Ainda que a metalinguagem apresente que Jashin-chan foi invocada a partir de um grimório adquirido por Yurine em um sebo, a ausência de informações sobre o passado das protagonistas pesa enormemente. A loli gótica é uma sádica que tem prazer em tortura Jashin-chan, mas ela se mostra atenciosa e gentil com as outras personagens, principalmente com Pekora. Acredito que a série tem a ganhar com uma exposição sobre a relação de Yurine e a loira-serpente. Um mini flashback talvez resolva a questão. Será que Yurine é brutal com Jashin pelo simples motivo da demônio ser capaz de se regenerar? Por enquanto Jashin-chan Dropkick parece um cão que tenta morder o próprio rabo e não sai do lugar. Pelo menos há a revelação de Minos e Jashin serem amigas de infância. Mas a maior participação da minotauro – um personagem bem simpático – no episódio evidencia que também ela é uma agressora de Jashin, só que involuntária. Um tipo de amiga que não mede as consequências de seus atos.

O início do episódio 5 recorre de modo instigante à metalinguagem, denunciando o anime como um anime. Enquanto Jashin-chan se surpreende com o fato, Yurine dá pouca importância. No segundo episódio, a loli faz um comentário sobre a Flex Comic, que publica o mangá, não valorizar financeiramente seus talentos, ao qual Jashin não compreende e fica completamente perdida. Por mais que a série saiba não se levar a sério, as brincadeiras metalinguísticas perdem o seu impacto, já que há um desequilíbrio no que tange ao seu humor.

Somos um anime? Sim, querida Jashin-chan!

A presença de Minos no episódio é de maior duração se comparado aos anteriores e ainda traz a revelação de que Medusa, Jashin e ela são amigas de infância. Porém, se Medusa é o afeto em demônio, Minos é imprudentemente violenta, já que seus passatempos sempre terminam com a loira-serpente quebrando ossos ou sangrando em abundância. Minos é mais uma a promover sofrimento físico a Jashin, mesmo que de maneira não proposital. No entanto, ela responsabiliza a amiga pelos incidentes, haja visto que a considera fraca.

A fofa Minos presenteia Yurine com uma mandrágora. A loli sádica amou, claro!

Aqui, mais uma vez a questão de que tipo de demônio é Jashin se faz relevante. Até o momento, ela não demonstrou seu poder sobrenatural e não consegue se defender de ninguém. Seu dropkick é facilmente defendido por Minos, que usa tão somente seus exuberantes seios para realizar a tarefa. Jashin é, de certo, cruel, estúpida e vulnerável, contudo mostra-se necessário a confirmação de que Yurine possa ter cometido um equívoco em seu ritual de invocação, já que a loira-demônio é tachada de inútil pela sua “mestra” sempre que há oportunidade.

Sobre a participação de Minos, ela presenteia Yurine com uma mandrágora, uma planta/criatura que pode levar aqueles que ouvem seu grito à loucura e à morte (cena que faz recordar Flying Witch, quando Makoto dá uma mandrágora a Nao). Como esperado, Yurine se encanta com o presente, e como esperado, Jashin-chan acaba por cometer algum desastre e é vítima mais uma vez de Yurine. É uma sequência que tem seus momentos cômicos e a presença de Minos, que garante alguma diversão.

Novamente temos o trio Yurine, Pekora e Jashin envolvidas com a tríade fome-solidariedade-crueldade, que sempre termina na tortura de Jashin e com Pekora saciando momentaneamente seu estômago. Desta vez, um pouco mais desenvolvido, com a vida paupérrima da anjo – que não consegue recuperar sua auréola – em foco. Ela mora em uma casa de papelão em uma praça, conta com o senso de humanidade de Yurine, mas permanece em seu dilema: aceitar ou não o oferecimento de uma bruxa. É engraçado o seu contorcionismo intelectual para encontrar uma justificativa para comer o alimento que a loli lhe traz.

Pekora sonha com dias melhores… ou com um passado de fartura.

O interessante no segmento é que em sua continuação Pekora é apresentada ao fundamento do lucro do capital: exploração, salário baixo e falta de segurança. Como ela é contratada sem a verificação de seus antecedentes e seus colegas são dos tipos mais perturbados, pode-se dizer que a empresa não é nem um pouco idônea.

Pekora passa o inferno na terra. A alegria de Minos com o seu trabalho de entregadora de jornal contrasta com o abuso e falta de reconhecimento com que a anjo se depara. Pekora sonha com um banquete celestial, mas no fim o que ela encontra é vida de assalariada, Jashin-chan bêbada, deitada no próprio vômito, e sua casa de papelão destruída. É raro acertar o timing do humor com um ser explorado, sempre no limite entre a crueldade e a denúncia. O valor crítico dessa sequência está no possível abandono divino, mas uma estrela cadente faz ressurgir a esperança em Pekora atenuando uma reflexão mais significativa.

Pekora conhecendo a dignidade do trabalho humano.

Um dos grandes problemas é Mei Tachibana, que se mostra uma biruta de carteirinha, colecionadora de objetos com os quais se fascina e deseja ardentemente possuir. Pode ser uma placa com horário dos ônibus ou um boneco simbolizando o Halloween. E assim descobrimos que Jashin é um objeto colecionável para a policial. O seu jeito pegajoso, obsessivo não tem relação com as tsunderes e yanderes que podem tornar os animes divertidos (ou não). Não é amor que a faz se apegar a Jashin, mas consumo, da diferença como consumo, reduzindo-a a item a ser objetificado, dominado e mantido como posse.

A policial e o seu “amor” destrutivo: por que Medusa não apresenta seu poder demoníaco a rival?

O episódio 5 de Jashin-chan Dropkick transita melhor em seus absurdos, mas não consegue envolver pois que falta caracterizar seus personagens. Há algo de masoquista em Jashin, assim como, apesar da frieza e do sadismo com Jashin, Yurine tem sentimentos fofos e nobres. Mas como estão, elas permanecem rasas. E as figuras secundárias estão sempre enfrentando os mesmos dilemas. Que o próximo episódio possa ser mais divertido, com os insucessos de Jashin em assassinar Yurine em plena forma e com um pouco mais de desenvolvimento das personagens, com os laços entre as garotas se aprofundando e o duo humor-violência sendo mais eficiente e prazeroso.

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