Jujutsu Kaisen é um mangá escrito por Gege Akutami e lançado na Weekly Shonen Jump, casa de One Piece, My Hero Academia, Dr. Stone, Shokugeki no Souma, The Promised Neverland, Black Clover, entre outros tantos mangás shonen de sucesso mundial.

A obra é lançada desde 2018 e possui uma excelente vendagem de volumes mesmo sem anime lançado. O qual, aliás, foi anunciado na último edição do ano editorial da revista. A tendência é de que saia em 2020, mas antes dele sair, vamos comentar sobre o mangá?

Jujutsu Kaisen cobre a história de feiticeiros de Jujutsu, algo similar a um exorcista, que enfrentam maldições, seres que nascem dos sentimentos negativos dos humanos, a fim de proteger os não usuários desse poder.

Na história acompanhamos Yuji Itadori, um gênio do atletismo que prefere participar do clube de estudo de fenômenos paranormais na escola em vez de correr em círculos. Até que um belo dia seu avô morre, ele conhece um espírito maligno, engole um dedo amaldiçoado e sua vida muda para sempre…

Um plot bem básico de battle shonen para um battle shonen que certamente não se diferencia da maioria devido a estrutura, mas sim a seu estilo. A cor preta predomina, o visual é dark mesmo, mas diferente do que seria normal esperar, é a veia cômica da série que se sobressai, assim como seu estilo visual cool.

Quase sempre lançam uma piadinha (exceto quando o momento é mesmo muito sério, alguém morre, etc) em meio as interações e lutas dos personagens. Os quais, aliás, são em sua maioria irreverentes e bem distintos entre si, tanto visualmente quanto em personalidade.

Além disso, a história ocorro no ano de 2014 e diferente do que se pode esperar pelo que prometem em um primeiro momento, que o protagonista vai estudar em uma escola para feiticeiros, ela se passa mais no meio urbano e explora casos de maldições atacando humanos em um tom mais investigativo que escolar. Isso varia mais a narrativa que o convencional para um battle shonen que tem o ambiente escolar como pano de fundo e essa forma mais livre de contar a história se alinha muito bem à estética e ao clima da obra como um todo.

Gege sabe trabalhar bem os momentos sérios, mas é quando mistura o cômico a ação, e também aos trechos parados, que sua escrita brilha mais, tanto que o mangá me passa a sensação de ser um produto do seu tempo, desse mundo globalizado, cheio de memes, no qual vivemos. Contudo, isso não significa que as coisas não devam ser levadas a sério. A estrutura dos arcos da série, em sua maioria longos, deixa clara a tentativa de construir o mundo dos feiticeiros e expôr o objetivo dos antagonistas em paralelo e com eventos que se desenrolam sem pressa.

Não vou comentar mais para não dar spoilers para quem ainda não leu o mangá, mas uma coisa afirmo, gosto muito de como a trama se desenvolve, dos heróis e dos vilões também, em todos os quesitos, principalmente no que tece a escrita simples, mas consistente dos personagens, e o apelo visual deles.

Aproveitando o gancho, acho importante comentar um pouco o que acho dos personagens principais do mangá.

Yuji Itadori é um garoto de personalidade bem simples e é exatamente isso que move a história. Seu ato de comer um dos dedos de Sukuna, a maldição mais poderosa existente, o envolve no mundo dos feiticeiros e o torna protagonista em uma guerra por poder que vai muito além do que suas convicções podem sustentar.

Acho mais fácil trabalhar um personagem assim que um mais complexo e suscetível a inconsistências. Não acho o Yuji tão carismático, mas ele é simpático o suficiente para uma história que não gira em torno dele, mas o tem em uma posição estratégica, e outro ponto importante é sua relação com Sukuna, com o qual ele divide o corpo e momentos interessantes…

Sukuna é uma maldição selada em 20 dedos (ele tinha quatro braços em vida) que desperta quando Yuji engole um desses dedos e passa a dividir seu corpo com essa existência tão perturbadora. Cruel não é uma palavra que define o personagem, como seria com um vilão normal, mas egoísta com certeza. Apesar disso, ele desenvolve uma estranha afinidade por seu hospedeiro, passando a ajudá-lo em alguns momentos, ainda que também por um senso de autopreservação.

Até onde li (para lá do capítulo 80), ele não é um anti-herói, está mais para um vilão mesmo.

Sukuna deseja que Yuji engula todos os dedos para que ele possa tomar o corpo e mesmo “sumindo” quando Yuji passa a lidar melhor com seus poderes, é uma existência importante para ambos os lados.

Satoru Gojo é aquela figura mais velha e mentora, como o Yami em Black Clover e o All Might em My Hero Academia, que não pode faltar em um battle shonen do tipo, mas diferente dos exemplos dados, ele é mais como um irmão mais velho irresponsável, ainda que prestativo, que um paizão atencioso.

Ele é mais Yami que All Might, se você conhece as séries deles vai entender. É o usuário de Jujutsu mais poderoso conhecido, tem um jeitão descontraído, faz muitas piadas e corresponde a todas as expectativas depositadas em seu talento.

