Mobile Suit Gundam

Após uma pausa inesperada, porém estratégica no final das contas, esta coluna volta ao campo de batalha (não sem antes pedir desculpas e compreensão ao querido leitor e a querida leitora) para continuar a saga de como Gundam se tornou um marco do mecha anime e um dos maiores fenômenos da cultura pop oriental. É o retorno de Entre no maldito robô.

Quando falamos e/ou ouvimos falar em clássicos no contexto da arte e do entretenimento, invariavelmente pensamos não apenas em trabalhos de enorme mérito artístico cuja influência se tornou definidora de uma linguagem, mas também de obras de enorme alcance e de grande apelo popular. Em outras palavras: sucesso comercial. Filmes como “O Poderoso Chefão“, discos como “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band“, livros como “O Retrato de Dorian Gray” são monólitos culturais que cativaram e ainda cativam milhões e milhões de pessoas até hoje. Só que nem sempre acontece dessa forma. Para cada “O Poderoso Chefão” ou “Sgt. Pepper”, há dezenas de “Cidadão Kane” e “Pet Sounds“, obras que foram inicialmente recebidas com frieza e até hostilidade, mas que, com o tempo, também entraram para o time dos clássicos. Gundam, feliz ou infelizmente dependendo dos argumentos apresentados, pertence ao segundo grupo.

Quando Yoshiyuki Tomino concebeu as aventuras de Amuro e Char, sua visão de como Gundam deveria ser era bastante diferente do que foi efetivamente desenhado nas células de animação no final dos anos 1970. Tomino imaginou uma história com tons melancólicos e até mesmo opressivos, com personagens cheios de dúvidas cujo papel era mais de confrontar o telespectador e menos de causar simpatia. Até mesmo o design original do robô era uma mistura de branco com tons de cinza, ideia completamente rejeitada pelos executivos da Sunrise. O orçamento dado pelos patrocinadores também foi outro grande problema, fazendo com que Mobile Suit Gundam seja, de longe, uma das séries mais limitadas e feias em termos de visual na história da franquia.

Com todos esses problemas e com a forte concorrência enfrentada durante sua exibição, os responsáveis pela série foram pegos de surpresa quando foram informados que, dos 50 episódios previstos, apenas cerca de 36 seriam produzidos. Após algumas negociações, a equipe responsável conseguiu aumentar esse número para 46, tendo a primeira exibição da série se encerrando no dia 26 de janeiro de 1980. Um triste fim para algo que nasceu tão cheio de ambições.

Mas os deuses metálicos já haviam feito seus planos e não deixariam que essa história terminasse assim. Apesar da audiência considerada baixa em 1979, a série foi reprisada no ano seguinte com resultados de público muito melhores. Mas o melhor ainda estava por vir: em 1980, a Bandai, sob a liderança de seu novo presidente Makoto Yamashina, lançou nos mercados nipônicos um novo brinquedo chamado gunpla (junção das palavras “Gundam” e “plastic model”) a um preço tremendamente acessível. O sucesso foi avassalador. Mas ainda faltava uma última peça para estabelecer o renascimento Gundam. Ou melhor, 3 peças.

Em 1981, aproveitando o renovado e crescente interesse sobre a série, a Sunrise lançou o primeiro de uma série de três filmes que compilavam os eventos da série. Cada um destes filmes atraiu multidões para os cinemas japoneses e essas milhões de pessoas estabeleceram de uma vez por todas a história que todos nós conhecemos: Mobile Suit Gundam como um clássico moderno da ficção científica nipônica e, posteriormente, mundial. Até planos para uma adaptação hollywoodiana foram considerados em 1983 (com a insana ideia de usar efeitos em CGI já naquela década!), mas nunca foram além de alguns rascunhos. Em 1985 chegou às TVs japonesas a primeira continuação da franquia, Gundam Zeta, trazendo novos e velhos personagens, novos inimigos, animação de ponta para a época e um número suficiente de episódios para satisfazer as ambições de Tomino. Mas isto fica para uma futura coluna.

E finalmente chegamos aos anos 1980, a época de ouro do mecha anime, com dezenas (centenas?) de novas séries, filmes e um novo formato de produção chamado OVA feito sob medida para o novo mercado de vídeo doméstico. Até semana que vem!

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