Budoukan, vou abreviar porque o nome é grande, é originalmente um mangá que ganhou anime nessa temporada de inverno de 2020. Uma paródia do universo das idols? Não exatamente, pois a obra mostra toda a paixão de uma fã obcecada de maneira até bem séria, apesar da comédia de alto nível que é entregue.

Budoukan tem tudo para ser uma das melhores comédia da temporada e talvez do ano, mas também um dos melhores anime de idols, então se gosta de um desses elementos ou dos dois sugiro que embarque no meu artigo de primeiras impressões e venha para o lado idol da força você também!

Por incrível que pareça, o título do artigo é bem sério, acho mesmo que todo mundo, ou ao menos todo otaku, deveria ter uma idol para chamar de “sua”. Não no sentido de posse, né, mas de ser sua idol favorita, a qual a pessoa vai seguir a vida toda, ainda que o grupo original dela tenha debandado.

Se escrevo isso é porque tenho minha idol do coração? Sim. Claro. Com certeza. Apesar de ela estar fazendo a transição de idol para cantora “normal”, é certo que seu papel na franquia Love Live! será sempre um divisor de águas em sua carreira. Me refiro a Saitou Shuka, que interpreta a You Watanabe do grupo Aqours de Love Live! Sunshine!! — desculpa μ’s, mas meu coração é da segunda geração.

É sério, a You-chan; quer dizer, a Shuka; é minha idol favorita, e as duas únicas diferenças entre mim e a Eripiyo que me impedem de ser igual ou pior que ela são:

  • Não sou japonês.
  • Não tenho emprego.

Se atendesse as duas condições eu seria o protagonista desse anime! Ou talvez fosse o Kumasa, porque não sou mesmo uma mulher bonita e nem me vestiria tão mal quanto ela.

Enfim, sem mais revelações, vamos falar de Budoukan! YOUSORO!

Antes de mais nada, a animação é linda de morrer, além de ser super consistente, os designs não ficam atrás e a cena de apresentação da Cham Jam foi espetacular, praticamente toda animada em 2D, se tinha animação 3D ali foi muito bem feita e me passou batida, e cheia de cenas fluidas que são fáceis de reconhecer para quem vê apresentações de idols, sejam em anime ou na vida real.

É sério, tecnicamente essa estreia foi bem melhor do que eu esperava, até mesmo em roteiro e direção foi precisa, sabendo brincar bem com a piada da fã maluca sem chegar exatamente a galhofa. Budoukan me parece um anime para fãs de idols feito por fãs de idols que acreditam seriamente nessa “filosofia de vida”.

Okay, filosofia de vida é meio que um exagero, mas, sejamos honestos, a cultura otaku em muitos pontos se assemelha a um culto e não é diferente no que se refere a idolatria as idols. Melhor ainda que o anime não faz um julgamento de valor sobre o assunto, apenas expõe várias situações bastante “pitorescas” aproveitando da melhor forma possível o elemento cômico presente nelas.

A cena da Eripiyo correndo atrás da Maina me fez pensar que isso deve acontecer muito com idols literalmente “underground” que distribuem panfletos diretamente para os fãs (o que rola mesmo fora do meio mainstream), e não foi só isso, outras cenas, como a da sessão de apertos de mão ou da fila para o show, me fizeram ver o quanto esse anime consegue ser realista.

Apesar disso, a cena da hemorragia nasal claramente foi um exagero, uma licença poética para aproveitar uma das piadas mais recorrentes em animes. Mas tudo bem, o importante para esse tipo de obra não é retratar com fidelidade a devoção otaku, mesmo que só isso já garantisse um anime hilário, mas equilibrar o que é real e o que é hipérbole de maneira divertida, e Budoukan fez isso com excelência em sua estreia.

Outra cena muito boa foi a do Kumasa inflamando a massa, ela foi tudo o que eu esperava do estereótipo de um otaku obcecado por idols que ele é, uma verdadeira referência para a legião de fãs sem noção. Fosse eu japonês provavelmente seria uma espécia de Kumasa, mas como sou super tímido só em um momento de grande inspiração é que tomaria as rédeas da situação como ele tomou.

