Diamond Is Unbreakable é o primeiro filme live action de Jojo’s Bizarre Adventure, uma obra de mais de 30 anos que ainda tem mangá e anime em lançamento – além de grande popularidade em todo o mundo. O filme adapta o primeiro arco da quarta parte – Jojo se divide em partes e cada uma conta a aventura de um protagonista diferente – e como cada uma pode ser vista de maneira independente, todas servem como porta de entrada para a franquia. É hora de Jojo com pessoas reais no Anime21!

Um detalhe importante a frisar sobre o filme é que seus efeitos especiais são bons e a caracterização dos personagens não diverge muito do mangá e nem o extrapola. A película é séria do início ao fim, o que também se vê em seu roteiro e em sua direção. A trama se passa na cidadezinha de Morioh, que comporta mais bizarrices do que aparenta, pois está lotada de usuários de Stand, poder sobrenatural que advém da força de vontade do indivíduo, e eles serão “arrastados” para lutas criativas e bizarras.

Um desses usuários é Josuke Higashikata, adolescente que vivia uma vida pacifica até a chegada de Jotaro Joestar, neto de seu até então desconhecido pai, Joseph Joestar – os dois também possuem Stands. Sim, é normal que protagonistas de partes anteriores apareçam em outras, mas Jotaro tem apenas o papel de coadjuvante aqui. A bola da vez é passada a Josuke com seu Crazy Diamond.

Sim, esse nome faz referência ao clássico da banda de rock progressivo Pink Floyd. Jojo é uma série com várias referências musicais e outras peculiaridades que a conferem originalidade apesar dos clichês.

Acho que o primeiro acerto que devo destacar desse filme é que ele não adapta a história fielmente, pois desenvolve a sua trama de uma forma que funciona melhor dentro de uma película do que faria se seguisse passo a passo o original. Contudo, também não apresenta grandes diferenças, alterações balanceadas de ritmo e narrativa são o que definem o tom da adaptação.

Aliás, o “sobrenatural” nela é exposto apenas quando deve ser. Morioh está é sendo assolada por uma série de assassinatos que têm ligação indireta com o big picture – afinal, o perpetuador deles passa a perseguir o protagonista.

Outro detalhe interessante desse arco de Jojo em si é que o Josuke é o protagonista – o personagem forte que resolve os problemas na trama –, mas o personagem principal é o Koichi Hirose; é do ponto de vista dele que conhecemos Josuke e a história começa. Koichi é pouco mais interessante quanto a desenvolvimento pessoal, já Josuke é mais linear, mas, apesar disso, também amadurece na película.

Tem algo que Josuke valoriza mais que a fortuna que, por meio de seu tio, Jotaro Kujo, ficou sabendo que receberia: seu cotidiano pacífico e sua família amorosa. Uma das coisas mais bacanas sobre esse personagem é que ele é despreocupado com a vida, mas nem por isso é irresponsável.

Isso pode ser melhor percebido com o assassinato de seu avô, evento que simboliza um ponto de virada na trama, pois leva Josuke a se envolver com o assassino em série e os outros usuários de Stand que habitam a cidade. É verdade que tudo aconteceu devido ao descuido dele, mas se trata de um adolescente que sequer conhecia o conceito de Stand apesar de ter um – sua “inocência” acaba sendo compreensível.

Tanto é que quando é preciso agir com seriedade Josuke dá um show de esperteza e consegue parar o Stand do assassino Angelo, além de vingar, mas sem matar, o assassinato do avô de uma forma tão bizarra quanto você espera que Jojo seja. Logo o confronto contra o vilão Keicho Nijimura, e seu Bad Company, tem início, mas é entre o enterro do avô e a ida a luta que vi um acerto e um erro do filme.

Josuke faz sua “justiça” em um dos melhores momentos do filme.

Dão um razoável foreshadowing para a trama que deve ser explorada em uma vindoura continuação, o que achei positivo, ao mesmo tempo em que algo não é tão bem explorado na estrutura do próprio filme, o envolvimento do Koichi. Isso não é um problemão, mas ele acaba se envolvendo de “metido” em algo que não o dizia respeito, afinal, não era como se ele fosse amigo do Josuke até àquela altura, ao menos não parecia.

Mas pela dinâmica do filme ser diferente e terem mostrado a curiosidade dele não acho que isso incomodou tanto. Incomoda é o Okuyasu ter o forte The Hand e não saber usá-lo – sei que é assim no mangá, mas não é só culpa do autor que aproveitou mal o perigoso e forte poder dele. Uma direção um pouco menos fiel teria tornado sua luta com o Josuke bem mais interessante – e olha que ela nem foi tão ruim, mas, repito, faltou criatividade para aproveitar todo seu potencial. E eu sei que o Okuyasu é caracterizado como burro, mas você pode ser burro e não perder para si em menos de 5 minutos. Mas okay, dou um desconto porque não deviam ter orçamento para fazer mais.

