Kaze ga Tsuyoku Fuiteiru – ep 5 – Os escolhidos (de Haiji)
Bom dia!
Uma coisa que Kaze Fui vem se esforçando para fazer desde o começo é dar tempo de holofote para todos os seus personagens. Nem todos conseguem brilhar, claro, mas em poucos episódios já conhecemos todos e temos uma boa noção sobre suas personalidades e motivações.
Para um anime com uma equipe de dez principais, sendo dois deles protagonistas, isso é bastante. Se será o bastante ao final ainda está para ser decidido, porém.
O conflito principal do episódio foi o do Rei, que está se formando e precisa já pensar em emprego e essas coisas chatas de adultos. No momento, ele é quem mais se opõe ao Haiji, e por razões práticas.
Do outro lado do espectro, Shindo é o apoiador mais ardoroso da ideia de correrem a Hakone Ekiden. A lábia do Haiji funcionou, e o rapaz quer muito mostrar para os pais do que é capaz.
Seu entusiasmo contagia e finalmente convence Musa a também querer participar. O estudante de intercâmbio não tinha nenhuma motivação pessoal muito forte para querer correr, e no geral parece do tipo tímido e que quer à todo custo evitar chamar atenção.
Talvez ele não seja naturalmente tímido, mas na condição de negro vivendo no Japão ele não pode evitar chamar atenção, e isso significa que se sente o tempo todo sob pressão. Mas ele não tinha nada contra correr também, e o discurso do Príncipe no episódio passado mais o do Shindo nesse o convenceram. Agora ele está empolgado também – não tanto quanto Shindo, mas está.
Os últimos a fechar o clube dos empolgados são os gêmeos, que têm um motivo muito particular para correr: impressionar garotas. Eles jogavam futebol para isso em primeiro lugar, então só trocaram de esporte mesmo.
Nico está empolgado, ainda que não admita, mas permanece realista. Ele sabe que não é um bom corredor. Deve saber o quanto é difícil ser um bom atleta, e deve saber que tem gente lá ainda pior do que ele.
Está se esforçando. Parou de fumar, o que provavelmente é um dos maiores esforços que qualquer um lá está fazendo, e mesmo evitando ficar em evidência ele é uma espécie de modelo para os demais, talvez por ser o mais velho de todos.
O Yuki é o opositor mais vocal ao Haiji, mas ele não parece ter realmente algo contra correr em si. Apenas não tem nenhuma motivação também e claramente não gosta que outros controlem a sua vida.
Não obstante, não posso evitar achar que ele está interessado. Lá no fundo, ele está. Talvez tão fundo que nem ele perceba, mas está. Por isso ele procura tanto por respostas com o Nico. Do Haiji ele sabe que só vai obter discursos grandiosos, chantagens e promessas furadas, que é o que ele tem oferecido a todos, mas no Nico ele confia.
E o Nico está correndo. Por quê, pergunta Yuki. A resposta, como evidenciado acima, não é plenamente satisfatória, mas talvez por isso mesmo ela seja boa.
O Príncipe fecha o clube intermediário. Ainda o alívio cômico do anime, ele não esconde que não decidiu ainda se vai ou não vai correr. Um nerd quase recluso, ele mostrou no episódio passado que quando forçado além de seu limite pode estourar. Talvez seja bom o Haiji se preparar para ouvir muito.
Apesar da hesitação do Kakeru nos primeiros episódios, apesar da indecisão do Príncipe e da negação do Yuki, eis que nesse episódio emergiu o maior antagonista ao Haiji, e não é nenhum deles.
O Rei simplesmente não pode dedicar tanto tempo de sua vida a um sonho – e um sonho que não é dele, para começo de conversa!
Ele precisa arranjar um emprego. Está procurando, se esforçando o máximo que pode, aproveitando cada oportunidade, e mesmo assim não sai do lugar. Isso o está frustrando e ele acaba sendo bastante duro com Haiji – não que ele não mereça.
O Rei procurando emprego é como o Príncipe correndo nos primeiros episódios e sendo ultrapassado por uma borboleta.
Talvez ele esteja sendo exigente demais nas empresas que escolhe se candidatar? O que ele precisa fazer para ser o escolhido?
E com isso o anime fecha o seu ciclo e retorna ao tema inicial. Kakeru continua preocupado que eles não vão conseguir se classificar, e Haiji responde com uma pergunta: Só os escolhidos podem correr?
Sim e não. Evidentemente, qualquer um pode correr. Mas em nível profissional, e ainda que eles estejam participando como universitários o nível da Hakone Ekiden é profissional, nem todo mundo pode correr.
Alguns são escolhidos. Outros tantos não são.
Mas a preocupação do Kakeru não é exatamente essa quando ele interpela Haiji. Kakeru estava preocupado que seus colegas fossem se frustrar por não conseguirem se classificar, porque ele viu isso acontecer com sua equipe colegial.
Só Kakeru conseguia correr. Só Kakeru conseguia se classificar. E os outros acabaram ficando amargurados com ele por causa disso. Talvez ele não tenha racionalizado esse medo, mas aposto que ele ainda habita no fundo de sua mente e por isso está tão preocupado com o fracasso dos colegas.
Haiji pensa diferente. Ninguém é, de verdade, escolhido. As pessoas se esforçam e por isso chegam lá. Claro que nem todos vão conseguir chegar, mas se você não se esforçar é lógico que não vai conseguir.
Eles precisam treinar, precisam inclusive fracassar, se quiserem ter uma chance de sucesso na corrida.
O Rei precisa tentar, e precisa fracassar, se quiser ter uma chance de sucesso em obter um bom emprego.
No fundo, além do técnico abusivo, o problema do Kakeru foi ter fracassado em se comunicar com seus colegas de equipe. Por isso ele definiu esse como sendo seu objetivo para tentar participar da corrida.
Claro que os métodos do Haiji continuam errados e eu ainda espero que, de alguma forma, ele pague por isso. E desatar esse nó vai ser difícil – quero dizer, não importa o que aconteça, quem ralhe com ele e por quais motivos, eles ainda devem acabar correndo e isso continua sendo o sonho do Haiji e apenas dele, não é?