É com certa tristeza e imensa satisfação que escrevo sobre o décimo segundo episódio desse anime. Tristeza porque a adaptação animada acaba nele, satisfação por ter tido o prazer de escrever sobre uma excelente história que me proporcionou tantas alegrias. O que ficará em nós depois da chuva?

A Tachibana e a Haruka não se encontram cara a cara e nem conversam apropriadamente ao longo de todo o episódio, o que deveria indicar que os problemas entre elas não foram resolvidos, não é mesmo? Aqui Koi wa toma um caminho interessante e adequado, esse em que a Tachibana passa por um processo no qual tudo o que está ao redor dela – desde pessoas a situações e lugares – a faz se lembrar da promessa sincera e feliz que fez com a sua amiga Haruka: que veriam o vento juntas correndo pelas pistas de corrida da escola e da vida; e a corrida que tanto amam.

Às vezes, para nos acertarmos com uma pessoa especial não precisamos dizer nada de mais…

Esse episódio foi importante para fazer a protagonista não recuperar algo que perdeu mas se reconciliar com uma paixão que esteve adormecida lá no fundo de seu ser e para isso foi necessário que desde pequenas situações do dia a dia – como o plano de carreira da escola ou a seriedade da sua amiga Yui em se tornar cabeleireira – a situações pontuais que pareciam obra do destino – dar uma aula de como correr para o Yuuto, ensinando algo que ela ama – se concatenassem em prol de fazer a garota acordar para uma realidade em que trocar uma paixão por outra não seria o melhor.

A possibilidade do Gerente ser promovido e deixar o café que se apresentou ao longo desse episódio não pareceu incomodar tanto a Tachibana, justamente por ela estar absorta em seus pensamentos sobre o que a corrida significava para ela e se ela realmente ainda queria correr. Isso foi bom porque um distanciamento natural do seu objetivo romântico era necessário para que ela passasse a pensar mais em si mesma e conseguisse se dar conta de que correr continuava sendo importante.

Seria este um sinal de que ela vai voar e não só olhar para o céu? Tenho certeza que é!

Não poderia esquecer de falar do ótimo trecho da Yui com o Yoshizawa e com a própria Tachibana, já que ela decidiu o caminho que vai trilhar e tem o apoio da amiga no romance que está nascendo entre ela e o garoto. Nada termina acertado para a Yui na história, mas ela é uma jovem que estuda e trabalha dignamente e tem plenas condições de realizar o que deseja, sendo assim, esse momento é mais importante para que o público veja que a personagem vai indo bem, que nos bastidores ela vinha se desenvolvendo, o que pontualmente víamos através de relances dela interagindo com a amiga ou o garoto que ela gosta. Uma construção mínima, simples, mas boa e até necessária para motivar a Tachibana a correr atrás de fazer o que gosta e ver o quão vibrante esse tipo de realização pode ser para alguém da sua mesma idade, do seu sexo; alguém que é de fácil identificação com ela.

O contraste de um flerte amoroso entre um casal da mesma idade e um casal com uma enorme diferença de idade foi algo praticamente não explorado ao longo do anime, mas se levarmos em conta que o objetivo dele nunca foi o de construir uma história de romance convencional e sim uma em que a troca de experiências entre diferentes pessoas que tinham algo a acrescentar umas às outras era seu diferencial, o uso de personagens como a Yui e o Yoshizawa se mostra mais adequado, pois direta ou indiretamente eles também acrescentaram coisas boas a Tachibana enquanto pessoa.

Depois da Haruka se lembrar de um momento alegre e aconchegante com a sua amiga, o foco se volta para o Yuuto, que aparece no café em que o pai trabalha precisando de uma ajuda justamente com o ponto forte da Tachibana e da Haruka, o que é conveniente, mas a execução que parte disso é tão boa que fica difícil não aceitar a situação – até por ela não ser exatamente absurda e ajudar a Tachibana a se lembrar da paixão que tem pela corrida. Não é por acaso que ela procura saber o que precisará fazer para voltar às pistas e é na iminência de dar o primeiro passo para correr atrás do tempo perdido – o tempo não volta, é verdade, mas não é por isso que ela não pode viver novas experiências, tão boas quanto as que viveu na época em que corria no clube, não é mesmo? – que ela se lembra da promessa que fez com a nostálgica Haruka, a qual até pode ser considerada vaga, mas que para as duas simboliza o sustentáculo dessa bela amizade e já faz parte de quem elas são.

Ao aceitar a reabilitação a Tachibana constrói uma nova página em sua vida.

O episódio todo trabalha dentro da expectativa de um desfecho impactante para finalizar de alguma forma a história, e ele entrega uma excelente conclusão na qual tanto a Tachibana quanto o Kondou têm algo a compartilhar um com o outro, mas entendendo que esse final deveria muito mais entrar no campo da subjetividade do que apontar resoluções definitivas sobre coisas como o romance ou a vida dos personagens. Foi um momento especial com uma abordagem visual complementar ao texto que desejavam expressar. Aliás, esses momentos especiais tiveram um forte apelo, sendo fáceis de distinguir visualmente, o que foi um ponto positivo do anime, pois muitas vezes pouco ou nenhum diálogo era necessário para que uma cena entregasse aquilo que ela se propôs a entregar com uma riqueza de detalhes e/ou uma atmosfera criada magistralmente para extrair o máximo da situação.

…basta que recordemos as boas lembranças que guardamos dentro de nós.

