Pokémon: Detetive Pikachu (Live action americano) – Uma carta de amor a Pokémon
Pokémon: Detetive Pikachu é uma aula de como fazer uma adaptação de franquia dar certo porque o filme tanto se sustenta como história isolada, quanto homenagem aos monstrinhos que há décadas e décadas fazem a cabeça das pessoas no mundo todo.
Detetive Pikachu é um jogo da franquia e como consumidor apenas do anime – que vi na infância –, e do jogo Pokémon Go, não sabia que existia até a notícia do longa bater a minha porta e, claro, tinha que ouvir seu chamado, pois é a primeira película live action da franquia, e uma que faz uma abordagem inusitada em um universo que tem diferenças e semelhanças se compararmos a premissa da série de jogos original.
É hora de Pikachu no Anime21!
Uma coisa legal do universo do filme é que nele treinadores Pokémon existem e a sociedade convive, claro, com seus prós e contras, com as criaturas de forma natural.
Pokémons são parte importante do dia a dia das pessoas, mas não para Tim, um vendedor de seguros que não tem seu próprio Pokémon – em um mundo no qual é normal que as pessoas tenham um –, e se ressente com o pai, um detetive que vive na cidade modelo para o convívio de humanos com Pokémon: Ryme City.
É coerente pensar que o garoto não tem um Pokémon por isso, como se o pai tivesse preferido um Pokémon a ele, e ao longo do filme esse ressentimento, pela distância que ele mesmo colocou entre ele e o pai, vai sendo muito bem aprofundado, mostrando ao público o que o garoto, agora homem, sente com tudo isso e como decide consertar as coisas.
O pai ser dado como morto – e na verdade estar desaparecido – é o ponto de partida para a história que apenas cita os treinadores Pokémon e a vida de batalhas, mas se desenrola mesmo é em torno da manutenção da vida harmoniosa e de cooperação entre as raças.
Se dissesse que esperava que a primeira adaptação em live action de Pokémon fosse ser assim então eu estaria mentindo, ainda mais com essa produção que acertou em cheio nos efeitos especiais que dão vida aos monstrinhos.
Não é só o Pikachu que tem uma personalidade forte e parece bem vivo, todos os outros Pokémon ficaram tão naturais em tela que é difícil não se encantar vendo os movimentos e os traços de comportamento deles ganhando vida.
Para mim que não sou tão fã de Pokémon, foi uma experiência super agradável, então não imagino como os mais aficionados devem ter se sentido, mas esteja certo disso: é praticamente impossível não curtir os Pokémon do filme, principalmente o que é talvez a mascote mais conhecida e amada desse planeta.
Sim, me refiro ao Pikachu, e dessa vez não o Pikachu louco por batalhas do Ash, mas o parceiro detetive do pai de Tim; com direito a boné, o vício fofo e inusitado em café e uma personalidade para lá de divertida, que só pode ser explorada em sua totalidade graças ao entendimento do que ele fala por parte do protagonista. Algo que é explicado só mais tarde no longa e de uma forma boa.
Aliás, a história em si é excelente, não deixam pontas soltas pensando que ninguém iria ligar para isso por se tratar de um público infanto-juvenil, até porque tem uma parcela de público que cresceu jogando os jogos e vendo o anime que esperava algo consistente e bem feito.
Também não é uma obra prima, longe disso, mas se tem equilíbrio entre a adaptação de uma franquia com um teor mais infantil e uma trama que mexe com temas sérios. Isso é algo que fica claro com o desenvolvimento do protagonista, mas também com a inserção da co-protagonista que é uma clara homenagem a primeira heroína do anime original, Misty – ou Kasumi para os íntimos.
Ela é sonhadora, tem um Psyduck e uma personalidade arrojada, deseja subir na vida e tem coragem de se arriscar para isso.
