Sora yori mo Tooi Basho – ep 8 – Responsabilidade
Bio dia!
Nessa semana em Sora yori mo Tooi Basho nossas aventureiras antárticas começam a viagem de verdade. Claro, já saíram do Japão faz dias, turistaram e passaram por apuros em Singapura, chegaram em Fremantle e tiveram contato com o navio e seus colegas expedicionários, etc. Mas se boa parte da tripulação já está há meses trabalhando nessa expedição, para as garotas isso é tudo novidade.
No melhor anime coming of age da temporada (tem mais algum?), é nesse oitavo episódio que a realidade começou a atingir Mari, Shirase e companhia.
Viajar é sempre uma ideia divertida, mas na prática dá uma canseira danada. Uma viagem simples, ir para outra cidade visitar amigos ou parentes, ou partir em curtas férias para a praia ou o campo ou a Disneylândia é sempre divertidíssimo na nossa cabeça, mas comece a fazer se tornar realidade e as dificuldades começam a surgir. Transporte, hospedagem e bagagem é só o começo. Há toda uma série de problemas específicos que temos que enfrentar antes, durante e depois de qualquer viagem, por mais trivial que seja. Imagine uma expedição para a Antártica.
As garotas só tinham uma vaga noção teórica de que era genericamente “difícil”. Foram superficialmente alertadas por vários adultos sobre coisas mais gerais ou mais específicas para as quais elas teriam que se preparar. Precisam ser fortes na Antártica. Não podem dar trabalho para os outros então precisam conseguir cuidar de si mesmas. Precisam ajudar nas tarefas ordinárias da expedição. Elas sabiam de tudo isso, já tinham ouvido falar. Até já haviam feito compras de mantimentos no episódio anterior. Mas foi nesse episódio que tudo se tornou real. O momento da partida do navio foi o ponto de não retorno.
Elas precisam fazer exercícios elas precisam descascar batatas elas precisam respeitar os horários estritos do navio elas precisam se preparar para mares arredios elas precisam amarrar tudo em seu quarto para que as coisas não saiam voando elas precisam cuidar da saúde elas precisam fazer as tarefas de reportagem da Yuzuki elas precisam elas precisam elas precisam …! Não acaba nunca a lista de coisas que elas precisam fazer, e ainda nem chegaram na Antártica!
No começo elas parecem que estão tirando de letra. Claro, vão descobrindo tudo aos poucos, mas bem ou mal estão dando conta e meio que têm esperança de que vão melhorar, é apenas natural que melhorem, não precisam se preocupar agora porque todos esses adultos aí são assim tão bons nessas coisas todas porque já estão acostumados e, bem, porque são adultos. Elas estão indo para a Antártica pela primeira vez. Elas não são adultas. Tudo vem ao seu tempo, não vem?
Uma coisa complicada da transição da adolescência para a vida adulta é que não é bem assim que funciona. Você não acorda um dia e a responsabilidade começa a crescer de seus poros como os pelos cresceram quando atingiu a puberdade. Se ficar só esperando, vai esperar para sempre. Adultos-crianças, os eternos adolescentes, são um fenômeno social contemporâneo que mostra exatamente o que acontece quando jovens ficam apenas esperando a vida adulta chegar. Claro que não é fácil, cada pessoa é um mundo à parte, de forma alguma estou julgando alguém (sequer tenho moral para isso, muito menos direito), só estou contextualizando a questão para entendermos melhor nossas quatro heroínas. Porque se alguns de nós podem, independente disso ser bom ou ruim, ficar esperando para sempre, elas não podem mais.
Yuzuki foi a primeira, mas quase ao mesmo tempo todas elas ficaram terrivelmente enjoadas por causa da viagem de navio e estavam quase adoecendo – e isso significa que além de tudo não estavam mais podendo ajudar e faltava pouco para começarem a dar trabalho para os demais tripulantes. Tudo porque não cuidaram de tomar o remédio para enjoo corretamente: tomaram uma vez só e acharam que seria suficiente. Claro, um adulto deveria tê-las orientado melhor, mas agora vou pedir licença para uma digressão sobre a verossimilhança de Sora yori mo Tooi Basho.
