22/7 é originalmente um grupo virtual de idols que já existe há alguns anos. Tive o prazer de acompanhar suas primeiras músicas no youtube e posso dizer que sempre me interessei pelo projeto, mas até o Mexicano-sama, senhor Todo Poderoso deste blog, me contar que é do mesmo idealizador por trás do AKB48 estava entregue a ignorância.

E por que isso faz toda a diferença? Porque o AKB48 começou se propondo a revolucionar o mercado de idols e o 22/7 parece ter o mesmo objetivo, até aí tudo bem, cada projeto se propõe ao que quiser, o problema é fazer isso em cima de uma crítica que, sejamos honestos, deve ser mais verdadeira que nota de 3 reais.

É do idealizador do grupo que está no topo da indústria idol que estamos falando, o Todo Poderoso AKB48 com suas cinco milhões de unidades e popularidade megalomaníaca dentro do Japão. Enfim, 22/7 começa como um projeto bem mais modesto, como deve ter sido o início do AKB48, e nos entrega uma estreia interessante em sua animação.

Só o tempo dirá se a crítica pode ser levada a sério ou não, o importante é nos atentarmos ao que temos em mãos. 22/7 ≅ π, você sabia?

Miu critica o mundo a sua volta, a artificialidade das pessoas, suas mentiras, seus sorrisos (des)pretensiosos e seu egoismo. Mas aqui eu faço uma crítica a produção do anime, por que ela faz isso? O que a levou a pensar dessa maneira? Sua família de mãe doente, a mãe dela me parecia doente no começo, pai inexistente, provavelmente morreu ou trabalha em outra cidade, e irmã mais nova deve tê-la levado a isso; mas por quê?

Por pobreza e abandono? A gente pode assumir que é por aí, mas custava definir melhor? Ela não me pareceu levar uma vida miserável, apesar de que fácil certeza que não era. Entender melhor de que lugar saiu essa crítica “profunda” que a personagem faz facilita na hora de ver uma razão nela. E não é nem que eu discorde do que a Miu fala, ela tem um ponto e ele é super válido, mas ela mesma não está segregando as pessoas ao criar um muro entre “eles” e “ela”?

A crítica dela em si é sim passível de crítica e eu não duvido que o anime explore justamente isso. Ela não vai sorrir de mentirinha ao se apresentar no palco como uma idol, né, ou ao menos o anime fez parecer bem verdadeiro aquele sorrizinho…

Apesar de que também há outra ideia bem interessante com a qual o anime trabalha, a da transição entre a infância e a vida adulta, esta muita bem expressa nas palavras do ex-chefe dela sobre o que é um emprego. A pessoa não precisa gostar, tudo o que ela precisa é fazer, para ganhar o dinheiro da qual necessita a fim de manter as coisas e pessoas das quais gosta. O trabalho é só um meio. Não é um fim.

Com essa mentalidade martelando em sua cabeça após ser despedida do emprego de meio-período que tinha e de não conseguir muita grana vendendo o próprio teclado, como julgar ela ter se entregue ao desespero e ter tomado a saída mirabolante que a ela foi apresentada? Fica difícil, mas botar isso na conta de um “destino cruel” me parece bobo. Estaria ótimo fosse apenas a realidade nua e crua.

Afinal, ela realmente fazia o perfil de que seria demitida por não sorrir e não saber trabalhar em equipe, tanto que estranhei quando ela apareceu no zoológico sem parecer um típico protagonista de hentai (o que tem a franja cobrindo os olhos. Então até ela era capaz de aparentar ser uma pessoa normal? Sim, ainda que ficasse apenas na aparência, se outra pessoa está olhando de longe, mesmo.

Enfim, não tenho nada contra a Miu, muito pelo contrário, gostei das reflexões que ela propõe até mesmo sobre esse trabalho de idol tão glamourizado em animes. Para ela ser idol é um trabalho, uma obrigação, um meio para um fim, este o mais importante. O problema é que a gente sabe que alguma hora essa crítica será revertida. Acho muito difícil a mensagem da série não acabar valorizando aquilo que ela critica.

Aliás, que a protagonista critica nesse primeiro momento. Contudo, não é como se não fosse possível lançar um novo olhar sobre a vida de uma idol, sobre a perspectiva de alguém que não queria ser uma idol, mas passou a ver valor nisso com a experiência. O difícil é fazer isso com profundidade, com uma real crítica construtiva do tipo que sacia o público capaz de pensar no que está além de um palco.

22/7 vai ser capaz disso? Tenho minhas dúvidas. O elemento sci-fi/sobrenatural (sei lá o que diabos é aquilo) inserido na trama contribui para meu pé atrás? Com certeza. Aliás, tenho medo até de que elas precisem salvar o mundo ou coisa do tipo. Será? Miu me pareceu incapaz de algo assim, já vou me contentar se ela for capaz de encontrar propósito em ser uma idol por si mesma.

Porque, sejamos honestos, essa máxima de que trabalho é só fazer o que não se gosta é balela, assim como a ideia de que toda idol que está na indústria é explorada, sofre lavagem cerebral, etc. Não é bem assim, ao mesmo tempo em que também é bem assim sim e apontar uma crítica que ande em círculos e caia em um ponto comum parece até mais cruel que ser só o anime de idol besteirol de toda temporada.

Ademais, o A-1 bem que poderia ter caprichado mais na produção, né? O roteiro não foi grande coisa mesmo, tirando os monólogos até que bem legais da Miu, a direção não comprometeu, mas quem teve a ideia da organização secreta sediada no subsolo de um zoológico tem uma criatividadezinha do capeta, hein… Pelo menos as músicas são legais, mas sou eu quem escrevo, eu sempre acho música de idol legal…

Então, 22/7 vale pelo que se propõe a fazer, ainda que só vejamos a ideia dar com os burros n’água. A desistência dela (o momento em que ela aceita que a vida é uma m*rda, isso é se tornar adulto e ela não pode escapar) e o desafio ao qual se propôs (se tornar uma top idol) aguçaram meu interesse pelo que vem a seguir. Se acabar se tornando um simples anime de idol vou ficar triste. E puto.

Okay, eu vou ficar bem menos tristes se as músicas forem boas. Nem espero muito das performances, o CG feinho da abertura já me desanimou legal quanto a esse quesito. Mas vou ficar menos triste mesmo, quem sabe até feliz, se o anime for divertido Para isso não precisa que o anime não tenha defeitos, basta que tenha mais qualidades. Vamos ver como Miu lida com o indesejado trabalho de ser uma top idol?

Até a próxima!

P.S.: Não gostei muito das outras garotas, só gostei de verdade da Miu, além da voz da loirinha leitora ter me irritado um bocado. Espero que cante bem. Espero que elas se mostrem personagens interessantes. Infelizmente, talvez seja pedir demais, mas não é como se minha expectativa fosse alta de toda forma…

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