Tokyo Ghoul:re 2 – ep 6 – Nem a Saiko salvou esse episódio
Esse episódio só não foi pior por falta de tempo. Sim, nem a simpática, divertida e autêntica Saiko foi capaz de diminuir significativamente o estrago dessa péssima adaptação. Tudo bem que no original o momento não é tão bom assim mesmo, mas como conseguiram fazer um episódio péssimo logo após o excelente episódio da semana anterior? Eu sei que em cada episódio há um diretor especifico, mas custava tanto assim chamar alguém competente para pelo menos não avacalhar o que já não era tão bom? Pelo visto era, e esse anime vai indo de mal a pior. É hora de Tokyo Ghoul:re aqui no Anime21!
Sabe o que mais me frustra sobre o que aconteceu com a Mutsuki? Não é nem o fato de ignorarem o que houve entre ela e o Torso – e os trechos que explicam seu passado e aprofundam a personagem –, mas jogarem para ela uma mudança de comportamento e personalidade de forma leviana.
Pensar no Haise que a deixou “órfã” justifica sua associação com o Furuta? Não. Nem qualquer loucura que ela venha a fazer.
O anime desprezou a personagem a dando esse papel de “vítima incompreendida” que resolveu enveredar pelo “caminho do mal” quando no original a personagem é mais complexa e, apesar de ser sim bastante questionável, provoca uma reflexão no público sobre a sua situação.
Se o que ocorreu com ela justifica sua mudança ou não, se tem salvação ou se encontra podre por dentro.
A construção da personagem foi completamente esfacelada. Cadê a Mutsuki forte que lutou contra o Takizawa sem medo? Cadê a Mutsuki que se revoltou contra seu algoz, contra o mundo, contra o que ela considerava seu infortúnio? Ficou no mangá e morreu por lá. O anime não deu a mínima para ela!
Enfim, os Palhaços atacam e, infelizmente, só existem três partes dignas de nota nesse episódio todo.
Primeiro, o ridículo joguinho de xadrez do Furuta para simbolizar que toda a situação estava sobre o seu controle.
Segundo, a luta completamente esquecível do Uta com o Juuzou, e o papel do Arima 2: A Missão.
Terceiro, a luta do Urie, as meias-verdades que ele ouviu e a declaração da Saiko que teve um efeito positivo; mas passou mais longe de salvar esse episódio que do Donato fazer pontinha em Karakuri Circus.
Quarto – de brinde –, a prévia do episódio seguinte aponta que vai rolar muita coisa.
Pelo menos já ficou clara a associação do Furuta com os palhaços e, sendo assim, ficou fácil ver todo o grande plano do vilão para deixar o CCG a sua mercê, permitindo seus atos de barbárie.
Furuta é o tipo de político da bancada evangélica que discrimina os gays, mas tem app de encontro voltado para o público LGBT instalado no celular. Tudo bem, o exemplo foi estranho, mas é mais ou menos por aí.
Se a luta do Juuzou com o Uta não foi grande coisa, pelo menos ficou claro que ele está sendo usado pelo Furuta mais ou menos como o Arima era usado pelos antigos manda-chuvas no poder.
Mas não é como se ele fosse acatar ordens sem pensar sobre isso antes, então o vilão vai ter que manipulá-lo para fazer seu jogo sujo e, assim como no trecho do rosto falso, seu grande ponto fraco é seu mentor em coma. Para o Furuta fazer reféns deve ser fácil, mais fácil que fazer piada em um momento sério.
Mas antes de comentar o inusitado final desse episódio mais sem sal que comida de hospital, eu não poderia deixar de comentar a fraca luta do Urie com o algoz de seu pai, o pai do Amon.
Aliás, o velho é um personagem bem legal, porque ele sempre diz ou faz a coisa errada na hora certa. Tem sua boa dose de malicia aliada a experiência que o tornou não só um informante afiado, mas o poliu para ser um palhaço modelo. Cético, cínico e chato. Capaz de com uma olhadela sacar o que a pessoa sente lá no fundo e usar isso a seu favor.
Não estou querendo dizer que tudo o que ele falou era verdade, em parte, ao menos em parte, não era; mas ele é um ghoul bem peculiar no horror psicológico que tenta provocar em quem interage com ele. Acho isso “agradável” e gosto do seu uso nesse ponto da trama.
O problema desse trecho todo não é mesmo o Donato, apesar do seu ridículo clone das sombras ser, de certo modo, uma forçação de barra que diferiu do mangá e “feriu” os princípios que “norteavam” essa adaptação – a fidelidade medíocre a mídia base.
O problema reside na forma como a luta se deu e também na declaração da Saiko. Se no mangá os sentimentos dela não estavam claros, no anime os Quinx como um todo viraram meros coadjuvantes depois da parada para piorar toda essa adaptação.
A Hsiao e os outros bonecos de posto não foram devidamente apresentados e mal falam, só fazem o que o Levi na saída da puberdade – vai dizer que os dois não se parecem ao menos um pouquinho? – manda.
A Mutsuki está no mesmo barco, só que ela é fantoche do Furuta agora. Enfim, há beleza na cena da Saiko se declarando e parando o Urie, mas o que tem de interessante a comentar sobre ela?
Eu prefiro comentar o uso da kagune da Saiko que, devido a sua grande criatividade, apresenta uma flexibilidade enorme tanto no que se refere a forma, quanto ao modo de atacar e ativar ou desativar agilmente.
É um conceito que não lembro de ter sido explorado no anime, mas que fica presente no mangá para constantemente lembrar ao público que pode se fazer praticamente tudo quanto a isso.
Isso pode vir a provocar um “deus ex machina” aqui e acolá? Pode, infelizmente. No fim das contas, é o amor que mexe com a cabeça do Urie e o faz recuar na liberação do frame e voltar a ser humano – praticamente um meio humano – como antes. Para cortar o bolo antes devo começar a festa, não é?
É isso o que o Furuta faz. Seu senso de humor esdrúxulo não me incomoda, pelo contrário, mas fica a impressão de que não é só a CCG que está perdida, mas a direção em si ao não saber achar um meio-termo entre o cômico e o trágico.
A cena teria sido bem melhor se o personagem tivesse sido melhor construído, sem tanto desse ar vilanesco e com mais profundidade no que tece a personalidade dele.
Acho que foi um erro dar um episódio para cada núcleo, mas o erro maior foi a direção do episódio e esse roteiro pobre dele. Tudo foi tratado de forma muito superficial, sem tanta atenção aos detalhes e com direito a mudanças falhas em comparação com o original.
Não que ser fiel seja obrigação, mas se não der para mudar para melhor o jeito é copiar, colar e pronto. Feito. Ao menos é o que eu faria.