na segunda ela tinha acabado de se despedir do Kondou. Será que para ela estar com o Kondou está para correr assim como trabalhar está para estar no clube? Um substituindo o outro, um sendo colocado no lugar do outro para fazê-la se sentir viva como ela se sentia antes do incidente que a fez parar de correr? É uma possibilidade – não vai dar para dizer que a autora não deu foreshadowing mais que suficiente caso seja mesmo isso – , como talvez possa ser que seja isso nesses primeiros momentos, mas em alguma hora ela perceba que o novo ambiente e as novas relações de amizade e paixão que ela cultivou nele tenham um significado próprio e especial em seu coração. Me despeço ansioso pelo que a segunda metade desse romance edificante terá a oferecer!
James Mays
Nesse foi mais focado na Haruka e a amizade das duas, mas os momentos Kondousan foram magistrais…Cada vez mais me empatizo com ele….Bem de Haruka o que dizer, ela quer ser amiga da Akira mesmo que ela não faça parte do time, a amizade veio antes das duas começarem a praticarem corrida…Elucubrações: 1) Haruka vai descobrir o amor de Akira por Kondou e vai sentir um ciumes reivoso…2) Chihiro quem será?
E essa droga de esperar o proximo ep….Excelente resenha capturou a essência….
issei gentil
Muito lindo e estamos evoluindo com esse romance, eu quero ver beijo e pegação desses dois.
Renato Rodrigues
Por mais que a protagonista principal seja a Tachibana, eu estou curioso para saber o passado do Sr. Kondou, pois não me tira da cabeça que ele era um escritor e que aconteceu alguma coisa para ele desistir da sua carreira e ser gerente um restaurante familiar, posso estar errado, mas essa é a minha opinião. E como sempre estou gostando demais desse anime, esse episódio foi um espetáculo de fotografia e trilha sonora, menos conversação e mais imagens. Estou torcendo para os dois ficarem juntos no final.