E falo sério quando escrevo que me identifiquei muito com o anime, apesar de não ter um emprego e não ser japonês. Budoukan foi feito para todos os fãs loucos por idols mundo afora!

Advinha só que música estou ouvindo enquanto escrevo este artigo? Sim. é Snow halation, o hino idol de toda uma geração…

COF COF

Agora comentando mais especificamente a relação de “amor” entre Eripiyo e Maina, posso afirmar que ela não fugiu muito do que eu esperava. A Maina é retratada como o elo mais fraco do grupo, a idol menos popular, que parece estar lá só para preencher espaço. A Eripiyo não parece ter se encantado por ela com isso em mente, mas o fato é que o mínimo de sucesso que ela tem se deve ao fanatismo dessa fã.

Então, a impressão da Eripiyo de que a Maina não gosta dela desde o princípio me pareceu mais um mal-entendido que qualquer outra coisa, um daquele tipo que demora um pouco a se resolver, mas é justamente sua resolução que dá uma desenvolvida na trama. E uma válida, afinal, o povo japonês não é retratado como muito reservado, muitas vezes incapaz de demonstrar seus sentimentos?

Explorar essa dificuldade e a superação dela me parece uma boa, além de que corrobora com a descrição da idol idolatrada, uma garota que não demonstrou uma personalidade marcante em nenhum momento, mas também não me pareceu alguém horrível ao ponto de fazer pouco caso da fã número um.

Não sei qual foi o motivo que levou a Maina a virar idol e porque ela continua no grupo mesmo sem quase nenhum destaque, mas conhecer melhor a personagem, assim como a própria Eripiyo, se tornou um dos meus objetivos ao assistir esse anime. Quero ver a relação das duas se desenvolver, ainda que não acabe com uma bela amizade. Não precisa de tanto, afinal, uma idolatra a outra, né.

Ir muito além desse sentimento platônico talvez não seja a abordagem certa para o anime, por mais que ele possa levar a sério sua piada. Enfim, outro ponto legal é o contraste que a idolatria da Eripiyo explora, pois a Maina parece justamente a idol menos interessante do grupo, mas é a que tem a fã mais dedicada. Até por só ter ela mesmo. Coitadinha da Maina. Fosse eu a Eripiyo provavelmente apoiaria a Maina também!

O que levou a Eripiyo a amá-la desse jeito o anime não explorou e talvez nem explore, a chance é grande de cair apenas na conta do sentimento platônico e isso nem é exatamente ruim. A explicação mais esperada seria um vazio existencial preenchido com esse sentimento, o que deve ser o caso para a massiva maioria dos otakus que fazem isso, mas tocar ou não nesse ponto não é obrigação do anime.

O importante é que a pegada cômica se mantenha, o que não é difícil visto que fã assim provoca vergonha alheia só por existir, a produção continue apuradíssima e a Eripiyo seja retratada como uma fá capaz de amar de maneira não nociva a pessoa amada, a idol que ela apoia. Pelo contrário, que ela seja capaz de apoiar a Maina e assim encontre também significado para sua vida.

Budoukan tem um potencial enorme para a comédia, mas também pode ser um anime de idol de primeira qualidade, o caminho já foi pavimentado para ambos. Só não espero tanto no quesito drama, porque não me parece ser o foco. E é verdade, tem o objetivo de levar a Maina a se apresentar no Budoukan, né? Esse me parece um ponto final formidável para a obra, mas só com muita sorte, ou muito azar, veremos isso animado.

Sorte se for bem feito, azar se socarem em uma temporada quando é um desenvolvimento que denotaria mais tempo. Mas, de toda forma, isso sequer é algo para se pensar agora.

Por fim, assista Budoukan, as chances de você se arrepender são as mesmas de eu virar japonês, e espero que sejam inversamente proporcionais as de eu arrumar um emprego. Para torrar com idols, obviamente.

Até a próxima!

Comentários