A Bocchi tem um livro chamado “Como fazer amigos: Método que até um macaco entende”. Pois bem, a amizade não é algo tão simples que até um ser irracional compreenderia toda a sua essência. Aliás, nem nós, seres racionais compreendemos todas as nuances por trás dessa palavra tão fácil de se pronunciar.

Procurar uma explicação técnica para saber os motivos que nos levaram aos amigos que temos é uma perda de tempo, além de ser algo frio demais. É óbvio que razões sociais, de personalidade e até mesmo geográficas são explicações plausíveis para se explicar cada uma de nossas amizades, mas essas coisas estão longe de esclarecer tudo sobre o assunto. Podem até tentar descobrir razões científicas para todos os tipos de sentimentos, mas é bem mais interessante senti-los do que tentar descobrir explicações racionais sobre eles.

Bocchi mal conseguiu fazer sua primeira amiga na nova escola, e já teve que enfrentar sua primeira crise. Bocchi só teve uma amiga em toda sua vida (que ainda é curta), e parece que ela nunca teve desentendimentos ou brigas com a Kai. Ou seja, a nossa heroína passou por uma situação inedita quando Nako ficou brava com ela. Não foi com livros, manuais ou técnicas secretas que ela teve que resolver essa pequena crise de relacionamento.

Brigar com amigos não é o fim do mundo. Existem casos que velhos amigos brigaram feio ao ponto de um socar o outro, mas que no dia seguinte já estavam se abraçando com se nada tivesse acontecido (a Bocchi ficaria horrorizada se soubesse deses casos).

O lado bom é que no meio dessa pequena crise é o fato da protagonista ter conhecido a Aru. E por falar nela, essa personagem também tem seus próprios desafios na vida escolar, assim como a nossa heroína. Mas diferentemente da Bocchi, Aru, inicialmente, estava mais preocupada com aparências. Querer se livrar de uma imagem negativa é válido, mas para isso ela escolheu transparecer o que ela realmente não é. Não é como se ela fosse falsa, o que de fato ela não é. Por outro lado, ela passa uma impressão de que a mesma não encara o problema dela de frente assim como a Bocchi encara seus próprios problemas.

A relação da Aru com a Nako é bem natural e apresenta uma verossimilhança com a realidade. Afinal, amigos fazem piadas, zoações e provocações uns com os outros. Há provocações entre elas, mas no fundo há um carinho mútuo também. Essa amizade entre pessoas tão distintas foi possível graças a um ponto em comum: a Bocchi.

Não existe um método infalível para se conseguir um(a) amigo(a), afinal, cada caso é um caso. A Nako tem uma personalidade, a Aru tem outra completamente diferente da Nako, e a menina estrangeira é totalmente diferente das duas citadas. Então a Bocchi é obrigada a agir de forma diferente com cada uma delas, e isso é bom pois com as diferente amizades que possuímos, nós nos reinventamos e descobrimos coisas novas sobre nossos amigos e, principalmente, sobre nós mesmos.

A Sotoka Rakkita (Sotca Luckythar) tem uma relação de amizade bastante peculiar com a Bocchi, e por mais que elas não sejam amigas “oficiais”, elas possuem sim uma relação de amizade, mesmo que por motivo bem singular. Aparentemente, antes da Bocchi aparecer ela não tinha amigas. A Sotoca é retratada como uma pessoa chamativa por sua aparência, e talvez isso fizesse com que as garotas de sua turma não se aproximassem tanto.

Aliás, é muito comum personagens estrangeiros chamarem a atenção em animes, gerando desconforto nos outros personagens por se considerarem comuns demais para se aproximar de alguém que se destaca por qualquer motivo.

No terceiro episódio há um grande foco na hospitalidade (também não existe método infalível para receber visitas, mas sim algumas dicas de como se comportar). A Bocchi se preocupou tanto com os detalhes que se esqueceu do mais importante, dar atenção à visita. Nem reparar no visual da Nako a Bocchi reparou. Aliás, a Nako, embora aparente ser uma delinquente assustadora, é uma personagem gentil, dócil e que, assim como qualquer garota de sua idade, também se preocupa com a aparência visual. Mas diferentemente da Aru, ela não faz isso para chamar a atenção das pessoas, mas por se sentir bem. Embora o fato de ser considerada assustadora a incomode e afaste as pessoas dela, isso não a deixa desesperada em querer mudar sua imagem (sorte da Bocchi, da Aru, da Sotoca, e do público que acompanha a série, pois pôde conhecer a verdadeira Nako).

Eu tenho poucos amigos e não visito nenhum deles, mas tem um que me visita constantemente. Eu tento ser um bom anfitrião, mas um problema que ocorre com frequência é a falta de assunto. O amigo em questão não vê animes com frequência, e esse é um dos poucos assuntos que tenho interesse, então fica difícil propor uma conversa. É estranho e desconfortável quando ele fica sentado no sofá e eu fico fazendo outra coisa devido a falta de assunto.

A Bocchi se preocupou com uma possível falta de assunto e preparou um roteiro para manter uma conversa com a visita (no caso a Nako). Saber receber um(a) amigo(a) é uma forma de conquistar a confiança e a intimidade dele(a). Fora o fato de ser algo divertido, assim como visitar um(a) amigo(a) também é importante numa relação de amizade.

Vale destacar neste artigo a parte na qual foi mostrada a dificuldade da Bocchi para falar com vizinhos (e outras pessoas na rua). Essa é uma coisa que pessoas muito tímidas ou com fobia social têm dificuldade. No meu caso, quando vizinhos e conhecidos me cumprimentam eu tento responder mas às vezes a voz não sai.

Como já escrevi antes, não existem métodos infalíveis para se ter amigos, mas existem conselhos e posturas de como agir perante o outro, e o resto fica por conta do quanto você (ou eu) consegue cativar.

A palavra “cativar” é bem famosa no clássico livro “O Pequeno Príncipe”, que, infelizmente, nunca li, mas sei que a amizade é um dos temas principais da obra. Numa passagem muito conhecida, uma raposa diz para o protagonista cativá-la para que ela pudesse brincar com ele. A Bocchi de um jeito único conseguiu cativar a Nako, a Aru e a Sotoca e, além disso, a mesma cria uma rede de amizade pois suas amigas se tornam amigas umas das outras.

Obrigado a todos que leram este artigo.

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