Bom dia!

Ao invés de não ter os clichês do gênero, como cheguei a acreditar nos primeiros episódios, YagaKimi os usa com parcimônia e se esforça para que sua história seja verossímil.

Um clichê comum em yuris é que não só o mundo tende a ter apenas garotas, como elas tendem a ser todas lésbicas. É yuri para todos os lados. Claro que nem todos são assim, mas nós vemos isso, por exemplo e para falar de uma obra recente, em Citrus.

Sakura Trick, um pouco mais antigo, é um anime no qual literalmente todas as personagens são garotas e têm uma namorada. Um exemplo ainda mais antigo e mais famoso (e digno dessa fama) é Aoi Hana, com sua escola feminina com vários casais (tem teatro em Aoi Hana também, aliás).

Não me entenda mal. Não estou no time de quem acha que “clichê é ruim”, muito pelo contrário. Clichês são necessários. Mas há uma diferença entre simplesmente usar um clichê para que ele conte a história por você ao invés de contar uma história na qual o clichê se encaixa e a reforça.

Yagate Kimi ni Naru até aqui se encaixa nesse segundo caso. Por isso no começo achei que estava simplesmente evitando clichês. Não estava. Só estava contando sua história no ritmo que achou por bem contar. E agora sim, no episódio 7, as lésbicas começam a vazar pelo ladrão.

Antes de chegar nelas porém, vou falar das lésbicas já bem estabelecidas do anime: suas protagonistas Yuu e Nanami.

Depois do potente episódio 6, a relação delas está mais ou menos em um impasse. A Yuu não pode fazer nada, porque não quer que a Nanami suspeite que possa gostar dela, e a Nanami está satisfeita com o atual estado das coisas.

Yuu não pode amar, Nanami já tem o que deseja por enquanto.

E, é óbvio, elas não podem deixar ninguém saber da relação delas. Seria ruim para a Nanami, decerto. Cada uma delas pode ser vista, em momentos distintos, mentindo para terceiros enquanto desviam o olhar.

 

 

Yagate Kimi ni Naru continua forte em contar a história não só com diálogos mas também com gestos, enquadramentos, simbolismos, sombras e luzes.

A protagonista desse episódio, por assim dizer, não foi nem Yuu nem Nanami. Foi a melhor amiga da presidente do Conselho Estudantil, Sayaka.

Seu comportamento já era suspeito desde o primeiro episódio, mas nesse veio a confirmação: ela é lésbica. E ela gosta da Nanami. Pare um momento, lembre-se do que eu escrevi no começo desse texto, e aprecie o trabalho feito por YagaKimi. O anime poderia ter logo de cara estabelecido-a como uma personagem lésbica e todas as cenas de ciúme e conflito entre ela e a Yuu seriam óbvias e previsíveis.

Ao invés, Yagate Kimi ni Naru passou antes por todas essas cenas, nenhuma delas aparentemente fora de lugar, e sem explicar porque ela agia assim ficamos no escuro, pensando se ela gostava da Nanami romanticamente, ou se é um ciúme de amizade, ou só superproteção dirigida à amiga (que logo o anime revela ser frágil por trás de uma casca de perfeição), ou qualquer outra razão.

Mas era isso mesmo, o clichê se confirmou e nesse sétimo episódio finalmente descobrimos que ela é lésbica, e tudo apenas faz sentido.

A história de como ela se descobriu lésbica é exatamente o tipo de clichê que se espera de um mangá yuri, e daí a graça que ela seja só uma coadjuvante e que só agora descubramos o seu passado.

Diferente da Sayaka, porém, as duas outras lésbicas do anime foram reveladas meio de sopetão. Miyako, a barista, e Riko, a professora, já eram personagens conhecidas, porém a participação delas no anime havia sido apenas um pouco mais do que nula. No sétimo episódio elas retornam com tudo.

Ao contrário do clichê comum (e que pode guardar alguma relação com o mundo real, pelo menos no inconsciente coletivo) de que o lesbianismo na adolescência é “uma coisa que passa”, do qual Sayaka foi vítima, note-se, Miyako e Riko existem para mostrar que esse não é necessariamente sempre o caso. As duas são adultas, independentes, e um casal lésbico.

Esse alívio porém é limitado: apesar de tudo, elas também escondem seu relacionamento, assim como Yuu e Nanami. Para a Miyako talvez não faça muita diferença caso sejam mais abertas sobre sua relação (ou talvez faça: dependendo do preconceito de sua freguesia ela pode ser empurrada para fora do negócio), mas para a Riko quase certamente isso significaria a perda do emprego.

Das duas, a Riko é quem mais me provoca interesse, justamente por sua posição como professora, e também pela sua aparente proximidade com Akari, uma das amigas da Yuu. Será que a Akari sabe de algo?

Mas não espero que o anime volte à história da Professora e da Barista.

Como já escrevi, a relação delas serve de contraponto ao infortúnio da Sayaka, e isso não passou despercebido pela melhor amiga da Nanami.

 

Sayaka, conversando com Miyako, a barista

 

Se antes ela só observava a Nanami de uma distância segura (e ela é bastante observadora e já percebeu e mediu que distância é essa), é provável que isso vá colocar a Sayaka em movimento.

Será que ela vai tentar se aproximar da Nanami, e sua eventual rejeição sirva de conto preventivo para a Yuu? Será que, munida de suas habilidades de observação e de sua ambição romântica renovada, Sayaka irá perceber que há algo rolando entre Yuu e Nanami e, por ciúme, infernizará a primeiro-anista?

Qual a sua aposta? Até o próximo episódio!

