Quem nunca encontrou aquela pessoa única, cuja história e valores pessoais são uma verdadeira fonte de inspiração, admiração e principalmente determinação para tentarmos o inimaginável?

Ver com nossos olhos alguém que luta para alcançar o que realmente quer e com muita coragem – virtude que falta a muitos em vários aspectos -, nos traz esses sentimentos, tal qual a maravilhosa protagonista dessa jornada.

Digo tudo isso, porque nesses dois episódios essa é a constante que fica marcada tanto no Ikuto, quanto na coadjuvante da vez, a Niinuma – e acredito que até no Yanagida.

O Ikuto costuma dizer que as roupas tem o poder de transformar uma pessoa, mas no fundo me pergunto até que ponto ele próprio compreende o que diz, ou numa tentativa de análise mais profunda, se o mesmo capta o alcance dessas palavras. Não estou partindo só do ponto de quem as veste, mas também de quem as faz, o que é igualmente importante.

Seu eu covarde e conformista não demonstra alguém que é transformado pelo próprio trabalho. Ele ama costurar e criar? Sim, disso não há dúvidas e o sorriso na face dele a cada agulhada está aí para provar isso.

O fato é que o rapaz não se permite sonhar mais, apenas por sua condição atual. Pode parecer que a Chiyuki somente o “arrasta” em suas tentativas, mas é evidente que lá no fundo ele quer viver isso, se não já teria desistido na primeira chance que teve.

O aspirante a designer gosta de fazer aqueles ao seu redor felizes por usarem o que ele produz com tanta dedicação, mas ao mesmo tempo a sua desistência aborrece quem sabe que ele pode ir além, como a parceira e suas irmãs num certo grau.

Fiquei satisfeito que ele finalmente reagiu, depois de ver todo o esforço que a menina estava fazendo para alimentar um sonho que nem é dela – ou pelos menos não era até então. Chiyuki sabe que os dois enfrentam problemas “similares” em relação ao profissional e por isso acaba sonhando por ambos, sempre o impulsionando a dar um passo adiante.

O pai dela apesar de duro, incentiva esse sonho como pode e as oportunidades que ele dá aos dois, é uma forma de recompensar a determinação que tiveram para insistir em sua busca.

Yanagida foi o escolhido para ajudar aos dois e adianto que gosto bastante desse personagem porque apesar de sua personalidade bem rude, ele também tem seu lado humano e parece conhecer de perto os percalços de quem quer tenta voar alto, mesmo com limitações – como os dois adolescentes.

Acredito que ele é uma peça fundamental para o crescimento do Ikuto, não só por ser o primeiro profissional com o qual ele tem contato e trabalha, mas porque através da vivência com o designer, ele pode desenvolver as características que a Chiyuki tanto se esforça para ativar nele.

O que é interessante na relação dos protagonistas é exatamente essa coisa do respeito e do apoio mútuo. O modo como eles se defendem prova a importância que dão a essa nova união, principalmente no lado do Ikuto, já que ele reconhece a Chiyuki por sustentar e alimentar – como eu já disse – um sonho que não é só dela, além de outros méritos que ela tem.

Apesar do Ikuto ser pobre, indiretamente sustentar a família e tudo isso parecer um grande obstáculo – e de fato é, num certo grau -, acho que a moça sofre bem mais, considerando que aquilo que lhe segura é algo praticamente sem “conserto”.

Gosto muito da postura dela, porque mesmo sendo constantemente humilhada e desencorajada, ela sempre se põe a prova, sabendo como lutar com humildade e persistência para conquistar seu espaço nessa indústria – uma protagonista de shounen padrão, mas que para mim tem o seu charme e diferencial.

Sua genética infelizmente lhe concedeu um corpo fora dos padrões e ela luta para se manter nivelada com as outras modelos da forma mais adequada possível, desafiando o mundo, enquanto o seu amigo nesse exato momento só precisa de coragem, para que as portas se abram.

Parte dessa coragem ele ganha depois de entrar para o atelier do Yanagida, sendo jogado na semana de moda japonesa, e mais tarde encarando o papel da colega de trabalho, Moriyama desmaiada não Juliana – que convenhamos coitada, já parecia um zumbi naquela cena.

Não sei se foi uma sensação exclusiva minha, mas curiosamente associei a pressão do mundo da moda, com a pressão dos mangakás – sabiamente mostrada em Bakuman -, já que as etapas de trabalho tem lá a sua similaridade e ambos sempre exigem muito da saúde e do psicológico de quem os faz.

Os profissionais precisam estar em constante movimento e sempre coordenados milimetricamente, como nas etapas de uma obra arquitetônica, mantendo a organização, prazos, os nervos de aço e a celeridade no trabalho.

As modelos por sua vez, precisam estar não só com o físico em dia, mas com a paciência, pois mesmo um desfile convencional durando em torno de 15 minutos no máximo, as etapas de arrumação e detalhes que antecedem o show podem levar horas – principalmente com grandes eventos e grifes.

Para contrabalancear um pouco da tensão passada nos bastidores – e que achei bem realista e condizente com o que conheço desse universo -, achei que a comédia trazida pela ignorância do Ikuto foi bem vinda.

Assim como o anime bem explicou, modelos não devem ter timidez para ficarem nuas ou quase, porque nesse processo de maquiagens, constantes trocas de peças e ajustes, elas precisam ter a maior praticidade possível para trabalhar, logo, andar despida para as rápidas mudanças é praticamente um requisito das passarelas – e o Ikuto aprendeu isso na hora mais propícia possível.

Do outro lado, mas não menos importante, a redatora Niinuma sonhava em trabalhar numa editora literária, onde pudesse mostrar sua inteligência sem desafios ou preconceitos. Fica óbvio que essa visão é proveniente de sua própria insegurança em tentar algo novo e fora da zona de conforto que traçou para si – inclusive o seu jeito de se vestir reflete isso.

Não sendo diferente de muitas pessoas que observam o glamour de outras profissões, ela não se vê como alguém apta a participar daquilo ou de qualquer outra coisa para qual a sua aparência e personalidade não se encaixem, subestimando seu potencial e restringindo as possibilidades que pode ter.

A Chiyuki como ela mesma diz, é uma anã na passarela, mas que naquele momento deu uma bela banana para o mundo e se jogou no seu objetivo com a consciência de que podia sim e se dane o resto. Presenciar uma pessoa tão “inapta”, mostrando que você é o que quiser ser, a instigou a tentar mais uma vez e dar uma chance não só a moda, mas a si mesma.

O desfile do Yanagida enfim foi um verdadeiro sucesso, Niinuma mudou, Ikuto venceu a primeira batalha e nossa protagonista mais uma vez brilhou e cativou, qual o próximo desafio que virá? Aguardemos.

Obrigado a quem leu e até o nosso próximo desfile!

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