Mistério, suspense, thriller: Decifrando o enigma dos gêneros

Bom dia!

O mistério de hoje é: o que é mistério?

Ou melhor dizendo, o que é mistério, suspense e thriller e qual a diferença entre eles – e quais as semelhanças.

Para esse artigo, como no ensaio sobre alta fantasia e isekai, consultei extensa bibliografia e nele tento definir esses gêneros da melhor forma possível. Todas as traduções dos autores originais que cito foram feitas e adaptadas por mim mesmo.

Nesse artigo, diferente do ensaio sobre alta fantasia e isekai, e atendendo a sugestão em comentário naquele, cito vários animes ao longo do texto.

Usei como exemplos principais dois animes dessa temporada (janeiro de 2019): The Promised Neverland e Kemurikusa. Tenha em mente que no momento em que o artigo foi escrito eles ainda estavam em andamento portanto me refiro ao estado em que se encontram em seus respectivos episódios 9. Também citei um punhado de outros animes, conforme foi conveniente.

Introdução feita. Continue lendo, por favor.

 

Uma névoa vermelha domina a paisagem em vastas porções de terreno em Kemurikusa

 

A melhor definição que encontrei dos gêneros foi essa:

 

Ficções de mistério ou detetive destacam o aspecto do enigma da trama. Há pistas e o leitor deve ser capaz de chegar à solução mais ou menos ao mesmo tempo que o protagonista.

Na ficção de suspense o enigma não é necessariamente quem cometeu o crime, mas se o vilão será pego antes de cometer outro. As histórias de suspense que envolvem uma análise profunda do personagem são às vezes chamadas de suspense psicológico.

Os thrillers são rápidos, impulsionados pela ação, pelas cenas de perseguição e pela violência, e frequentemente envolvem uma vilania em grande escala, como espionagem, terrorismo ou conspiração.

 

Eu estaria satisfeito com ela, mas de quem é? Eu não sei. Ele estava na página do governo local de Olivia, Minnesota, Estados Unidos, até 2012, tendo sido removida em algum momento em 2013 (o que faz sentido, por que um site de governo teria esse tipo de conteúdo?). Em todo caso é útil pela simplicidade e por isso achei boa ideia citá-la.

Outra definição simples é a de Maeve Maddox, doutora em literatura americana, que já trabalhou como escritora e editora:

 

Mistério: o personagem principal está ocupado em descobrir a verdade sobre um evento, geralmente um assassinato. Se o protagonista está em perigo, esse costuma ser apenas moderado e só se torna um problema quando o detetive se aproxima da verdade.

Thriller: o protagonista está em perigo desde o começo.

Suspense: o personagem principal pode se tornar ciente do perigo gradualmente. Em um mistério, o leitor é exposto à mesma informação que o detetive, mas em uma história de suspense, o leitor está ciente de coisas desconhecidas do protagonista. O leitor vê o bandido plantar a bomba e, em seguida, sofre o suspense de se perguntar quando ou se ela vai explodir.

 

Maddox foca, como se vê, no perigo a que está exposto o protagonista e sua percepção desse perigo. Considero especialmente importante a distinção que ela faz entre mistério e suspense: no mistério, leitor e protagonista dispõem das mesmas informações, enquanto no suspense o leitor sabe mais que o protagonista.

Em qualquer caso, são três gêneros muito próximos, e a maioria das obras mistura elementos de vários deles. Nas palavras de Maddox:

 

Os três gêneros estão intimamente relacionados. Em todos eles, um personagem está tentando descobrir a verdade de algo ou impedir que algo ruim aconteça.

 

Com essas definições básicas já dá para começar a entender o que são The Promised Neverland e Kemurikusa.

Tanto Neverland quanto Kemurikusa possuem um grupo de personagens principais, e não um personagem solitário. Há perigo iminente em ambos e seus protagonistas estão cientes deles. Parecem com thrillers.

Ao longo do ensaio ficará mais claro porque não dá para classificá-los como mistério. Quanto a suspense, dá para começar a inferir desde já: tanto em Neverland quanto em Kemurikusa sabemos de coisas que nem todos os personagens sabem. Vemos a Mamãe Isabella e a Irmã Krone agir sozinhas em Neverland, e sabemos do passado das garotas em Kemurikusa, coisa que elas sabem mas o Wakaba não, bem como sabemos sobre suas irmãs “mortas”, que o Wakaba sabe mas as garotas não. Os dois são candidatos a suspense, então.

