Bom dia!

Por que “sentido da vida” soa tão brega mas “raison d’être” soa tão poético? É só porque é francês? Deve ser por isso. Mas não posso ter um título de artigo em francês em um blog em português, então me perdoe pela breguice.

O Príncipe Canuto teve sua epifania no episódio anterior e descobriu o sentido da sua vida. Da mesma forma, Vinland Saga já havia revelado a raison d’être de Thors e o momento em que ele teve a sua epifania no terceiro episódio.

De lá para cá assistimos um grande elenco de personagens perdidos, em particular Thorfinn, filho de Thors, que não sabem ainda porque vieram a essa mundo ou cujos objetivos são muito mesquinhos para constituírem de fato um sentido para suas vidas.

Daí que não possam ser guerreiros de verdade – ou reis de verdade, mas isso só fazia sentido para o Canuto então já está resolvido.

Tanto o episódio anterior quanto esse sobrepuseram Thors e Canuto, o que à primeira vista pode fazer parecer que ambos chegaram à mesma resposta para o sentido da vida, mas esse não é o caso.

 

Príncipe Canuto, quando declara que pretende enfrentar seu pai, o Rei Sueno

 

É verdade, como escrito acima, que ambos encontraram os sentidos de suas vidas, mas esses não são iguais.

Para não me aprofundar em explicações complicadas demais para mim mesmo (nem sei se entendo esse negócio de “sentido da vida”, sinceramente), vou invocar o Frei Willibald para me ajudar:

Certamente o bom sacerdote que acompanha Sua Alteza, convencido de que testemunhou um milagre, atestaria que Canuto encontrou sim uma razão de ser de acordo com a noção divina de amor que ele prega.

Ao mesmo tempo, o mesmo Willibald provavelmente diria que Thors não pratica senão discriminação por ter fugido em primeiro lugar para proteger a própria família. Claro, Thors evita bravamente matar, se esforça para que sequer precise pegar em armas, salva escravos fugitivos para que possam pelo menos morrer com dignidade, mas ao fim e ao cabo ele tem uma prioridade, e essa é sua família.

Thors nunca ambicionou criar o Paraíso na Terra. Talvez tenha sido apenas questão de oportunidade e de posição social, mas Thors e Canuto são diferentes e seus objetivos de vida são diferentes.

O objetivo de Canuto é criar o tal Paraíso na Terra. Para isso, ele sabe que terá que lutar, mas pretende escolher suas lutas cuidadosamente e se responsabilizar por elas.

Já o objetivo de Thors é manter sua família segura, sua comunidade segura, evitar qualquer conflito e estender a mão e todos os que puder. De certa forma, a vila de Thors na Islândia era seu pequeno paraíso, mas ao mesmo tempo não era. Pelo minúsculo vislumbre que tivemos, sabemos que a política entre as vilas não era necessariamente bonita, e no entanto Thors estava satisfeito que tudo estivesse bem em sua vila: ele discriminava.

Sua determinação pacifista, por outro lado, pode ter sido o que lhe custou a vida e provocou muito sofrimento para todos que um dia ele amou, incluindo sua família. Se ele tivesse atacado para matar os guerreiros de Askeladd, talvez tivesse saído de lá com vida? Canuto não tem esse voto de pacifismo que Thors tinha.

O que os dois tinham em comum era o fato de terem encontrado um motivo para viver maior do que eles próprios, nobre e transcendente.

 

Helga e Ylva

 

Por causa disso possuem uma centelha no olhar. Por causa disso possuem uma força de vontade e determinação inquebrantáveis. Ambos, bastante separados no tempo e no espaço, cada um em sua vez impressionaram o gigante Thorkell.

Thorkell, o Alto, até então viveu só pela emoção da batalha e pela promessa de honra nessa vida e na próxima. Honra talvez seja algo um pouco melhor para se viver do que dinheiro, terras e mulheres, desejos comuns da soldadesca que promove a razia na Inglaterra e saqueia outras partes da Europa em Vinland Saga.

Mas ainda não é o suficiente. Thorkell deixou escapar a chance de descobrir o que é que Thors havia descoberto anos atrás. Dessa vez ele não pretende deixar passar a chance de descobrir o que foi que Canuto descobriu.

Ao reconhecer que não sabe o que não sabe, Thorkell já está melhor do que Thorfinn, que vive por vingança, mesmo que ele saiba no fundo que não é isso que seu próprio pai iria querer. Tão impressionante quanto a batalha física entre os dois, vencida por Thorfinn, é a batalha mental, vencida por Thorkell. Ele sabe que lhe falta algo e quer saber o que é. E vê que também falta algo em Thorfinn, que, no entanto, não parece perceber isso.

 

Thorkell zomba de Thorfinn

 

E Askeladd? Mesmo com ele tendo sido quase o protagonista da segunda metade do anime e tendo sido revelados seu passado, sua motivação e mais ou menos o seu objetivo, é difícil saber se o que ele tem é mesmo uma razão de ser do mesmo tipo que Thors teve e que Canuto tem.

Para complicar, seu ataque de riso nesse episódio pode ter sido a sua própria epifania. Talvez ele não tivesse ainda uma raison d’être, mas testemunhar o Príncipe Canuto subjugar o poderoso Thorkell o fez perceber o que faltava em si mesmo.

Talvez Askeladd esteja sendo sincero quando diz que irá ajudar Canuto, se preciso ao custo da própria vida. Ele não faria isso alguns episódios atrás, faria?

 

Askeladd ri

 

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