Não gosto de atrasar artigo de episódio, mas por motivo de força maior tive que fazer isso com o 16 de Boogiepop, só que para minha sorte a combinação do 16 e 17 em um artigo foi bem interessante e tendo muito o que comentar sobre esses dois ótimos episódios posso garantir que fiquei animado para o fim do anime, mas ao mesmo tempo triste já que terei que me despedir dessa belíssima obra.

Boogiepop me pegou desprevenido no início de 2019, virando uma obra que sempre terá um espaço reservado no meu coração. Enfim, ainda não é hora de despedidas, vamos até os atos antes do final!

Um dos poucos descontentamentos que vou ter com este anime é o fato da Suema não ter tido um maior aprofundamento em qualquer um dos arcos dele. Em compensação, as suas participações, quando tiveram alguma relevância, foram sempre ótimas, ainda que mínimas como a do episódio 16.

Acho interessante como ela se interessa pelo sobrenatural, pelo oculto, pelo incomum, mas é cética, e não digo isso de forma negativa, pelo contrário, pois o ceticismo dela é bem coerente. Se o que ela quer é entender as coisas verdadeiramente, não pode aceitar tudo que é dito a ela sem uma reflexão e consideração das outras possibilidades.

É o que ela faz quando explica à presidente sobre múltiplas personalidades, oferecendo a ela uma explicação que mais do que permitir um paralelo entre a Kei e sua rival no amor, Miyashita Touka, a permitiria chegar a uma resposta para o que estava ocorrendo.

Pode até parecer meio bobo, mas a cena seguinte em que Boogiepop também deixa claro que possui desejo reforça as palavras da Suema até de maneira forte. Se pensarmos em Boogiepop como sendo, o que não necessariamente negaria seu caráter “automático” de ser, uma outra face da Miyashita há como afirmar a crença da Suema e, ainda assim, não negar o “transtorno dissociativo de identidade”.

Mesmo que Boogiepop não sinta sua própria existência, ela é “real”, está viva e interage com outras, então seria leviano dizer que não tem personalidade; suas tendências, características das mais distintas possíveis – como suas expressões charmosas ou sua fidelidade ao seu “propósito”. Ser assim pode muito bem caracterizar Boogiepop como um algo particular a Miyashita sem desmerecer a ideia de que Boogiepop é um mecanismo de defesa praticamente natural do mundo.

Aliás, eu acho que juntar as duas ideias faz mais sentido. Isso não nega as múltiplas personalidades, só dá a elas um viés ainda mais intrínseco ao humano, o interpreta como algo que em si depende muito dele, que se vale até mais do subconsciente subvertendo o consciente, da fuga ou do esforço para alcançar o que não seria possível – ao menos segundo o subconsciente da própria pessoa – senão em outra persona.

Isso casa muito bem com a conclusão na qual a presidente chegou, mas antes de comentá-la eu creio que seja melhor discutir alguns pontos sobre os casos da Saki e do Makoto e, por experiência própria – espero que não se incomode por ler um pouco sobre minha vida pessoal –, posso concordar com o que o Rei da Distorção falou à Saki.

Não porque esqueci completamente daquilo que remoo e sim porque cada vez mais que penso sobre, mais vou ficando em paz comigo mesmo. Ainda não consigo parar de remoer algo que aconteceu comigo, não entrarei em detalhes, mas a cada dia me culpo menos e esse não é o caso da Saki. Mas é aí que o paralelo entre o ouro e os sentimentos pode reter a sua “forma”.

Se ouro é tudo aquilo que reluz, mesmo que não seja ouro de verdade, então sentimentos são como o ouro, pois não importa se tais sentimentos são “naturais” ou “fabricados”, eles são o que a pessoa realmente sente e o que deseja sentir. As palavras de Boogiepop para a Saki tocam bem nessa ferida, pois são um ponto de vista sobre o qual os personagens e as suas ações podem ser interpretados de uma maneira mais humana, e até autoexplicativa.