Porém, enquanto em Neverland normalmente a consequência daquelas informações que só o espectador sabia costuma vir rápido para os protagonistas, em Kemurikusa desde o começo há coisas que só o espectador sabe. Assim, Neverland não é um suspense por não alimentar essa sensação, enquanto Kemurikusa seria, sim, um suspense.

É importante destacar que esses gêneros são inter-relacionados, como Maddox disse, e também que mudam muito com o tempo e, dependendo de como se definir “mistério”, ele é na verdade um gênero-guarda-chuva que inclui todos os demais, sendo o que as definições anteriores chamaram de “mistério” na verdade um conjunto de subgêneros, que inclui principalmente o mistério tradicional e a ficção hard-boiled.

Ainda, elementos de mistério, suspense e thriller podem aparecer dentro de histórias de outros gêneros. Isso é bastante comum, na verdade.

Antes de partir para as definições mais aprofundadas, cito aqui alguns animes que se encaixam em cada um dos gêneros e aviso que posso retornar a eles também:

 

Mistério: Haruchika, Perfect Insider, Sakurako-san no Ashimoto, Rokka no Yuusha, 91 Days.

Thriller: Psycho-Pass, Game of Laplace, Kemono Friends, Banana Fish.

Suspense: Erased (Boku Dake ga Inai Machi), Parasyte (Kiseijuu), Kokkoku.

 

Agora sim, as definições de cada gênero.

 

Sakurako-san no Ashimoto

Mistério tradicional (Era de Ouro)

Existem vários subgêneros dentro de mistério. Como já escrevi, dependendo da definição, mistério engloba também thriller e suspense, além de muita outra coisa.

Otto Penzler, editor de ficção de mistério e proprietário da The Mysterious Bookshop (livraria independente e editora) em Nova York, define mistério como sendo:

 

Qualquer obra de ficção em que um crime ou a ameaça de um crime é central para o tema ou enredo.

 

O que é uma definição bastante ampla. Por isso, escolhi subdividir mistério nesse artigo em dois: o tradicional e o hard-boiled.

Quanto ao mistério tradicional, no mesmo artigo linkado acima Penzler o define nesses termos:

 

Uma estrutura social confortável […] que é subitamente perturbada por um assassinato.

Um policial ou um amador (raramente um detetive particular nas obras mais antigas do gênero) tentará encontrar o assassino usando técnicas investigativas tradicionais, como interrogar suspeitos, procurar pistas e fazer deduções a partir disso tudo. Quando o assassino é descoberto e levado a julgamento a ordem social é restaurada.

Mistérios tradicionais, mesmo na sociedade permissiva de hoje em dia, tendem a conter pouca linguagem ofensiva, violência, perversão ou sexo.

 

Essa é a descrição de uma história de detetive tradicional, como as de Edgar Allan Poe ou Agatha Christie. Ocorre um crime (quase sempre um assassinato), um detetive investiga e através da razão chega ao criminoso. Ao final da história, tudo volta ao que era antes como se nada tivesse acontecido.

Na Era de Ouro das histórias de detetive, que foi quando esse tipo de mistério floresceu, esse tipo de literatura era tratada como um jogo intelectual. Daí que as pistas deveriam ser apresentadas tanto para o detetive quanto para o leitor, que, se fosse tão ou mais inteligente que o autor, supondo que esse “jogasse limpo”, poderia descobrir a verdade antes do final da história.

Com efeito, autores da época escreviam “regras” sobre como uma história de detetive deveria ser. Duas são bastante famosas, e vou apenas deixar o link para elas aqui porque esse artigo ficaria muito extenso (e um pouco fora de foco) se eu as colocasse aqui inteiras. Mas farei algumas citações depois.

São elas:

Decálogo de Knox, e Vinte regras para escrever histórias de detetive de S.S. Van Dine.

