Asobi Asobase – ep 8 – Bactérias, punições, virgens e Hanako
O 8º episódio de Asobi Asobase apresenta todas as qualidades demonstradas pela série até o momento: algo tão cotidiano que é engolido por uma espiral de loucuras, o exagero e a intensidade de suas protagonistas e a consciência dos limites de cada esquete. Muitas vezes o desconhecimento a respeito de um assunto e um mal-entendido são adicionados ao pacote. O episódio não recorre tanto ao elenco secundário, o que prova que as passatempeiras funcionam soberbamente quando o trio deixa o trilho do humor escrachado descarrilhar… com efeito arrebatador.
Hanako brilha intensamente com o seu descomedimento e suas tolices. É fantástico como a garota amplifica qualquer desafio ou pequena paranoia. Os três segmentos do oitavo episódio têm Hanako no centro das confusões. Para sua seiyuu, Hina Kino, uma personagem dessas deve ser um verdadeiro presente dos deuses da comédia.
No primeiro esquete, Olivia está entretida com um jogo de smartphone. Hanako pensa se tratar do Pokémon Go, mas, para sua surpresa, é um jogo em que se captura bactérias que estão ao redor – com sensores para verificar o espaço e detectar micróbios. Como esperado, Hanako se envolve além da medida, entrando em pânico com as descobertas que o jogo proporciona sobre a existência e quantidade de germes. Desde a presença de mofos em sua garrafa de água até fezes em sua revista – pelo gato esfregar a bunda na publicação – são encontradas por uma entusiasmada Olivia. Kasumi é a mais higiênica das meninas, nenhuma bactéria é encontrada entre os seus pertences.
Uma das coisas a se destacar no episódio é que Hanako descobre que pontos de interrogação vermelho indicam o local onde uma maior quantidade de bactérias está presente, e são justamente as axilas de Olivia que comportam uma verdadeira criação. Hanako disfarça, porém Olivia não tem a mesma discrição ao apontar os coliformes fecais no rosto da amiga (já que Hanako havia passado em sua bochecha esquerda a revista).
Isso é algo que o programa realiza com naturalidade: a falta de tato e as alfinetadas. Outro apontamento diz respeito ao fato de Hanako fazer menção a Maeda sempre que possível, principalmente quando envolve algo estranho como batizar um germe. A excentricidade de Maeda tem tudo a ver com os excessos de Hanako.
A segunda parte do episódio evidencia como funciona a mente de Hanako. É um tour de force cômico, em que o descontentamento com um vestido (realmente bizarro, que lembra vagamente o vestido de cisne usado por Bjork no Oscar 2001) conduz a uma conspiração para matar virgens. O absurdo começa com Hanako descobrindo seu extravagante gosto para a moda, porém em vez de realizar uma autocrítica, ela liga para Kasumi a fim de perguntar por qual razão a amiga disse que o vestido é bonito. Assustada e pressionada, Kasumi aponta Olivia como a dona da frase. A jovem sente o “transtorno emanado” pela amiga. Jogar Olivia no fogo é a única solução que lhe vem à mente (ela se sente mal por fazê-lo).
Quando Hananko telefona para cobrar Olivia, a conspiração surge, com o termo “matar virgem”, que a menina associa ao vestido de Hanako, sendo mal interpretado. O efeito causado nos rapazes otakus ao ver uma garota com poder de sedução (pelas roupas que usa) se transforma em algo que envolve uma missão religiosa e artimanhas do governo para escondê-la. As referências vão de Lupin III a Mad Max, quando Hanako imagina um cenário pós-apocalíptico. Esse é o risco do entendimento literal. O fato de Hanako ser bastante empolgada dificulta a sinceridade de Olivia e Kasumi e colabora para o humor do programa.
O terceiro segmento é devastador, com tudo saindo do controle e envolvendo algumas das personagens secundários. A partir da facilidade com que Olivia memoriza um jogo de cartas – já que ela não é uma aluna aplicada –, a desconfiança de Hanako e Kasumi (que acreditam que Olivia é sortudo e querem testá-la) fazem-nas jogar sugoroku, um jogo de tabuleiro, que tem punições e recompensas, só que a versão que jogam – modificada, claro, por Hanako e Maeda – só tem castigos, os mais constrangedores possíveis para as meninas. Na verdade, não tão vexaminosas assim, mas como o que manda é o exagero, então há que ser excessivo também no drama.
O jogo expõe a força e a dignidade das garotas, e Hanako leva o jogo a outro patamar, quando fica séria e provocativa em um momento, e em outro, sádica. As penalidades vão de imitar um cachorro mijando, com Kasumi super envergonhada, engatinhar no corredor, punição que Olivia cumpre como se fosse uma barata atarantada, e fazer uma posição de cachorrinho, que Hanako confunde com algo sexual.
O melhor do jogo corre fora da sala, quando Olivia “engatinha” e encontra no caminho a presidente do Conselho Estudantil, que realiza uma disputa bípede versus quadrúpede com a garota, que só quer fugir da situação o mais rápido possível. Mas o ponto alto é mesmo a participação do professor, que presencia um trava-língua em inglês (Olivia), uma imitação de Sailor Moon (Hanako) e um golpe provindo de Dragon Ball (Kasumi). Confuso, ele acredita que precisa entrar na brincadeira (um bom professor) e recebe o ataque de energia de Kasumi, o kamehameha, atirando-se ao chão e se contorcendo na queda. Elas agradecem a participação dele, que se arrebenta todo em nome da docência.
O engraçado do esquete é como tudo sai do controle e o desespero e a vergonha aumentando de penalidade em penalidade. Ao testar a sorte de Olivia, as estudantes chegam às raias da humilhação. Algo que Asobi Asobase realiza com primazia é como uma brincadeira ou desinformação ganha contornos épicos no que diz respeito ao absurdo, e a escala parece não ter fim. A questão é que Olivia usa um truque para memorizar as cartas – um artifício ou trapaça – e as meninas a tomam por sortuda e para comprovar a teoria atingem níveis impensáveis de situações constrangedoras.
Asobi Asobase consegue um feito extraordinário ao se concentrar em seu trio de protagonistas nos três segmentos. Normalmente, nessa altura, sempre tem um rouba-cena ou a necessidade de expandir, já que o humor de um núcleo central começa a se desgastar ao longo dos episódios. Asobi Asobase conhece o seu material e o trata com cuidado, sem desperdiçar e ainda acrescentando novos elementos (a atitude da presidente do Conselho Estudantil de competir com Olivia é um deles). O episódio oito é impagável e “dramático”. Hanako, Olivia e Kasumi continuam falhando e forjando sua bela amizade, e a cada vez, tornando-se melhores nisso.