Você gosta de zumbis? Não é muito exigente com um roteiro, né? Gosta de garotas fofas? Então esse filme de anime, adaptação de light novel, é para você! Aru Zombie Shoujo no Sainan, ou Calamity of the Zombie Girl, não é muito diferente do que você já deve ter visto em algum filme dessa temática, mas ainda detém um certo brilho, apesar de apresentar vários problemas. Comentarei ambos agora!

Nada como ver um jogo entre imortais do basquete, não é mesmo?!

O filme começa com um clube de ocultismo que faz o que clubes geralmente fazem nesse tipo de história: besteira. Enfiar a mão em uma múmia e surrupiar uma joia não é só bizarro e nojento, mas também aponta o desequilíbrio mental da personagem Kamoshida, capaz das maiores sacanagens para beneficiar o amado. Essa foi só a primeira dentre as várias escrotices que quase todos – excluo apenas o zelador disso – os humanos vivos presentes no filme aprontam. E as garotas zumbis, elas não têm culpa no cartório? Para quem já está morta e foi roubada elas até que foram bem bacanas.

A personagem principal, Eufrosina, possui em seu corpo um objeto chamado de joia da alma, o qual a garante uma alta capacidade de regeneração e uma força sobre-humana; já sua companheira, Alma, tem um corpo bastante frágil em comparação, mas possui a habilidade de se alimentar de uma parte da pessoa e se transformar nela. Ao longo do filme é revelado que séculos atrás Eufrosina faleceu, mas seu pai usou de magia para fazer com que ela voltasse à vida e não fosse mais capaz de morrer – algo possibilitado pela presença do artefato em seu corpo. Quanto a Alma, acredito que ela possua uma réplica da joia em seu corpo ou algum outro dispositivo que desempenha a mesma função dela.

Com o roubo da joia, elas despertam e ao irem em sua busca se deparam com humanos desprezíveis que colocam seus interesses pessoais acima das vidas dos próprios companheiros e não titubeiam em fazer reféns, chantagear ou ludibriar as garotas zumbis que só queriam de volta aquilo que lhes foi roubado. Tudo bem que os métodos delas não foram assim tão razoáveis – na verdade, elas ainda pediam antes de partir para a violência –, mas temos que ver que se tratam de seres que não são mais humanos, que têm uma forma de viver e enxergar o mundo completamente diferente. Ainda assim, demonstraram mais dignidade que os estudantes, o professor ou a adorável irmãzinha dele.

E o que saiu disso? O óbvio e esperado, uma sequência de mortes muito boas, tanto pelo gore bem feito, quanto pelas circunstâncias. O que tentou se aproveitar da Eufrosina foi mutilado e decapitado, o que tentou conseguir sua segurança em troca da dos colegas morreu com um vazo esmagando sua cabeça, a que lutou por vaidade ao kung-fu que aprendeu morreu levando uma surra, a que fez tudo pelo professor foi morta pela irmã dele, etc. Mais à frente comentarei as outras mortes, mas posso garantir que tirando o zelador – que não fez mal a ninguém – todas elas foram merecidas. Houve até quem não morreu e isso foi coerente, pois a personagem foi extremamente passiva o filme inteiro.

Os seres humanos serem escrotos, cada um a sua maneira, em si, não é um problema, pelo contrário, pois costuma ser interessante ver o que levou alguém a ter um caráter torto desses, só que isso não acontece nesse filme e esse é justamente o grande problema dele. Tudo é muito raso, tudo gira muito em função apenas do momento presente, sem construção prévia para quase nada, seja relacionado aos personagens ou ao mundo em que estão inseridos. Isso é compreensível devido a duração do filme, o problema é que, ainda assim, não é uma justificativa que isente a produção dessa crítica. Já vi lançarem anime de temporada com apenas 6 episódios, então fico me perguntando: será que com uma duração maior e com os acontecimentos mais bem divididos e personagens mais bem trabalhados, esse filme não teria sido melhor? Acredito que sim, mas provavelmente sairia mais caro, só que anunciaram essa adaptação desde 2012, então não daria para rolar um Kickstarterzinho não?

Invejo quem perde a cabeça e ainda sabe lidar bem com a situação.

