Pense que você pode parar o tempo. Em um mundo onde apenas você consegue ter a perspectiva de passagem de tempo, o que você faria? Usaria isso para roubar? Talvez cometer pequenos delitos? Bom, desde que não mate ninguém, não há problema. – Calma, eu não tenho intenção de fazer apologia a crime nenhum.

Kokkoku certamente foi um dos animes mais promissores que acompanhei neste início de ano, onde a premissa era relativamente batida, mas foi trabalhada (até certo ponto) de uma maneira extremamente agradável ao meu pensar. Logicamente não conseguiu manter o mesmo nível, nos três últimos episódios o negócio tropeça, e tropeça feio, chega um tempo que você até chega a torcer para que acabe logo, pois não há mais nada o que explorar. Kokkoku daria para acabar tranquilamente com dez ou onze episódios, claro, se dessem uma boa enxugada em coisinhas desfavoráveis para a premissa do anime.

Os personagens inicialmente são interessantes, o problema é que o roteiro não ajuda a trabalha-los da maneira mais eficiente possível. Você tem o caso da Majima que é resolvido, você tem o caso do Takafumi (que nunca teve e deveria ter foco) resolvido, você tem o caso do principal vilão resolvido, mas fora isso, o que você tem? O Tsubasa só é importante no começo, de certa forma ele faz o roteiro andar até certo ponto; a Juri como protagonista é horrorosa, ela só começou a ser “mais humana” nos últimos episódios, onde é apresentado o drama de ficar sozinha no estase, e talvez esta seja uma das duas coisas realmente pertinentes nos episódios finais.

No início, Kokkoku apresenta um conceito e logo depois explica na medida em que vai apresentando mais coisas sem explicação e explicando no futuro, e isso é um dos pontos que mais gostei no anime, pois ele te deixa sempre no anseio por respostas e novas questões. O que vai acontecer agora? Como vão explicar isso? O que ele vai fazer? São questões que você provavelmente se pegou pensando enquanto via os episódios, e bem, também aconteceu comigo.

Por outro lado, o novato Geno Studio fez um bom trabalho (na medida do possível) com a animação – que na verdade não ficou tão boa, mas no geral, não é de fato ruim – e a trilha sonora, bom, a trilha sonora sim me agradou bastante, desde a abertura e encerramento até as partes mais tensas do anime, o estúdio acertou em cheio ao passar o tom exato que as cenas pediam, pelo menos, na maioria das vezes.

As explicações de mundo são feitas de uma forma simples e agradável. Algumas vezes é usado física para explicar o mundo, e em outras, é usado um pouco de nutrição. Bom, sobre física eu entendo muito pouco, então não é como se eu pudesse falar que é verossímil, mas sobre nutrição me agradou bastante, pois as explicações realmente fazem sentido nutricionalmente falando. A construção de fibra muscular, o transporte de nutrientes e reparo das células é explicado de uma forma simples e plenamente entendível até para quem é leigo no assunto.

Também nos é apresentado um vilão que inicialmente é apenas um mandante por trás de uma organização, mas que logo vem a se tornar uma pessoa mesmo, na medida em que ele vai abandonando sua humanidade e as coisas sobre ele vão sendo reveladas, ele vai ficando cada vez mais humano, e isso chega a ser irônico. Sagawa não é de fato mau, ele apenas tem seus motivos, e para ele, os fins justificam os meios. Bom, você deve saber que eu tenho problemas com vilões “vítimas da sociedade” certo? Eu prefiro quando o cara é mau por ser mau e ponto, não quando ele sofre, tem uma vida ruim e é moldado no caminho sombrio, isso eu já vi muito em várias outras mídias. No entanto, na medida do possível, ele até que é um bom antagonista. E essa é a segunda coisa pertinente nos episódios finais do anime.

Enfim, Kokkoku é de fato um anime que vale a pena ser visto pelo seu conceito e forma de trabalhar o mundo, no entanto, a maioria dos personagens não agrada, a animação também não é espetacular, mas eu espero que você tenha visto a abertura, por favor, não pule essa abertura! Chega a ser pecado fazer isso.

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