Apesar de outras garotas já terem ido antes ao Polo Sul, adolescentes viajarem para a Antártica em expedições científicas continua sendo basicamente irreal. Em cima dessa primeira premissa fantasiosa o anime toma diversas liberdades poéticas para destacar seus temas. No caso da falta de supervisão adulta, algo que na realidade seria impensável (elas são menores de idade e nunca viajaram para a Antártica) pode ser interpretado metaforicamente como: na vida real nem sempre terá um adulto para orientar você. Aposto que a maioria já ouviu isso de suas mães, mas era exatamente sobre isso que elas estavam falando: parece fazer sentido agora? Às vezes, a pessoa que pode ajudar está perto, do seu lado, mas se você não tomar a iniciativa, não for pedir ajuda, ela nunca vai saber. Em uma viagem real não faz sentido elas estarem desassistidas, mas em Sora yori mo Tooi Basho e na vida, em situações normais do cotidiano que certamente não envolvem expedições para o continente gelado, ou você procura ajuda quando precisa, se informa o melhor que puder, ou quedará presa de sua própria ignorância. E a culpa não vai ser de ninguém, só sua.
Retomando, as garotas estavam adoecendo, perdendo peso por não conseguir segurar comida no estômago, mas no princípio continuavam apenas esperando que tudo eventualmente se resolvesse. Conforme o tempo passava e nada se resolvia (pelo contrário, só piorava), o desespero começou a tomar conta: Será que conseguiremos? A Shirase responde como sempre: vão conseguir porque têm que conseguir, não é como se tivessem opção. E é verdade que nesse particular elas não têm muitas opções, mas a Mari lembra a todas de algo fundamental: só estão nessa situação porque em primeiro lugar tomaram uma série de decisões que as levaram até ali. Por essa perspectiva, não é que vão ter que conseguir porque não têm escolha, mas sim que têm que conseguir porque desde o começo elas decidiram passar por tudo isso.
Percebe a diferença sutil? A Shirase disse que apenas deveriam lidar com as coisas como elas viessem. É como muitos de nós vivemos, não é? As coisas vão acontecendo e a gente vai lidando com elas. Mesmo quando tomamos alguma decisão, escolhemos um emprego, entramos em um relacionamento, começamos um curso, frequentemente só tomamos essa primeira decisão e logo voltamos a operar de forma reativa, apenas lidando com o que aparece pela frente. De novo, não é minha intenção e nem posso julgar ninguém, cada um sabe melhor da sua própria vida, só estou escrevendo isso porque é relevante para entendermos o que se passa com as garotas. A Shirase é assim, reativa, mesmo tendo uma vontade de ferro e um sonho grandioso. A Mari pensou diferente.
Se elas decidiram, então elas precisam continuar mantendo a mesma determinação que as levou a tomar a decisão lá no começo durante toda a jornada. Se isso significa que elas agora precisam descascar batatas, então elas devem descascar batatas com a mesma determinação com a qual decidiram viajar para a Antártica. Se isso significa se cuidarem melhor para não adoecer e não se tornarem um fardo para o resto da tripulação, idem. Isso que a Mari vislumbrou durante uma terrível noite de tempestade a caminho da Antártica enquanto sofria de enjoo há dias é o que chamamos de responsabilidade. Elas são no fim das contas as únicas responsáveis pelas decisões que tomam. Todos nós somos.
No meio dessa epifania elas irresponsavelmente quebram não sei quantas regras de segurança e colocam a própria vida e a de todos da expedição em risco e saem para a parte externa do navio no meio da tempestade. A chance delas serem varridas pelas ondas gigantes para a escuridão infinita do oceano era imensa. A porta que deixaram aberta poderia ser a entrada de uma inundação que levaria o navio à pique. No mínimo, aquela água congelante (talvez abaixo de zero) poderia tê-las deixado com sintomas de hipotermia. Mas está tudo bem, essa cena foi só mais um caso das licenças poéticas que o anime vem tomando para passar sua mensagem. Não é como se as garotas tivessem se tornado automaticamente adultas responsáveis apenas porque perceberam que é isso que deveriam ser. Elas ainda continuarão cometendo erros típicos da falta de maturidade.
Yamanaka
Semana passada me deram um aperto no coração e nessa quase fizeram ele sair pela boca! Quase me mataram de susto abrindo aquela porta.
Bem interessante a questão da “liberdade poética” que você citou, mas eu ainda quero uma bronca por terem aberto a porta no episódio que vem! hahaha
Esse anime foi a melhor surpresa da temporada para mim.
Fábio "Mexicano" Godoy
Eu também queria que elas tomassem uma bronca! Liberdade poética à parte, acho que nessa cena exageraram. Mas teve um timeskip depois para a próxima cena, então podemos assumir, se nossos corações pedirem, que elas levaram uma bronca =D
Obrigado pela visita e pelo comentário! Volte sempre ^^