Há uma tensão romântica entre ela e Tim, mas isso fica apenas como um extra sem grande relevância, o importante é que ela ajuda o garoto a ir a fundo no mistério da morte do pai e é carismática, agrega a comédia já muito favorecida por um Pikachu falante, e muito agitado.
Mas nem só de comédia vive o longa, a investigação da droga que torna Pokémons raivosos em uma cidade na qual eles deveriam coexistir pacificamente com o ser humano traz seriedade a trama por deixar claro que há um vilão, há uma intenção de subverter o status quo e isso está diretamente ligado ao sumiço do pai, assim como o fato do Pikachu ter sobrevivido ao ataque e Tim conseguir entendê-lo.
Tudo, ou quase tudo, é visto primeiro de um modo, para depois mudar com mais informações, o que é comum em histórias de detetives.
Nesse aspecto acho que a trama foi bem porque desde o princípio as ações do vilão parecem suspeitas se você parar e observá-las com atenção; algo difícil de fazer quando você está empolgado com o filme, eu sei, mas não impossível, ainda mais com um desenrolar no qual o pai do protagonista e o próprio Pikachu são vistos com certa desconfiança depois que novas informações vêm à tona.
Como é normal que os mocinhos não façam nada de errado ou, na pior das hipóteses, se esforcem para consertar um erro, fica fácil a partir disso assumir que a versão falsa é a que Pikachu e Tim recebem, restando a eles confiarem em seus instintos e no laço criado entre os dois para encarar uma ameaça que vem de dentro do sistema.
Gosto de como tem adultos que tentam consertar o que fizeram e adultos que tentam insistir no erro, o próprio Tim já é um adulto que ao longo da jornada vai se dando conta do quanto o pai era importante para ele e do quanto ele quer reaver a relação que se perdeu entre os dois.
Acho que a única coisa que não me agradou tanto foi a motivação do vilão, isso achei forçado dado o poder do qual ele dispunha. Posso culpar sua idade avançada ou a enfermidade que o afligia, mas no fim das contas foi uma saída que beirou a infantilidade.
O plano até poderia dar certo naquele momento, mas qual era o benefício para ele a longo prazo? Ajudar a humanidade sem consultá-la, e forçando os Pokémon a se submeterem? É algo difícil de imaginar vindo de alguém que idealizou e construiu uma cidade para o convívio harmonioso entre as raças.
Acho esse o grande erro do filme, mas, felizmente, um que não o põe a perder visto que os outros personagens e suas tramas são todas muito bem utilizadas a fim de reaver o canal de comunicação entre pai e filho – fazendo Tim sair de sua concha, se não se curar completamente, ao menos dar os primeiros passos a fim disso.
No que tece ao vilão, faltou aprofundar suas motivações e ainda que isso tivesse sido feito duvido que se justificariam suas atitudes. Por fim, é verdade que o filme acaba tendo algumas cenas de batalhas, só que é Pokémon em um contexto de subversão da harmonia entre as raças, então entendo haver isso.
Outra coisa legal foi a forma como os Pokémon foram tratados, não que eu goste de vê-los passando por experimentos, mas isso reforça que são seres vivos, e justifica o uso de Pokémon para o plano de dominá-los.
Além disso, e um dos maiores acertos do filme, a produção acerta em cheio na nostalgia, tanto ao usar de uma trilha sonora recheada de faixas que tenho certeza que vem dos jogos clássicos – se não são iguais, ou novas roupagens, são inspiradas por eles – e que, por sinal, encaixaram muito bem nas cenas; quanto ao espalhar easter eggs que até um fã mais “leigo” como eu conseguiu pegar.
Pokémon: Detetive Pikachu é um filme para a família toda e um indicado principalmente para quem gosta de Pokémon, mas também para quem nem tenha ideia do que é isso, o que, sejamos honestos, é quase impossível no mundo globalizado em que vivemos e não se cansa de criaturas tão fofas feito essas. Se você ainda não viu, corra para o cinema ou espere o dvd/blu-ray e divirta-se!
Até a próxima!