Bom dia!

Que final de primeiro cour, hein?

Para definir a atmosfera o episódio começou com uma brevíssima recapitulação da história do Hyakkimaru e dos eventos que o colocaram cara a cara com seu pai, Daigo Kagemitsu.

Depois da abertura (esse provavelmente foi o último episódio em que a veremos, o próximo deve vir com uma nova, para não esquecer dela assista o clipe oficial no Youtube) todos os personagens fazem seus movimentos e reflexões ao longo do episódio e, de um jeito ou de outro, todos são reunidos no final, onde laços familiares, poder, o bem e o mal se chocam violentamente.

O desmoronamento de Banmon é profético: nada mais será como era antes.

 

Banmon desaba

 

O infortúnio de um povo se tornou questão pessoal e familiar para Daigo Kagemitsu, seu senhor, para quem, por sua posição, direito e dever, o povo faz parte de uma espécie de grande família estendida. Deu seu filho primogênito em sacrifício.

Dezesseis anos depois ele volta, vivo, chacoalha as relações familiares de Kagemitsu e coloca o destino de todo o povo de Daigo em jogo mais uma vez.

Colocado nesses termos, a questão toda parece grande demais para qualquer personagem individualmente. Kagemitsu é o único que, como o senhor do domínio, busca se responsabilizar por tudo, mas no fundo ele próprio é impotente também. Mas o que isso significa para Hyakkimaru?

Ele nem sabia que era filho de alguém tão importante. Ele nem liga, nunca ligou, na verdade. Ele não sabia que tinha uma família. Agora ele descobriu que tem um pai, uma mãe e até um irmão. A ideia de ter uma mãe pelo menos chega a arrancar-lhe um sorriso tímido.

 

Hyakkimaru sorri quando pensa na ideia de ter uma mãe

 

Mas Kagemitsu, que o sacrificou em primeiro lugar, não tem a menor pretensão de voltar atrás. Não importa a essa altura no que ele acredita, embora quase certamente ele acredite que está certo. Em sua posição, pelo orgulho de samurai, ele deve apenas seguir em frente e encarar as consequências de suas decisões. Hyakkimaru não deveria estar vivo.

Tahoumaru, um samurai ainda em formação, entende imediatamente a monstruosidade do que fez seu pai, mas é lembrado por esse que essa é só metade da história. Se quer conhecer a outra, deve visitar o Templo do Inferno.

E assim ele procede. A presença demoníaca do lugar o convence. Ele desafia Hyakkimaru – puxar para suas próprias mãos é sua forma de assumir a responsabilidade. O pacto demoníaco continua sendo hediondo, mas não é possível trocá-lo pela destruição do domínio.

Nuinokata, esposa de Kagemitsu, nunca aceitou tudo isso. Por essa razão ela rezava todos os dias para a estátua sem cabeça como se pedisse perdão. Mas ver Hyakkimaru a fez perceber que ela estava apenas sendo hipócrita.

Hyakkimaru está ali, vivo, se ela quer mesmo mudar o que fez, a hora é agora. Mas ela não pode. Nuinokata entende que a salvação de Hyakkimaru é a danação de todo o povo do domínio de Daigo, e, mesmo com muita dor no coração, ela não pode fazer essa escolha.

A mãe de Hyakkimaru reconhece que o que estão fazendo é apenas devorar, como demônios, a vida de seu filho, e por isso ela não pode fazer mais nada a não ser pedir seu perdão. Para expiar, ao invés de inutilmente rezar, ela tenta derramar o próprio sangue.

 

 

Os demônios de verdade assolam a terra e devoraram os membros de Hyakkimaru, mas para o povo de Daigo agora é Hyakkimaru quem é o demônio, a ameaça maligna. Nuinokata enxerga diferente, e entende que eles, que prosperam graças ao sofrimento de Hyakkimaru, é que são os demônios.

Em todo caso, quem é demônio e quem é humano não importa se necessariamente Daigo estará de um lado e Hyakkimaru estará do outro. Tendo perdido a sua família, é Dororo quem tenta confortar Hyakkimaru: promete estar sempre ao lado dele, independente de que lado seja esse.

A conclusão do arco do Sukeroku é o outro mundo impossível para os dois protagonistas párias: anos separado de sua família, e mesmo depois de já ter perdido a esperança, eles o reencontram. Um final feliz.

 

Sozinhos no mundo, Dororo e Hyakkimaru só contam um com o outro

 

Vagando durante todo o episódio, Biwamaru pôde apenas observar. O monge, cego, é o observador da história. Diz muito sobre o que resta de poder divino na terra.

O budismo não é sobre felicidade terrena, não é sobre um poder sobrenatural que ajuda as pessoas, mas sim sobre alcançar o equilíbrio absoluto e se livrar do ciclo de reencarnações, que só provoca sofrimento. Assim, não faz muito sentido rezar para Buda ou os bodisatvas pedindo para que derrotem os demônios, mas no mundo de Dororo, o Japão Sengoku, parece que os demônios foram tão longe que sequer adiantaria tentar de todo modo.

Viver para ser carne barata em um banquete demoníaco não exatamente ajuda alguém a alcançar o equilíbrio. É aí que entra o Budismo da Terra Pura Verdadeira (Jodo Shinshu), o qual já mencionei em artigos anteriores. Uma vida de fé não salva, mas pode garantir a reencarnação na Terra Pura, uma espécie de paraíso onde os bodisatvas ajudam as pessoas a atingir o nirvana. O mundo humano, porém, é um lugar miserável e condenado. Como o Japão Sengoku.

Não há nada substantivo que poderes divinos possam fazer pelas pessoas. Por isso Daigo Kagemitsu apelou aos demônios. Por isso Nuinokata rezou inutilmente por anos, para finalmente desistir.

Em uma terra abandonada pelos deuses e infestada pelos demônios, não há nada que uma pessoa possa fazer. Exceto Hyakkimaru, é claro. A criança maldita cresceu e é a única pessoa capaz de escolher o destino do mundo. O paraíso ou o inferno? Em qualquer caso, provavelmente não será para ele.

 

Biwamaru recolhe o ídolo sem cabeça que Nuinokata abandonou

 

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