  1. Eu adoro a Sayaka ela tem uma postura que eu admiro bastante. Digo isso, pois já vi muita antagonista, que me fez chorar lágrimas de sangue, fazendo show ou se achando no direito de infernizar diversas protagonistas por gostar de fulaniho(a) primeiro (Karekano e ao haru hider que eu diga). Já a Sayaka, ela insiste em manter a maturidade dela e apenas vai com classe e tranquilidade conversar com a Yuu sobre a Touko, então dificilmente acredito que ela venha perseguir a Yuu. Entretanto, mesmo torcendo pelo casal principal, fico triste triste pela Sayaka e torço por ela, posto que essa aparenta não ter muita sorte no amor, não apenas por falta de reciprocidade quanto ao sentimento amoroso, mas também pela vontade que ela tem de ter uma relação duradora e real com alguém e que parece tão distante para ela justamente pelo estigma de é só uma “fase”, como foi destacado no texto acima. Por fim, ainda acho que com toda sua maturidade, a Sayaka virá a ser útil para o relacionamento da Touko e Yuu no futuro.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Será que a Sayaka é madura mesmo?

      Eu tenho certeza que ela não vai armar barraco, veja bem, o meu ponto é outro. Eu não acho que ela seja madura, acredito apenas que tenha sido criada para se comportar daquela forma – que, em algumas situações, emula bem como “maturidade”. Ela é, afinal de contas, uma menina rica, como a Nanami disse nesse episódio, uma ojou-sama, o arquétipo.

      Por força de criação, ela é educada, comportada, coisas que é normal associarmos com maturidade mesmo. Só que maturidade é algo que adquirimos sozinhos de acordo com nossa idade, a maturação biológica mesmo, e nossas experiências de vida. Maturidade não é algo que se aprende.

      A Sayaka é só uma menina da mesma idade das outras. Ela teve uma experiência com o amor e a lição que tirou dela foi, convenhamos, negativa. E “negativo” aqui é até mesmo literal: ela passou a negar a sua sexualidade. Decidiu que nunca mais teria outro relacionamento como aquele. Daí conheceu a Nanami, se apaixonou de novo, não pôde evitar, mas evitou agir de acordo. Ela está há um ano se reprimindo. A Nanami é uma garota difícil de abordar, a Sayaka a viu rejeitar incontáveis pretendentes, mas ela pode mesmo viver assim? Ela vai conseguir viver assim?

      A verdade é que ela nem pensou muito nisso. Ainda se negando, e acreditando que em todo caso era algo sem futuro, decidiu não agir. Mas veja só a cara dela quando descobriu que um relacionamento entre mulheres pode ter tanto futuro quanto um relacionamento entre uma mulher e um homem:

      A cara de surpresa da Sayaka

      Ela está surpresa! É algo óbvio, mas parece que nunca havia lhe ocorrido. Aliás, nessa cena inteira ela parece só uma menina conversando com uma adulta de verdade. Uma garota inocente conversando com uma mulher madura. Porque é exatamente isso o que está acontecendo. Toda a pompa e circunstância que sempre a cerca desapareceu nessa cena.

      Mas, como eu disse, ela não ser madura não significa que ela vá armar barraco. Não vai. Não foi essa a educação que ela recebeu. Ela aprendeu desde cedo a manter esse ar de superioridade, e não é por outra razão que ela admira a Nanami justamente por ela ser uma aluna modelo. A Nanami é tudo o que ela aprendeu, em casa, que é bom. E é bonita, porque essa é a primeira coisa que notamos, não é? Foi o que a Sayaka disse para a Miyako que a atrai na Nanami, e sem dúvida foi o que a atraiu em primeiro lugar. O resto a fez se apaixonar. A Sayaka sabe que a Nanami veste uma máscara, porém não se importa de ter se apaixonado pela máscara – ela reconhece, afinal, que aquilo é fruto do esforço da Nanami, e ela valoriza o esforço.

      Que tipo de dificuldades uma garota como a Sayaka pode criar para a Yuu?

      Já escrevi bastante! Eu pensei em incluir tudo isso no artigo mas acabei deixando para artigo posterior, se a chance se apresentasse, mas já que você tocou nesse tema no comentário, me empolguei e acabei escrevendo tudo, hehe.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! ☺

  2. Bem peoples! Estou assistindo esse como se aprecia Proust ou Stendhal em ritmo lento…(E não, não há nenhuma ironia ou demérito na obra em si) não dá “rushes” de dopamina no cerebro, mas o que posso dizer se deixa levar…E o que posso dizer é um anime que mais se aproxima ao timing da vida real…

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá, James! Tudo bonzinho?

      Sem dúvida um dos pontos fortes de Yagate Kimi ni Naru é que ele consegue passar com sucesso uma sensação de realismo, mesmo quando está na verdade apenas trabalhando com clichês do gênero. São poucos os momentos em que há uma quebra nisso, mas eles costumam ser propositais e são, embora irreais, ainda mais potentes pela mensagem ou emoção que transmitem. A cena do rio no episódio anterior foi um exemplo perfeito disso.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! 😁

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      A Sayaka ser mais ou menos tão inocente/imatura quanto as demais personagens foi algo que me chamou bastante a atenção quando ela se tornou o foco do episódio, no final. Até então ela era uma veterana meio pomposa que vivia grudada na Nanami e se esforçava para suportar a Yuu, mas depois desse episódio ela se tornou um ser humano de verdade, e passei a apreciar bastante sua presença. O episódio 8, não sei se já assistiu, teve uma parte dedicada a ela que corroborou as minhas impressões iniciais sobre a personagem, e devo falar dela com mais vagar no próximo artigo. Até lá! 😃

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