Mori sempre foi reservado e contido – exceto quando o assunto é a Mei -, mas ele guardava um grande peso que o impedia de ir pra frente e ver novas possibilidades. Embora não desse mostras a ninguém, o seu interior era como um recipiente cheio de água, aguardando apenas mais uma gota pra transbordar e se externalizar de vez.

Elise surge como um mistério meio tenso, sendo que na verdade ela é apenas a ponta do grande novelo embolado que o próprio rapaz bagunçou e há muito tempo já não sabia mais como desatar nenhum dos nós.

O que externaliza de fato os problemas internos dele, é a sua própria condição em relação a Mei e tudo que os envolve nesse momento. O quase casal se ama, já fizeram declarações abertas e tudo mais que seria necessário exceto beijo para provar tal sentimento – só que os pormenores ainda permeiam a relação.

Mori deu mostras que sabe da situação de sua amada, mesmo ela não o contando, contudo os dois estão vivendo em “planos diferentes” em relação a isso. Ele está sofrendo antecipadamente cada segundo antes da suposta partida, já Mei depois do diálogo com Charlie, assumiu que permanecerá naquele mundo e está agorando desfrutando os bons momentos de sua paz.

A aflição pela qual passa faz com que Mori retorne lembranças ruins que tinha acerca de ficar sozinho e é aqui que Elise entra, tanto pra explicar como para solucionar essa equação simples. A fantasminha camarada fazia parte do passado que ele tanto tentava esquecer e que lhe era tão vivo e presente.

Depois de presenciar o desânimo do escritor, Mei acaba recebendo as informações que precisava. Elise era uma antiga namorada de Mori e tinha ficado para trás devido as investidas familiares que sofreram – e ele acabou sucumbindo e aceitando.

Penso que ele se colocou numa situação bem difícil quando aceitou a imposição da família e a deixou. Dá pra imaginar que ele valorizava o nome que tinha, assim como infelizmente no passado também existiam uma série de regras que as pessoas não faziam muito esforço pra fugir, por causa das consequências que enfrentariam mais a frente.

Ainda assim, o que de fato assombrava mais o rapaz? O possível ressentimento que Elise tinha ou a própria consciência pesada dele, sabendo qual era seu real desejo e agora motivo de arrependimento?

É engraçado que Elise aparece em um momento bem específico, sempre o interrompendo quando ele decide escrever com pesar a sua triste história de amor. Apesar de Mori deduzir que seria ódio – até pela cara não muito amistosa dela – em momento nenhum ela se pronuncia de forma negativa ou reage atacando como os demais seres espirituais que já vimos.

A fantasma parece apenas tocá-lo como se quisesse o despertar para algo ou fazê-lo refletir sobre certas coisas, antes que pusesse suas ideias no papel. Ela tinha uma mensagem que não estava sendo captada pelo medo que o rapaz tinha de suas próprias memórias.

Presenciando o sofrimento do amado, Mei decide intervir e fazer algo para que ele voltasse a escrever e desse a volta por cima nessa história triste. Shunsou a fez perceber que do seu jeito, Mori estava querendo vencer o seu próprio passado, para que pudesse olhar ela com a dignidade que merecia – mesmo que na sua mente ele esteja a passos de ser abandonado na noite de lua cheia.

Nesse trecho o que me chamou atenção é a posição de Shunsou. Eu tinha dito isso uma vez e reforço, o que é bacana em Meiji Tokyo é que os personagens masculinos tem respeito ao próximo, mesmo cada um tendo lá suas particularidades e vontades.

Mesmo tendo se encantado com Mei, o pintor não invade o espaço ao qual não pertence, ao contrário posso dizer que ele até ajuda demais o casal. Todo episódio ele dá dicas sobre Mori e une os dois em pequenas doses nos outros momentos – aqui não foi diferente e ele fez a parte dele como um amigo friendzonado que sabe perder com classe.

Depois de chegar ao limite de suas forças, Mori decide jogar a toalha e entregar a vitória a Elise, que o olha com uma insatisfação horrorosa, até a chegada de Mei. Mesmo bancando o forte e equilibrado, o escritor estava completamente fragilizado e assustado – ainda não entendendo a mensagem de sua antiga parceira.

E com o toque da amada, Elise se aproxima e ele consegue enxergar no semblante dela, o real significado de tudo o que veio fazendo ao longo desses anos. Ela não buscava vingança, apenas estava atrás de ensinar o caminho do futuro.

Pra mim fica perceptível que a fantasma não deixou mágoas para trás e também não queria que ele guardasse rancor de si mesmo ou do que viveram juntos, por isso ela o impedia de escrever do modo como ele estava. O desespero só transformaria algo simples e que foi bom enquanto durou, em uma fonte de depressão e sofrimento desnecessária.

Um evento bem curioso nessa história é que embora fosse “fruto” da mente de Mori, Elise era o primeiro fantasma que Mei não podia ver, sendo que outros seres imaginários como Shirayuki e o gato preto de Shunsuke ficaram visíveis a ela – esse pedaço não fez muito sentido, mas quero acreditar que existe uma boa explicação para tal.

A relação dos protagonistas se solidifica mais com o evento e depois de ver a força do amor brilhar intensamente e salvar uma vida, Shunsou se move e decide que o sumiço do “gato preto” não o impediria de pintar – até ele ter um troço esquisito e o bendito gato dar as caras repentinamente.

Esse gato seria na verdade os “olhos” do pintor? Talvez uma maldição? Qual é o mistério por trás das habilidades e sentidos dele? Ainda não sabemos, mas Meiji Tokyo está se concluindo e a hora da decisão final de Mei se avizinha.

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