Como pergunta-se em um verso da abertura, e eu já comentei em outro artigo, “Você é capaz de ver o significado dentro de si?”, o significado está nas pessoas, dentro delas, é algo que transborda de dentro para fora como ocorreu nesse arco do anime.

O Zooragi interferir no mundo real, ainda que em menor escala em comparação ao estrago na mente da criança, foi a prova irrefutável disso, de que os remorsos de cada um estavam transbordando e se chocando, se sobrepondo ainda que sutilmente.

Aliás, admito que fiquei surpreso por esse kaijuu ser a versão de pai que o menino criou em sua cabeça. Um remorso menos aleatório do que achava, mas ainda é confuso. Uma interpretação distorcida da realidade, até compreensível para um garotinho.

O motivo que o levou a pensar na figura do pai assim não foi esclarecido, e posso supor que foi, porque ele tinha medo de que ele o tirasse da sua mãe ou fosse uma má pessoa, mas, no fim das contas, isso não importa muito. A cena de bungee jump foi inusitada e divertida, e mesmo o uso mais perceptível do CGI em certas cenas não atrapalhou em nada a qualidade e consistência desses episódios.

Entre o episódio 16 e o 17 a certeza de que o prédio irá ruir, e isso ocorrerá no 18, é praticamente dada, mas ainda tenho coisas interessantes a comentar sobre o primeiro, me refiro às cenas da Kei e do Habara. O Habara tenta pedir ajuda, mas não consegue, e se o que a Kei diz pouco depois for verdade, não há porque não ser, esse impedimento foi o ato de seu próprio coração, de seu próprio inconsciente que, e até já esperava por isso, deseja ser diferentão para ficar à altura da Nagi.

Ele não mudou de visual e até de atitude por acaso, né, ainda que não tenha sido algo pensado, pois muito do que fazemos não refletimos para definir a causa, apenas sentimos que a mudança é necessária. Sobre a Kei, ela alcança a resposta que satisfaz a pergunta sobre o que exatamente está acontecendo e isso não significa que ela conseguirá se libertar prontamente, mas está mais próxima disso.

Fiquei ainda mais curioso sobre o motivo do remorso dela aparecer como o Saotome, talvez porque, como presidente, ela falhou em salvá-lo e isso seja a afirmação de que, apesar de tudo, ela tem mesmo o perfil de uma “presidente”? Não duvido. O fato é que, enquanto a Kei deseja sair desse experimento, a Saki deseja cada vez mais se afundar nele e acabar sendo vencida pela culpa.

A ação de Boogiepop também é crucial aqui e não se precisa de bungee jump para isso, apenas de fortes argumentos de alguém que deve ter dado uma espiadinha no que escapou de dentro do coração da garota. A ideia de distorção de quem ela é, de que os sentimentos dela são genuínos e por isso podem ser considerados ouro, é interessante por fazer bastante sentido.

Se ela se culpa tanto por algo que, honestamente, eu não acho que seja para tanto, é porque ela, na verdade, se importava demais e até o seu “esquecimento” era devido a temer ser engolida pelo quanto ela se importava com a desavença com sua amiga antes da morte dela.

Não acho que a Hina se importaria com isso, na verdade, se ela era tão boa com certeza perdoaria, mas a Saki não se permite pensar assim e hiperboliza o seu “crime” porque ela é uma pessoa, de fato, gentil. É tão gentil que não consegue se perdoar pela vez em que não foi assim. A amiga ter morrido justifica a atitude da Sakiko, assim como sua fixação com a ideia de que morrer pagaria os seus pecados.

Acho que isso resolveu, ou encaminhou, bem o problema dela, e foi mais uma “prova” de que Boogiepop é um ótimo conselheiro que até então soube guiar bem os muitos caminhos daqueles em seu entorno, o problema é que há duas partes que ainda não interagiram com o shinigami, o namorado da doceira Touka, porque ela vive dando bolo no coitado, e os boys apaixonados pelas garotas que eram amigas.