 

Os sete heróis de Rokka no Yuusha reunidos: um deles é um traidor

 

Em toda a minha experiência com animes, confesso que nunca assisti um único anime que faça isso direito. Em parte é uma limitação da própria mídia, já que é difícil apresentar muitas coisas em detalhes em relativamente pouco tempo, em parte tem a ver com o público alvo. Em Sakurako-san no Ashimoto, por exemplo, a protagonista é uma especialista em ossos, e consegue dizer muito sobre a pessoa, aparência e estilo de vida, apenas analisando ossadas. Mas é impossível tanto representar esses detalhes em um anime quando esperar que sua audiência saiba do quê ela está falando.

Mas não descartemos a culpa dos autores também, que tentam e falham. Pode haver problemas de adaptação também, e isso tem a ver de novo com o problema da mídia, que eu já mencionei. O anime que eu acho que faz isso da melhor forma possível é Rokka no Yuusha, que é quase um mistério de sala fechada e é possível até determinado ponto chegar bem perto de quem é o culpado apenas pelo que o anime apresenta, que é também o mesmo que o protagonista descobre ou deduz. O original é uma light novel, e me pergunto se, na forma escrita, seu autor conseguiu escrever uma boa história de detetive.

 

91 Days

Mistério hard-boiled

O hard-boiled é quase uma evolução natural do mistério tradicional, uma adaptação aos tempos, com detetives e cenários que apelavam mais para o público de então.

Penzler define o hard-boiled assim:

 

Ficções hard-boiled envolvem detetives particulares profissionais como heróis.

Os detetives particulares precisam ser durões, já que estão lidando com assassinos, […] eles agem e falam com firmeza. São americanos e são solitários, muito parecidos com os antigos cowboys do velho oeste. Eles têm um código de honra e justiça que pode não ser estritamente legal, mas é moral. Podem ser ameaçados ou espancados, mas não desistirão de um caso nem trairão um cliente. […] muitas vezes [lutam] contra políticos corruptos ou organizações criminosas, […] e prevalecem porque são fiéis a si mesmos e a seu código.

O caso […] é invariavelmente sobre algo maior do que lhe foi dito. O detetive particular interroga pessoas e descobre segredos, frequentemente sobre eventos em passado distante. Ele geralmente é traído por uma ou mais pessoas, muitas vezes seu próprio cliente, o que, sendo um cínico, não o surpreende. Quando ele conclui sua investigação, geralmente terá havido vários outros assassinatos ao longo da história enquanto as pessoas tentavam manter segredos escondidos. O detetive entrega o culpado à polícia e continua com sua vida solitária.

 

Hard-boiled são histórias de detetives durões. Já apanharam muito da vida e só o que querem, ou só o que podem fazer, é continuar trabalhando para viver mais um dia. São sérios e bons no que fazem. Não são criminosos, mas não se importam em burlar leis se acharem que precisam.

Pelo menos um autor escreveu também um conjunto de regras para ficção hard-boiled: Raymond Chandler publicou os seus Dez mandamentos de para escrever um romance policial. Como fiz com as regras de Knox e Van Dine, não publico as de Chandler aqui, mas abra o link caso se interesse. Irá notar que elas não são assim tão diferentes de seus predecessores tradicionais.

Mas deixou de ser necessariamente um jogo. Embora ainda se cobre que o autor em certa medida “seja honesto” com o leitor, o objetivo não é mais disputar quem é mais inteligente. Como histórias que se passam um período histórico e o representam, ocorre forte identificação do leitor com o detetive, e isso basta.

O detetive hard-boiled é profundamente americano.

 

Ash, protagonista de Banana Fish

 

Não é de se espantar, então, que esse tipo de história, bem ou mal feita, seja rara em animes. Talvez possamos traçar equivalências, quem sabe? Onihei pode ser chamado de um equivalente japonês do hard-boiled? Acredito que, em certa medida, sim.

Para exemplos mais diretos, considere 91 Days e Banana Fish. Não à toa, ambos se passam nos Estados Unidos e seus protagonistas são americanos. 91 Days se passa na época da Lei Seca, e lida com a máfia de então. Banana Fish é mais recente e tem mafiosos, gangues de rua e políticos corruptos. O protagonista de nenhum deles é um detetive, porém (ambos são criminosos!), e partem em uma investigação por motivos pessoais.