Em um episódio no qual as escolhas dos jovens para os seus futuros, mesmo que de uma forma até tímida, vêm a pauta, utilizar o Kondou enquanto alguém que ainda está tentando construir um futuro para si mesmo já tendo vivido grande parte da vida – influenciado a isso pelo impacto que a Tachibana causou nele – foi uma escolha inteligente, pois deu base para que a promessa do Kondou para com a literatura – algo que ele sempre desejou para o seu futuro – se aproximasse do momento pelo qual a Tachibana estava passando, em que ela não só teria que decidir um plano de carreira – para isso definir o que a pessoa gosta ou não de fazer é extremamente importante –, mas também se daria a si mesma uma segunda chance nas pistas – o mesmo tipo de segunda chance que o Kondou está dando a sua escrita, com a chama agra reacesa pela jovem garota que o inspirou.

Após fechar o ótimo flashback que as amigas dividiram, o que temos é esse necessário e belíssimo momento em que a Tachibana e o Kondou contracenam pela última vez no anime, em que eles agora compartilham uma promessa própria, a de que contariam um para o outro o que queriam realizar após terem alcançado seus objetivos. Isso os dá uma motivação a mais – pois um é importante para o outro – e, de certa forma, torna os dois amigos confidentes, um ainda mais especial para o outro sem que haja a necessidade de um envolvimento amoroso. Na verdade, com a Tachibana passando pela reabilitação e depois voltando a correr ela terá menos tempo para conviver com o Gerente e naturalmente essa paixão deve dar lugar a mais desse novo e belo sentimento de amizade que eles construíram juntos, no qual não importa a idade, uma pessoa é capaz de enxergar na outra o que ela não tem ao mesmo tempo em que dá um pouco do que tem para ela. É uma experiência de vida, de troca constante, na qual ela ganha maturidade, ele recobra esperança.

Um personagem apaixonante! Torço muito para que o Kondou-san realize seu sonho!

Mesmo que esse não seja um final exatamente igual ao do mangá e que ainda tenha mais história que poderia ser contada, acredito que a produção da adaptação conseguiu extrair o melhor do material original e nos entregar algo que se fecha de forma excelente sem carecer de definições propriamente ditas. Nada mais adequado para um trabalho de arte muito pautado nos pequenos detalhes, nas nuances que evocam a capacidade de interpretação e na imaginação do telespectador.

Imaginação que é necessária para apreciar o belíssimo e singelo final em que a Tachibana volta a conversar com a Haruka e o Kondou dá ao seu livro o título do anime – pelo que vi me pareceu ser isso mesmo. É um final que nos diz “vá e imagine o resto”, e deu toas as indicações possíveis e imagináveis de que o amor da Tachibana enquanto paixão não dará certo, mas que existem muitas outras belas e gratificantes formas de amor que muito agregarão a vida dessa amável protagonista.

O anime de Koi wa Ameagari no You ni disse tudo o que queria dizer em seus doze episódios, disse tudo o que precisava dizer sobre a história da jovem e apaixonada Tachibana e do simpático senhor Kondou. Um amor que muito agregou às suas vidas, uma história que foi além das estruturas do romance e se tornou combustível para reacender as chamas de suas almas estagnadas. Me sinto estagnado e angustiado por não poder falar mais sobre um episódio do anime, mas devo escrever uma introdução e uma resenha dele em breve, até como forma de apaziguar o meu coração alegre por ter tido o prazer de acompanhar uma história tão gratificante e bem produzida, um digníssimo trabalho de arte que com certeza deixou uma impressão única em minha memória e meu coração.

“Vou lembrar daquele que me ensinou sobre o futuro. Toda vez que ver o céu depois da chuva.”

  1. Como o anime terminou em aberto, este final não me agradou, torço pelo envolvimento romântico do Masami e Tachibana-chan que eles namorem, façam sexo e se casem, o que um final aberto dá margem a esta interpretação. Agora muitas pessoas elogiaram a personalidade do protagonista Masami por ele sempre ter negado as investidas amorosas da Tachibana-chan, me pergunto se tivesse sido outra abordagem para o Kondou em que ele cederia a Tachibana-chan, fizesse sexo com ela e começaria um namoro secreto até ela completar a maioridade para então namorarem oficialmente e enfrentarem a sociedade e seus preconceitos, algumas pessoas iriam considerar a obra fetichista? tenho certeza que sim, mais de todo modo, o mangá é escrito por uma mulher então considerei este final previsível.

  2. É…Acabô…
    E foi nobre, foi sublime, foi justo, foi excepcional!
    O Masami foi o cara! Foi um cavalheiro na verdadeira acepção da palavra!! Kondousan aquela breja anytime bro!!!
    Bem em resumo: duas almas perdidas procuram preencher um vazio causado por aquilo que mais amavam…E só mostraram aquilo que dois seres humanos tem de mais valor: que é a compaixão…
    E não vou mais me delongar o Kakeru17 já falou tuuuddooo!!!

    Mas faltou mais Yoshizawa e Yui….E adoraria ver a ex do Kondousan…
    No mais esse foi um 10/10…
    E o que teremos na temporada de primavera?

  3. boa review, só pra avisar de um pequeno erro de digitação, no final, no paragrafo abaixo, digitou “toas”
    em vez de “todas”, logo após “vá e imagine o resto”.
    “Imaginação que é necessária para apreciar o belíssimo e singelo final em que a Tachibana volta a conversar com a Haruka e o Kondou dá ao seu livro o título do anime – pelo que vi me pareceu ser isso mesmo. É um final que nos diz “vá e imagine o resto”, e deu toas as indicações possíveis e imagináveis de que o amor da Tachibana enquanto paixão não dará certo, mas que existem muitas outras belas e gratificantes formas de amor que muito agregarão a vida dessa amável protagonista.”

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