Ficar sozinho durante toda a vida é algo que assusta muita gente. Para escapar dessa situação as pessoas normalmente recorrem a relacionamentos amorosos ou de amizade. Existem os mais diversos motivos que levam a este estado de aparente vazio. No sentido oposto, se tornar excessivamente dependente do outro pode causar efeitos negativos. O equilíbrio é a chave para se evitar os extremos, ou seja, se faz necessário nos relacionarmos com o próximo, mas também é proveitoso tirarmos um tempo para estarmos sozinhos.

Nem só de amizade vive esse anime, pois a temática da solidão se faz presente de forma sutil e cheia de nuances. Veja bem o caso da Bocchi. Ela não está apenas cumprindo uma promessa para reaver a amizade de sua amiga de infância. Ao fazer amizades ela sai de um estado de solidão e de dependência da única amiga que ela tinha. Por mais que a Kai tenha feito uma chantagem emocional com a Bocchi, ela não tinha muito o que fazer dentro do seu alcance. A amiga de infância da nossa heroína tomou uma decisão severa tanto para ela quanto para a Bocchi, mas as intenções foram nobres e graças a isso a protagonista está criando coragem para enfrentar a solidão. A postura da Bocchi em relação a solidão era de temor e sua âncora era a Kai. Quando ela enfrenta suas dificuldades de relacionamentos, as amizades surgem e o temor de uma vida solitária é dissipado. A Bocchi tem como suas principais armas a coragem e a perseverança.

A Aru tem seu próprio método de enfrentar a solidão e que passa por uma coisa muito importante no qual falta ainda para a protagonista: autoestima. Por mais “coitada” que ela seja, a Aru tem uma boa imagem de si mesma e procura ser a melhor versão de si na medida do possível, mesmo que para isso tenha que esconder sua verdadeira natureza. Ainda sobre a Aru, é interessante que ela não caia nas armadilhas da vaidade e da arrogância, pois com a personalidade que ela tem, facilmente a Aru poderia se achar muito maior do que ela realmente é. Com relação a Bocchi, a Aru pode exercitar de forma sincera o altruísmo e também ter a sensação de que verdadeiramente está sendo útil a alguém.

A Nako não teme a solidão, mas isso não significa que ela seja indiferente. Ela ficou super feliz quando a última pessoa da classe que poderia tentar algum contato com ela se aproximou de forma atabalhoada querendo a sua amizade. O fato das pessoas se assustarem com a sua presença dificulta o relacionamento social corroborando para a sensação de solidão, mas ela tem na maturidade e na paciência trunfos importantes para lidar com essa situação. Se a Nako não tivesse nenhum amigo durante todo o ciclo escolar que ela está, essa personagem talvez não ficasse muito incomodada com isso, pois ela sabe que o empecilho causado devido a aparência que ela tem é apenas uma fase.

A Sotoka está longe de casa e da família, o que poderia deixá-la em uma solidão profunda, mas ela tem determinação e foco para seguir adiante. Na Bocchi ela encontra uma amizade sincera travestida de relação mestre-aprendiz. Porém, chegou um dia que a Sotoka queria ser tratada como amiga pela Bocchi. O discípulo apenas segue o seu mestre, mas o amigo anda lado a lado. Ser tratada pelo honorífico “san” ou “chan” faz toda a diferença na questão das relações, pois identifica o grau de intimidade que se tem com uma pessoa. Pequenos detalhes fazem toda a diferença, e é justamente por um detalhe aparentemente bobo que se criou um drama entre a Sotoka e a Bocchi, mas apesar de tudo é necessário um pouquinho de sensibilidade para o drama envolvendo as duas personagens. A Bocchi complica coisas simples e a Sotoka leva a sério tanto seu suposto treinamento ninja quanto sua relação com a Bocchi. Na vida real não é assim tão diferente, pois existem várias pessoas com as quais gostaríamos de ter uma intimidade maior mas não temos por algum motivo, quer seja profissional, distância, tempo ou outro motivo qualquer. No caso do anime, elas já eram amigas desde quando se conheceram, mas apenas por uma questão de mera formalidade, a amizade entre Sotoka e Bocchi não tinha sido oficializada.

Já a Kurai vê a solidão de maneira positiva como um sinal de força. A menina é extremamente rígida consigo mesma e com os outros. Embora seja um contraponto à Bocchi, ela abre uma brecha para que a protagonista a cative. A relação de rivais pode ser considerada uma relação de amizade disfarçada assim como a relação mestre-aprendiz que nossa heroína tinha (ou ainda tem) com a Sotoka.

A ausência de afeto de pessoas muito queridas também leva a solidão. A Oujousa se encaixa perfeitamente nessa situação. Com a falta dos pais ela é grata ao seu mordomo por não deixá-la só. O grupo da Bocchi apareceu na vida dela no momento certo para dar um novo sentindo para sua vida e ensinar uma palavra tão bonita quanto “obrigado” que é “amizade”.

Por fim, mas não menos importante, é válido comentar sobre a professora da turma da protagonista e a Kai. A primeira, embora seja aparentemente tímida, escolheu uma carreira cuja comunicação e a capacidade de se relacionar socialmente são fundamentais. Ela tem uma dificuldade de estabelecer uma relação professora – estudante, pois as suas próprias alunas a tratam de maneira íntima demais, e por outro lado, ela mesma não mostra sua autoridade perante a Nako por um medo excessivo dela, gerando situações engraçadas. Com relação a Kai, ela é a única personagem relevante para a história que não tem dificuldade para fazer amigos, então sua preocupação com a solidão não é com ela própria, mas com a Bocchi, que é uma pessoa a quem ela estima muito. A cena em que elas se encontram foge do tom habitual do anime, porém é fundamental para história porque mostra que ela ainda se importa bastante com a Bocchi e também foi uma oportunidade da protagonista mostrar que está crescendo. A atitude ríspida da Kai é justificável, pois a Bocchi embora esteja cumprindo a promessa, ainda precisa evoluir, portanto não é hora para acomodação.

Obrigado a todos que leram este artigo, e até a próxima!

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