 

Psycho-Pass

Thriller

Um thriller apela muito mais à emoção do que à razão, ao contrário do mistério tradicional. Segundo o autor canadense David Morrel:

 

Mistérios tradicionais apelam principalmente para a mente e enfatizam a solução lógica de um quebra-cabeça. Em contraste, os thrillers alimentam emoções mais intensas e enfatizam as sensações do que poderia ser chamado de corrida de obstáculos ou caça ao tesouro.

O contraste é entre emoção e lógica, entre um ritmo urgente e um calmo. É verdade que os dois gêneros podem se fundir se a caçada de um thriller envolver a solução de um quebra-cabeça, por exemplo. Mas em um thriller, o objetivo de resolver o enigma não é apenas satisfazer a curiosidade intelectual, mas também excitar o leitor.

 

Morrel escreveu Primeiro Sangue (First Blood), o livro que serviu de base para o filme Rambo. Essa informação sozinha é quase tão importante quanto a definição acima para entender o que é um thriller.

The Promised Neverland, como já definido anteriormente, é um thriller. Sem dúvida há mistérios para serem descobertos, e parece que a cada episódio há mais mistérios, mas o foco não está na resolução deles.

Com efeito, nem os personagens principais e muito menos os espectadores conseguem resolver qualquer um dos mistérios. Boa parte das “pistas” aparece mas os personagens as veem e não compartilham conosco. O bilhete que a Irmã Krone encontrou é um exemplo primário disso. Para quem gosta de tentar especular, como eu, Neverland pode ser frustrante por causa disso.

Mesmo assim, ele é um thriller muito eficiente. Uma coisa acontece atrás da outra. Mal nos preparamos para algo, e outra coisa diferente acontece que perturba todos os planos e muda tudo o que pensávamos até então. Neverland não nos deixa respirar.

 

Irmã Krone de The Promised Neverland

 

Nesse sentido, é similar a alguns arcos de Psycho-Pass. A própria estrutura de arcos de Psycho-Pass, porém, garante que há, sim, bastante tempo para respirar, só não é todo episódio. Em compensação, o anime é extremamente violento e deixa um rastro de mortes, algumas bastante cruéis.

Outro anime cruel é Game of Laplace, e é muito curioso que ele seja um thriller porque foi escrito baseado em contos de Edogawa Ranpo, um autor japonês de mistério tradicional (seu nome artístico é a leitura em japonês de Edgar Allan Poe). É uma história difícil de acompanhar às vezes, confusa e com desenvolvimentos inesperados, mas, acima de tudo, é bastante atmosférica. Há uma tensão latente durante toda a trama, haja um caso para resolver ou não.

 

Serval chora em Kemono Friends

 

Por fim, Kemono Friends (o primeiro anime, não sua segunda temporada) e Kemurikusa. Ambos obras do diretor Tatsuki.

Em que pese a leveza de seus personagens (principalmente em Kemono Friends), e o clima calmo na maior parte do tempo, o espectador simplesmente sabe que algo de errado está acontecendo. O perigo está à espreita nesses dois mundos pós-apocalípticos. Em Kemono Friends as personagens sequer percebem isso até o final do anime, o que é compensado pelas pequenas missões que elas precisam realizar para conseguir continuar sua importante jornada, mas em Kemurikusa as personagens estão dolorosamente cientes dos riscos que correm também.

E vale a pena, nesse ponto, dizer em quê a segunda temporada de Kemono Friends, que não é dirigida pelo Tatsuki, mais erra: as missões que as protagonistas precisam realizar a cada arco não são de risco. Não há nenhum senso de urgência na maioria delas, pelo menos até o episódio 7, que foi o último que assisti antes de escrever esse ensaio. Claro que há outros erros que Kemono Friends 2 comete, mas esse é o maior deles e é o que mais tem a ver com o presente artigo.