Deixo aqui minha indignação com aquele que considerei o maior problema do longa, porque é muito personagem cretino para pouco background que justifique as atitudes deles. Mas não é só isso, essa profundidade também era importante para contextualizar os vilões da história. Na verdade, todos os humanos que cruzaram caminho com as garotas zumbis foram vilões de alguma forma – repito, só o zelador morreu de graça ali –, o problema é que o professor e a irmã deviam ter mais importância, pois havia uma desavença familiar envolvida, mas justo eles foram os mais mal desenvolvidos de toda a trama, já que não houve qualquer indício que apontasse o parentesco em comum entre eles e as garotas zumbis, o que tornou o plot twist no final do filme algo praticamente “tirado da cartola”.

Não que não fizesse sentido, praticamente tudo passou a fazer sentido quando foi revelado que eles faziam parte da mesma linhagem, o problema é que isso não pode ser apenas jogado no finzinho da trama, principalmente se for para conferir uma relevância que o telespectador até deveria esperar que houvesse, mas que não foi bem trabalhada no que se referia àqueles dois personagens.

A história começa com os integrantes do clube de ocultismo e acompanha eles até suas mortes, além de mostrar as falhas de caráter deles através de suas ações; as protagonistas têm o mínimo de desenvolvimento e duas ou três boas e necessárias revelações feitas sobre o passado delas ao longo da trama; mas quanto ao professor e a irmã praticamente nada é falado ou feito, eles mal aparecem, apesar de ser fácil de entender que eles seriam importantes para o desfecho da história, não dá para saber porque eles são assim, como pararam ali, quando tiveram a brilhante ideia de continuar o legado do descendente escroto deles sendo tão escrotos quanto ele foi, etc. É tudo muito raso e não poderia ser. Ao menos a Eufrosina e a Alma foram bem simpáticas, muito mais agradáveis de acompanhar – fizeram por onde merecer a minha torcida – do que a todos os outros personagens.

O final é bom dentro daquilo que o filme apresentou, mas não salva o longa de ser ruim, ou se não ruim, no máximo mediano.

Outra coisa que comentei anteriormente é que a personagem que ficou viva foi tão irritantemente passiva ao longo da trama que não imaginava ela tendo outro desfecho. Não posso deixar de comentar que considero passividade tão ruim quanto, talvez até pior, que uma ação , porque é omissão, é conivência, é aceitação de algo moralmente errado se aquilo favorecer a pessoa.

Com palavra de especialista não se brinca, viu!

Os estudantes, o professor e a irmã demonstraram diversos desvios de caráter – e não só isso, aquela irmã devia ser uma psicopata, né –, alguns mais pesados que outros, mas, no geral, todos tiveram mortes condizentes com seus personagens. Um perdeu o braço que devia usar para se masturbar observando garotas fofas, o outro perdeu a cabeça por causa de um vaso por ser uma m*rda de ser humano, a outra morreu de uma forma violenta enquanto treinava artes-marciais, a outra teve o rosto – que tanto devia adornar para o namorado – atravessado, o professor que brincou com o coração alheio perdeu o seu e a sua irmã – a mais degenerada de todas – foi a que acabou mais esfacelada.

As mortes foram mesmo um show à parte, talvez o grande acerto – e um dos poucos – desse filme. A animação não foi espetacular, mas entregou boas cenas de ação. O design dos personagens até que demonstrou um pouco de personalidade – principalmente por causa do contorno dos rostos. A trilha sonora não foi ruim, mas também não se destacou em praticamente nenhum momento. O roteiro foi raso e muito previsível em sua maior parte – quando não foi, isso acabou sendo um defeito pela falta do necessário foreshadowing –, além de ter tido muitas conveniências nele – não tinha mais ninguém naquela universidade não? –, mas as garotas zumbis foram simpáticas e tornaram o filme, de algum modo, divertido de assistir. Indico Aru Zombie? Não se você for bastante exigente quanto aos pontos que considerei problemáticos na adaptação. Se for, e gostar de zumbis, veja pondo sua vida em risco!

Ao menos a alma dessa história não foi perdida! #CuteZombieGirlsForTheWin

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