O que se segue é a rena final do filme e o que o faz deixar de ser apenas bom para ser muito bom. É a característica peculiar do Crazy Diamond que expõe a própria natureza do Josuke – alguém que ajuda o próximo por gentileza, porque quer, mas não consegue curar suas próprias feridas com esse poder. Algo que acho bem legal no conceito de Stands é como o poder de um Stand reflete a personalidade do usuário, agindo como uma expressão inconsciente do seu eu, enquanto o fenômeno sobrenatural que é. Além disso, a atitude do Josuke não tem um tom heroico piegas, é apenas algo que ele fez por querer e por poder.

Koichi Super Sayajin Green sem o Echos lutando não é a mesma coisa.

A filosofia de vida dele é bem simples; não mata se não precisar, não machuca se a outra pessoa não merecer; mas é bela, sendo suficiente para fazer o público torcer pelo herói e não ficar com o mínimo de dúvida de que o vilão deve perder mesmo que ele também tenha suas razões. O pré-clímax do filme é ótimo. Tirando o Koichi ter mudado de penteado – isso foi desnecessário –, a situação toda estava tensa e a virada de mesa aconteceu de maneira coerente. Essa palinha das lutas de Stands é bem interessante, pois, dependendo do poder do usuário, Stands mais fracos podem ter vantagem contra Stands mais fortes.

O desfecho não dependeu só da força, o que exploram de uma maneira ainda mais legal no anime da quinta parte, Vento Aureo; que eu cubro aqui no blog. Aliás, a continuação desse filme deve ser anunciada assim que Vento Aureo acabar. Estou torcendo por isso! Outra coisa legal desse final é que o Koichi pode ter entrado de penetra nesse meio, mas o despertar de seu Stand o fez se integrar aquele mundo bizarro, além da situação de risco de vida ter estreitado o laço de amizade dele com o Josuke. Laços que também foram explorados na sofrida, e conturbada, relação da família Nijimura.

As circunstâncias não ficaram claras e não houve qualquer mostra prévia da situação dos irmãos, mas, mesmo assim, foi um belo trecho que justificou bem os acontecimentos até ali. Todavia, como o pai deles ficou daquele jeito e a origem do arco e flecha não ficaram claras; o que eu entendo, porque ficaria um pouco deslocado explicar o que o Dio, vilão da primeira e terceira partes, fez, qual era o envolvimento dele na história do arco e flecha, da transformação do pai deles, etc.

Podem tentar, e espero que o façam, contextualizar isso melhor no filme seguinte, o qual – após aquele final em que o Keicho é eliminado pelo ataque de outro usuário de Stand – deve ser diferente, afinal, foi a maior mudança entre o original e a adaptação. Ela indica que o principal vilão dessa parte foi quem matou o Keicho, que ele será o antagonista na vindoura continuação. No mangá e no anime isso demora a rolar. Os personagens e as situações que dão gordura a essa parte devem ser cortadas.

Um caso de família muito bizarro, triste e bonito.

Isso não vai me incomodar se a qualidade for mantida, e não me refiro só aos quesitos técnicos, mas a trama como um todo. Por exemplo, o roteiro não deixa isso tão claro, mas se você assistir ao filme com atenção, deve perceber que o maltrato do Keicho para com o Okuyasu era, na verdade, a forma que ele encontrou de demonstrar sua gentileza. Sim, ele suportou toda a situação problemática com o pai enquanto taxava o irmão de incapaz, porque tentava protegê-lo, não compartilhando a dor do tal destino que ele cita. Afinal, ele era o irmão mais velho, era ele que deveria proteger o mais novo.

Quando ele diz que o Okuyasu não é mais seu irmão mais parece um, “você cresceu, agora vá e ande com suas próprias pernas”, do que uma reprovação. A situação toda já dava claros indícios de que ele morreria ali, e não poderia ser diferente, pois matou muitas pessoas na busca por alguém para matar seu pai.

O esperado é que ele pagasse um “preço” pelas escolhas que fez, pela forma como carregou um baita fardo praticamente sozinho. Não, isso não o desqualifica como vilão, mas demonstra que o personagem tem suas nuances; todas razoavelmente bem apresentados pelo ator. Aliás, o elenco do filme foi muito bem. Não achei nenhuma das atuações excepcionais, mas nenhuma foi ruim também.

Por fim, o filme termina já introduzindo o vilão, não exatamente ele, mas o ambiente onde vive e seu bizarro hobby de colecionar mãos de mulheres. Caso ainda não tenha visto nada de Jojo comentar tal cena mais a fundo pode estregar um pouco da sua experiência ao conhecer o personagem, seu poder e a sua personalidade.

Guarde a curiosidade para o próximo filme ou assista o anime que se encontra disponível no Crunchyroll. O mangá da parte dois está saindo aqui no Brasil e o da parte quatro ainda não foi anunciado, mas é só questão de tempo até que Josuke, Okuyasu e Koichi desembarquem por aqui. O saldo é positivo e a adaptação para live action da quarta parte de Jojo não é uma obra-prima, mas é muito boa a sua forma. Que a gravidade nos una enquanto telespectadores de Jojo. Até mais!

Nós confiamos em você, Josuke!

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