 

O espectador sabe tudo, mas Satoru não sabe nada em Erased (Boku Dake ga Inai Machi)

Suspense

Para uma definição de suspense, decidi consultar ninguém menos do que Alfred Hitchcock, cineasta inglês cognominado de Mestre do Suspense:

 

Imagime que estamos tendo uma conversa inocente. Vamos supor que haja uma bomba debaixo da mesa entre nós. Nada demais acontece até que, de repente, “boom!”, ocorre uma explosão. O público fica surpreso, mas antes dessa surpresa, viu uma cena absolutamente comum, sem nenhuma consequência especial. Agora, vamos analisar uma situação de suspense. A bomba está debaixo da mesa e o público sabe disso, provavelmente porque viu o anarquista plantar ela lá. O público está ciente de que a bomba vai explodir uma hora em ponto e tem um relógio no cenário. Por ele se pode ver que é quinze para uma. Nessas condições, a mesma conversa inócua se torna fascinante porque o público está participando da cena. O público está ansioso para avisar os personagens na tela: “Vocês não deveriam estar falando sobre assuntos tão triviais. Tem uma bomba debaixo de vocês e ela vai explodir!”

 

A surpresa é um elemento comum em muitas histórias. The Promised Neverland têm várias. Toda reviravolta (plot twist) em qualquer anime é uma surpresa, por definição. Mas surpresa não é (normalmente) suspense.

O que caracteriza o suspense é a angústia de saber algo que os personagens não sabem e vê-los sofrer, ou caminhar em direção ao sofrimento, por causa disso. O suspense é muito próximo do horror e, quando a história explora as angústias internas dos próprios personagens pode ser chamada de suspense psicológico. Em animes, esse é o caso de muitos que são classificados sob o gênero “psicológico”. O que é “psicológico”? Quase sempre, ou sempre, se bem aplicado, é suspense.

 

O espectador sabia, mas Shinichi não fazia ideia em Parasyte (Kiseijuu)

 

Erased (Boku Dake ga Inai Machi) é um exemplo muito bom de suspense. Desde quase o começo da história, por causa de várias pistas, o espectador sabe quem é o criminoso, mas o protagonista não sabe. É muito angustiante assisti-lo passar por tudo o que passa por causa disso.

Parasyte (Kiseijuu) é outro bom exemplo. Ao espectador são frequentemente apresentadas as ações dos vilões, muito antes que elas gerem qualquer consequência para o protagonista ou outros personagens. Mais de uma vez o protagonista não saber de algo que o espectador já sabe se prova fatal.

Kokkoku não é tão eficiente quanto Parasyte mas opera de forma bem parecida. No final das contas as consequências para a protagonista e pessoas queridas para ela não são tão graves, reduzindo ainda mais o impacto do anime.

The Promised Neverland nem tenta usar suspense. Como eu disse, há pistas que os personagens conhecem e o espectador não conhece – no suspense deveria ser o contrário! Mesmo nos raros casos em que descobrimos algo antes dos protagonistas, a consequência vem tão rápido que, dada a atmosfera já normalmente tensa do anime, não dá tempo de sentir-se mais angustiado do que o de costume. Não acredito que Neverland tente ser um suspense, porém, então não é o caso de dizer que o anime “falha” ou algo assim.

 

O uso de cliffhangers é particularmente bom em Kemurikusa

 

Tatsuki por outro lado tenta e faz isso muito bem em seus animes. Como eu disse, há coisas que o espectador descobre cedo na história (no caso de Kemurikusa, até antes da história começar), e que o permite deduzir ainda outras, e os personagens principais não sabem de nada disso. O espectador então pode ficar bastante angustiado aguardando a chegada das consequências, que pode demorar vários episódios.

Os cliffhangers nos episódios de Kemono Friends e Kemurikusa são a especialidade do diretor, e sua consistência coroa Tatsuki como um criador de mundos pós-apocalíticos misteriosos.

 

Encerro esse artigo com as minha definições dos gêneros, que espero serem úteis:

Mistério: o protagonista e o espectador sabem as mesmas coisas. Sentimento provocado: curiosidade.

Thriller: o protagonista sabe mais do que o espectador. Sentimento provocado: excitação.

Suspense: o protagonista sabe menos do que o espectador. Sentimento provocado: angústia.

Essas obviamente são simplificações grosseiras, e nem sempre são verdade, mas justamente por serem simples podem ajudar a entender mais facilmente. Não esqueça também que uma obra pode ter mais de um desses gêneros simultaneamente, e que mesmo obras que primariamente são de gêneros totalmente distintos (por exemplo, épicos ou aventuras) podem apresentar elementos de alguns deles.

Ficou grande esse artigo, espero que tenha gostado. Até o próximo!

 

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