Fiquei curioso para saber qual vai ser a parcela de envolvimento do Takeda no fim e também gostaria de entender o que ele remói sobre a namorada; talvez que o seu interesse por ela tenha aumentado devido o advento de Boogiepop em suas vidas? Esse é um motivo para se culpar? Não de acordo com as palavras da Suema.

Se não isso, o que poderia ser? Talvez algo pior? Espero não ver algo de “ruim” sair de um personagem que Boogiepop respeita, pelo qual tem um interesse peculiar. Isso eu não quero que seja, mas não sei o que esperar, não depois do que rolou com o Shirou; se era ele mesmo.

Habara e Shirou foram de encontro ao topo, a ideia de que Teratsuki Kyouichirou era quem estava no controle de toda aquela situação e eles não estavam exatamente errados; mas o quanto essa tomada de decisão foi compartilhada e o quanto foi induzida pelo Shirou?

Logo que ele disse que tudo aquilo, apesar de ser um raciocínio coerente, não passava de um blefe, eu comecei a ficar ressabiado sobre o personagem. Aliás, o sumiço do funcionário e o fato de que até agora nada “emergiu” de dentro para fora do Shirou são pontos que me deixam insatisfeitos sobre o arco, mas que podem ser importantes no final, então ainda não vejo porque considerar um problema.

O problema é que a expressão insana dele preocupa, mas torna o fim ainda mais interessante. O que o Shirou – ou esse falso Shirou – fará? O Habara corre perigo? A referência à música do Led Zeppelin foi só estilo ou possui uma explicação?

Em todo caso, acho que só me resta comentar o discurso que nem foi enigmático de verdade e o que eu espero do desfecho. Foi enigmático para o Habara porque ele não conhecia a Organização Towa e foi meio que jogado no meio daquilo tudo, então entendo ele não ter sacado que o Kyouichirou é um rebelde que, ainda depois de sua morte, buscou ir contra o fluxo, lutar contra o sistema imposto pela Organização Towa, ou se não imposto, maleado por ela.

Mesmo que tenha sido só para contestá-la o fato é que o Teratsuki se tornou perigoso e demonstrou isso com tal acontecimento, “florescendo” a ideia na cabeça de quem quer que tivesse alcançado aquela sala, criando um ou mais inimigos para a organização que o criou.

É engraçado como todos os humanos artificiais da organização que tem um pouco mais de aprofundamento se rebelam contra ela de diferentes formas. Com o Spooky E não foi assim, é verdade, mas ele faleceu mais como a ferramenta de roteiro que o personagem interessante que os do arco anterior – o Teratsuki conhecemos lá, né – foram.

Então, não tenho porque não ver o que o autor está tentando mostrar com isso, que o domínio do fluxo e as barbaridades advindas dele têm seu preço. Não que isso importe a Organização Towa, que deve produzir humanos como desejar.

O discurso “grandioso” do morto me faz pensar em algo que ainda não havia comentado nos artigos, que a Towa deve ser maior do que apenas “Towa”, sendo esse o ramo localizado no Japão, já que se eles são o sistema e controlam o fluxo do mundo das sombras é normal pensar que estejam em todo lugar e interfiram com a vida humana de todo tipo de forma.

Okay, okay, isso não parece ter muito a ver com o arco e acho que já me estendi demais, mas outra linha aguçou minha curiosidade. O Rei da Destruição é mesmo cria do Teratsuki? Se não é, por que está fazendo o experimento na Torre da Lua?

Trata-se de mais um fantoche da organização Towa? Devemos saber em breve, o importante é que o avanço na trama de alguns personagens ocorreu e o episódio 17 terminou instigando o telespectador a acompanhar o próximo e derradeiro.

Nada está assim tão decidido, ou completamente explicado, e eu sei que Boogiepop não explica tudo e mais sucinta a reflexão, mas ainda há uma ou algumas peças fora do lugar e acredito que logo esse quebra-cabeças será, do modo mais bacana possível, findado!

Sessão de expressões faciais do shinigami Boogiepop