O sexto episódio de Jashin-chan Dropkick consegue apresentar algo diferente em relação aos anteriores, mesmo que ainda não obtenha seu selo “Capaz de alegrar um dia cinza”. O que chama atenção no episódio é um melhor desenvolvimento de sua estória, principalmente envolvendo Jashin-chan, que viaja ao passado, direto para o inferno, e é solidária a Pekora, embora isso ocorra por vias tortas, a partir do curry derramado. Não desperdice curry na frente da loira-serpente, se não quer ver finalmente seu dropkick funcionar. O episódio tem bons momentos, diverte, apesar de não produzir nenhuma sequência impagável.

O primeiro segmento traz o elemento que fechará o episódio: o curry. É uma circularidade curiosa. No começo, temos Jashin-chan preparando curry para o jantar com Yurine. O prato se repete por três dias seguidos, alterando, porém, o tipo de carne. Jashin e a sua mestra parecem estar em perfeita harmonia. A demônio cuida da casa da loli gótica sem grandes reclamações. Algo notável é que o anime vem escapando da armadilha do esquematismo, de ser Jashin tentando matar Yurine, falhando e sendo brutalmente castigada. Se, por um lado, abre espaço para desenvolver personagens e gerar novos conflitos, relações e situações, de outro, pode-se perder o foco e o desejo de Jashin-chan de voltar para o inferno, deste modo, a mistura de humor com a violência gráfica ser relegado a segundo plano ou esquecido.

A festa do curry promovida por Jashin-chan. Vamos variar o cardápio, loira-serpente?

Cozinhando curry, Jashin abre um portal direto para o inferno, devido ao movimento da concha, ao sacrifício das partes retalhadas da galinha e a música que canta no momento (em suma, uma bruxa com o seu caldeirão), voltando 7000 anos no tempo, para depois do grande Dilúvio – Noé e sua arca –, reencontrando a versão infantil de Medusa, Minos e dela. Todas adoráveis e tratando muito bem a Jashin-chan adulta.

Propaganda é a alma do negócio: Yurine se relacionando com a Amazon.

Jashin quer voltar logo para a Terra. Só que não apenas pelo fato de Yurine ainda estar viva, mas porque é o lugar onde ela quer estar. A série parece distante de um possível confronto entre Jashin e Yurine pela sua liberdade. No episódio, ela retorna para a terra graças ao ritual promovido pelas pequenas demônios.

Muito pouco do trio é mostrado no tempo presente, isto é, mal aparecem juntas. Será um ganho para o anime uma aproximação mais efetiva de Minos de Jashin e Medusa, por mais que a minotauro seja do tipo sem noção, “involuntariamente violenta”.

Fofurices acima de qualquer suspeita: o trio mirim infernal formado por Jashin, Medusa e Minos.

Jashin retorna para receber o castigo de Yurine por sumir e por destruir o jantar, já que “aterrissa” na mesa derramando o curry. Este é o único momento em que a dinâmica de desafio e agressividade entre as protagonistas se faz presente no episódio. A loira-serpente não tenta matar Yurine uma única vez, parece já conformada com a sua situação e ambientada.

No segundo segmento, Jashin rivaliza com as irmãs demônios do gelo, Yusa e Koji, na venda de raspadinha (gelo e caldo de fruta). É uma parte pouco inspirada, que utiliza erros no cálculo no que concerne a custo e produção e a competitividade exacerbada de Jashin-chan para produzir sua comicidade.

Jashin-chan em uma rivalidade unilateral com as irmãs demônios do gelo.

Além disso, no final, com a ausência de um certificado de permissão dado pela máfia, a demônio é levada por dois capangas, que insinuam que ela pode ganhar dinheiro com o corpo e revelam fetiche (é legítimo pensar que, mesmo para um programa que explora a violência, seja uma imagem despropositada). Yurine, como esperado, não protege Jashin (limita-se a sentir prazer imaginando as sevícias que serão infligidas a loira-serpente). Talvez os próximos episódios venham prestar conta do que porquê a loli ser sádica tão somente com Jashin.

A máfia colocando um ponto final no sonho empresarial da loira-serpente.

A última parte envolve curry, é um passo adiante na relação entre Jashin e Pekora e apresenta uma nova personagem, a cruel e ambiciosa anjo Poporon.

A ex aprendiz recém-promovida a anjo quer eliminar Pekora para continuar a desfrutar dos privilégios da função. Mais uma personagem demente para a coleção. Poporon é a típica vilã que acaba por unir rivais. Ela derruba o curry que Jashin leva, a mando de Yurine, para Pekora. O que provoca uma furiosa reação da demônio, que atinge com uma voadora Poporon – por fim, atira-a no mar.

Poporon, a angelical vilãzinha. Pobre Pekora, sem auréola e com Jashin-chan como sua salvadora.

É curioso ver Jashin-chan vencer um embate, algo improvável dado a sua fragilidade. E quanto a Pekora, mais uma vez é salva ou amparada – tendo sua fome saciada momentaneamente – por aquelas que julga maléfica, ou Yurine, a bruxa, ou Jashin, a demônio. Uma ironia (com inversão de papéis e expectativas) que ainda funciona na série, lembrando vagamente Gabriel DropOut (2017), apesar de ainda estar distante da qualidade da série do Doga Kobo.

Não mexa com meu curry!

Falta a Jashin-chan Dropkick revelar mais de suas personagens, ao mesmo tempo apostar em certa ambiguidade e apresentar menos esquetes repetitivos. A comédia sobrenatural pode usar de modo mais inteligente sua base humor-violência, com uma vilã patética e mais clássica, que Poporon pode vir a fazer, com Jashin, enfim, mostrando força, e mais nuances da personalidade de Yurine, algo que a série precisa urgentemente.

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