Mais um capítulo da amizade entre Jashin-chan e Medusa. Amor que beira à devoção, crueldade e oportunismo, mágoa e rápida conciliação, além de Jashin não ser honesta com seus reais sentimentos são os elementos que formam essa ligação de mais de 7000 anos. Nesse episódio, depois de uma imensa bobagem, com direito à ofensa pesada, a loira-serpente conserta a sua improbidade sendo mais carinhosa com Medusa do que nos tropeços anteriores. Ainda que a relação delas seja a mais sólida da série, a amizade não é muito saudável, pelos motivos elencados acima. No entanto, é o melhor do show, apesar de passar ao largo do terrir e estar mais próximo do “cute girls doing cute things” (com linguajar mais grosseiro). Só que a repetição de uma situação a torna cansativa, e essa sensação é ampliada quando outras personagens são subdesenvolvidas. O episódio 7 tem seus momentos inspirados de comédia e de fofura, mas a mistura pastelão e sangue começa a deixar a desejar.

Poporon, a anjo que veio a terra assassinar Pekora, assume de vez a pecha de vilãzinha. Sua tentativa de revanche contra Jashin-chan fracassa, com direito a ter sua auréola devorada pela demônio. Nas relações de força do anime, anjos e demônios estão em desvantagens nessa balança quando comparados aos humanos. Yurine e Mei são mais perigosas e insanamente excêntricas que os seres sobrenaturais.

Jashin-chan come a auréola de Poporon. Enfim, a loira-serpente mostra o seu valor.

A sequência comprova que Poporon é uma anjo malévola, porém não muito sagaz. Agora ela está nas mesmas condições de Pekora, que sem poderes e sem dinheiro (provavelmente) vaga faminta por Tóquio. Há ainda uma referência a Dragon Ball, que garante certa diversão ao mini esquete.

Isso lembra algo… Jashin-chan só nas referências.

A principal história do episódio reúne Jashin-chan e Medusa em mais um de seus entreveros. No entanto, dessa vez, a loira serpente pega pesado com a górgona. Em um ataque de ciúmes a chama de vadia e quer saber quem é a amiga com quem Medusa anda se encontrando. Contudo, a tal amizade é inventada, criada para despistar Minos, para que não saiba que Medusa está trabalhando em dobro para emprestar (leia-se, dar) dinheiro a Jashin-chan. A demônio é virulenta nos impropérios direcionados à amiga.

O ressentimento de Jashin é tão intenso que faz Medusa chorar, mais uma vez. Até Yurine se surpreende com a crueldade da demônio, a ponto de se decepcionar e desprezá-la. O comportamento irascível de Jashin somente reforça que ela é o tipo de amiga tóxica. Porém, essa não é toda a verdade do relacionamento, já que Medusa aceita tudo por se sentir (e principalmente querer) a única pessoa capaz de cuidar e consolar Jashin (com a impressão de um subtexto yuri). A via de mão dupla que compõem uma amizade, entre elas funciona de maneira inversa aos que os especialistas aconselham e definem e as pessoas esperam.

Yurine encarando Jashin-chan: a expressão de quem está te considerando a coisa mais desprezível do mundo.

Antes da reconciliação, Jashin recebe um presente de Satanás-sama, por ter subido de nível, isto é, comido o halo de um anjo. Uma espécie de poção fétida como prêmio pelo seu ato de bravura. E para sua surpresa, a recompensa são pernas, a possibilidade de se assemelhar a uma humana.

Medusa tem uma surpresa também, lentes que a impedem de petrificar as pessoas. O encontro delas ocorre nos principais pontos de Tóquio, como Shibuya e Harajuku. Com Jashin sendo doce o tempo todo com Medusa, realiza o principal desejo da amiga, que é o de ter a sua atenção por um longo tempo e somente para ela. No mais, as lentes resultam em fracasso, com um efeito colateral irônico, começando a petrificar a górgona, Jashin consegue se vingar do vendedor do produto e carrega Medusa em suas costas, em um belo gesto.

Jashin-chan dificultando o trabalho do desenhista. Mais uma vez, a metalinguagem se fez presente.

A encenação na parte de final, em que Medusa perdoa (e perdoa sempre) após um simples gesto de Jashin-chan, não deixa de ser romantização de uma amizade que têm seus problemas. A loira serpente vem sendo cruel e oportunista. O que a salva é a nitidez de seu desespero quando percebe o sofrimento de Medusa, por isso é possível afirmar que ela não é honesta em relação aos seus sentimentos. Porém, uma pergunta que se faz pertinente é se essa dinâmica suporta mais capítulos, sem que outras personagens sejam desenvolvidas a contento.

A dupla está feliz. Uma amizade problemática? Uma bela amizade?

Em seguida, Jashin quer aproveitar a força de suas pernas para eliminar Yurine, mas, como esperado, falha, só que dessa vez por causa do fim do efeito da poção de Satanás-sama. Ser bípede, na verdade, tinha prazo de validade. Pelo menos o mote da série – Jashin querendo matar sua “mestra” para retornar ao inferno – permanece aceso, mesmo que sem brilho.

Um dos momentos mais bonitos da relação Jashin-Medusa.

A combinação garotas fofas e coisas sangrentas começa a dar sinal que precisa de um novo elemento, talvez um desenvolvimento menos espaçado de Yurine, investir na rivalidade Jashin-chan/Poporon e mesmo na amizade do trio Medusa, Minos e Jashin.

O sétimo episódio faz um bom trabalho no quesito humor, mas deixa claro a necessidade de ressoar um toque de alerta, para que o slapstick e o gore efetivamente caminhem lado a lado, e que as personagens não fiquem presas a repetições e arquétipos que as impeçam de avançar.

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