Quando fiquei sabendo do anime de 86 imaginava que terminasse como na novel, mas me enganei, e que bom que me enganei, afinal, esse episódio foi adorável em todos os sentidos, um pós-clímax muito prazeroso de acompanhar e que prestigiou não só os integrantes humanos do esquadrão Spearhead, como também Fido, o drone que não era uma inteligência artificial como as outras.

Além disso, qual a perspectiva para o último episódio? O cliffhanger desse vai na direção que o anime está seguindo desde o princípio, mas, repito, se fosse para eles morrerem isso teria acontecido no clímax, agora não cabe, até porque ainda não conhecemos outras perspectivas para a trama, que já tem segunda temporada garantida mais para frente. Sem mais delongas, vamos falar desse episódio apaixonante de 86?

O Shin deu descanso ao irmão e concretizou seu objetivo antes de morrer, mas ele anda não morreu, aliás, nem ele e nenhum dos últimos companheiros que o acompanhavam. Por quê? Porque, apesar do conformismo com seus destinos trágicos, eles também não se lançaram de cabeça no território inimigo buscando uma morte certa, até porque não precisaria, a luta viria até eles.

E veio no final do episódio, mas antes de chegarmos lá, é mais produtivo falar do Shin, de seus amigos e de como o descanso que deu a outro companheiro de guerra falecido foi simbólico nessa jornada deles de purificação. Sabe o conceito de calmaria que precede a tempestade? Foi exatamente isso que esse episódio foi, apesar de duvidar muito que a tempestade do episódio final vá ser tudo isso mesmo.

O fato é que Shin mais uma vez ajudou a dar fim a uma história inacabada, mesmo após ter acertado as contas com seu passado. Ele pode não ter mais um objetivo que o mova e segure seu sorriso (o qual soltou várias vezes nesse episódio e foi muito gratificante de ver), mas segue sendo uma pessoa gentil capaz de dar a mão a uma alma em sofrimento. Na verdade, a um eco de alguém que um dia esteve entre eles.

Além disso, pode não ser nenhum pouco surpreendente a relação do Fido com ele, mas foi uma forma diferente de explorar a paranormalidade dele, assim como prover um fanservice desgraçado de maravilhoso. Fiquei com a impressão de que Fido era o cachorro do Shin, como o cão foi parar no corpo de um drone não sei, mas explicaria o entendimento e a cumplicidade deles, assim como a contundência de sua personalidade.

Era uma experiência diferente da que Shin teve com as vozes da Legion, afinal, Fido era amigo, não inimigo, independentemente de como ou por quem foi criado. “Era” porque o cliffhanger no final dá a entender que ele se fora, mas vai saber, né, o conflito no qual se encontravam mesmo certamente não deve dar em nada. Apesar disso, isso não significa que esse episódio não valeu, pelo contrário, ele foi brilhante.

O trecho, com uma pegada de mini documentário, em que momentos observados pelo Fido passam na tela e temos vislumbres distintos dos integrantes do Spearhead foi sensacional não porque aprofundou personagens (não fez isso, nem houve tempo), mas porque entregou vários dos detalhes que faltaram nos outros nove episódios a fim de humanizar ainda mais esses guerreiros e nos contentar com essa jornada.

Porque o esquadrão Spearhead acabou, o que sobrou foram essas lembranças que o Fido carregava, além, é claro, das memórias tanto físicas, quanto imateriais, que o líder carregava consigo. Aliás, carrega porque a gente sabe que ele não vai morrer, mas que se o falta objetivo, devemos vê-lo ganhando um com o prosseguimento da guerra. Eles não conversam sobre a Legion estar infestada por quase todo lugar?

Não sei exatamente qual a profundidade desse domínio, mas ele talvez explique um isolamento da República e com isso a ausência de olhos para fiscalizar o respeito aos direitos humanos entre outras besteirinhas para as quais os poderosos costumam não ligar. O que mais me incomodou em 86 foi a falta de contextualização da guerra como um todo, ficou tudo centrado nos personagens e no que estava no olhar deles.

De toda forma, esse trecho final foi apaixonante, ainda mais com a insert song de sempre, Hands Up to the Sky, que caiu como uma luva mais uma vez. Vendo a abertura nesse episódio devo confessar que não sou o maior fã dela, mas com o encerramento e a insert song é diferente, acho que as canções combinaram demais com o anime e exploram uma gama de sentimentos que a trama de 86 trabalha muito bem.

Na verdade, esse episódio foi todo construído em cima disso, de uma ambientação diferente do resto do anime, de momentos descontraídos, outros dramáticos, de um olhar mais sensível e abrangente em cima de personagens que já aceitaram seu destino, mas se deram o direito de viver uma experiência diferente, em outro solo, sem as amarras de outrora. Shin e seus amigos experimentaram a liberdade quando puderam.

Ainda assim, adentraram o território inimigo dispostos a lutar quando chegasse a hora e a hora chegou, vimos isso com o cliffhanger, mas não quero nem especular como essa história vai se desenrolar. O prólogo da novel ainda não apareceu e imagino que essa temporada acabe nele. Esse episódio ou foi original ou adaptou parte da novel (do volume 2, que ainda não li). Qualquer que seja o caso a direção foi sublime.

Por fim, gostei da perspectiva diferente do anime sobre a história que ele quer contar, o que faz ainda mais sentido pela mídia e por já sabermos que vai ter segunda temporada. A história continua. Não sei se com o Fido. Sei que com o Shin e os outros. Ainda assim, dá para levar a sério esse certo tom de desespero com o qual abordam a morte “certa” deles? Talvez. Vamos ver qual resposta o episódio derradeiro nos dará.

Até a próxima!

P.S.: Essa talvez seja a música mais perfeita para esse episódio na face do planeta Terra. Ouça prestando atenção na letra e vai ver como se encaixa perfeitamente. Claro, é mais uma da minha banda favorita, o Muse.

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