Sua força é o que mantém o equilíbrio de poder entre a organização que controla os feiticeiros e o grupo opositor a ela, e ele tem um arco de flashback todo direcionado a contar um importante evento de seu passado. Importante não só para ele, mas também para a trama, que gostaria de ver animado em filme.

Megumi Fushiguro não é o típico rival tão comum em um mangá desses. Ele até tem certa rivalidade com o Yuji, mas eu percebo que isso é mais realçado para encaixar na demografia que uma característica forte da obra. Ele é mais um senpai que respeita e motiva.

Fushiguro tem uma personalidade mais controlada, mas não chega a ser chato; é poderoso, mas cauteloso, tem um ar misterioso em torno de si e um passado que vai sendo revelado ao longo da série. É um co-protagonista fácil de gostar que tem muito espaço na trama e seu desenvolvimento não depende do protagonista, seu rival teórico.

Nobara Kugisaki é a garota do trio principal e, diferente do Yuji, ela tem uma vivência maior nesse mundo de Jujutsu. Não, ela não é o interesse amoroso do protagonista e nem do seu “rival” (ao menos não até o capítulo 84, último que li antes de escrever este artigo).

Ela não é tão talentosa ou forte como os outros dois – tem menos desenvolvimento também -, mas tem uma habilidade peculiar e uma personalidade fácil de gostar; é engraçada e inteligente, “descolada” também.

Gostaria de ver um desenvolvimento maior dela, mas como o autor não deu indícios de ser um escroto que se preocupa mais com a sexualização da mulher que o desenvolvimento das personagens femininas, creio que isso vai ocorrer. Se acentuar, na verdade, pois já ocorre.

Aliás, sequer lembro de personagem sexualizada em Jujutsu. É mais fácil o autor apelar para a afirmação de clichês estruturais do battle shonen (citei alguns mais acima) que a esse artifício visual que a série nada agregaria. Não que ecchi precise agregar alguma coisa, né, mas me incomoda se não tem sequer uma boa desculpa.

Mahito é um dos principais vilões da obra, e aquele que mais se envolve em combates. Esse já é cruel e dissimulado, o fato de nascer como uma maldição – o Sukuna era humano -, creio ser predominante na forma como ele enxerga a vida humana.

A maioria dos melhores momentos de Jujutsu ocorre quando ele ataca e proporciona lutas eletrizantes, mas que não deixam de contribuir para seu objetivo. A ação não é gratuita, irracional, pelo contrário.

Outro detalhe digno de elogio é que o autor não se censura ao lidar com a morte. Pessoas morrem nesse mundo, muitos dos problemas apresentados na trama derivam da morte de personagens ou as provocam. Muitas dessas mortes trazidas pelas mãos da maldição cínica e despreocupada que é o Mahito. Um vilão que eu acho bastante carismático.

Jujutsu Kaisen segue a vida de usuários de Jujutsu e as maldições que eles combatem. A série tem uma pegada dark ligada mais ao seu visual que ao enredo, e ao mesmo tempo em que trabalha com clichês do battle shonen, não se prende a eles, conseguindo entregar personagens, interações e situações que vão além disso.

Com o passar dos arcos a profundidade do mangá vai sendo debruçada por suas páginas. É verdade que muitos personagens são apresentados e trabalhados de maneira rasa, mas não é como se todo personagem precisasse ser aprofundado, né, nem que o autor precisa ter pressa para isso.

Rapidamente a obra conseguiu alcançar vendas estáveis e bastante satisfatórias para os padrões da maior revista de mangás do mundo. Com o anime a ser exibido seu potencial comercial deve ser ainda mais explorado e a tendência é que perdure ainda por muitos anos, então tem muita estrada para desenvolver personagens, conflitos, reviravoltas etc.

Prefiro evitar dar maiores detalhes para não estragar toda ou parte da experiência de leitura de quem por ventura der uma chance ao mangá depois de ler este artigo, mas uma coisa garanto, Jujutsu Kaisen é um battle shonen formidável!

Ele não chega a ser revolucionário (e qual é?), mas pode agradar até mesmo aqueles já saturados com obras do tipo pelo simples fato de não se importar em explorar o básico, pois tem algo a mais a oferecer enquanto entretenimento e, ao menos em parte, como reflexão.

Gege Akutami é um autor jovem, apenas três anos mais velho que eu, com um potencial enorme enquanto escritor e ilustrador, e espero que o anime só traga ainda mais audiência para o autor e sua criação.

Você pode ler os capítulos de Jujutsu Kaisen oficialmente, ao menos os seis primeiros e sempre os seis últimos, no aplicativo oficial da Jump, o Manga PLUS (o qual, aliás, indico muito o uso se você dominar espanhol ou inglês para leitura).

Dias antes desse artigo ganhar a luz o mangá foi anunciado pela editora Panini. Você vai comprar? Eu vou!

Se não quiser esperar, siga a dica que dei (apesar de que seria melhor esperar por causa do buraco enorme que há no app entre os primeiros e os últimos capítulos) e curta o melhor battle shonen de todos os tempos da última semana. Mas sério, Jujutsu é muito bom, confira!

Até a próxima!

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