Já percebeu que quando a narradora aparece é porque lá vem desgraça? É sério, que dedo podre ela tem, nunca vi parça mais zikadora. Porque sim, a Echizen é a “parça” da Onda. Inclusive, saca só esse vídeo aqui que zoa com essa história de parça de jogador de futebol. Não sei se ocorre o mesmo com jogadora, o que sei é que dessa vez uma otaku apareceu para estragar a festa e é hora de falar sobre o que restou ao Warabi.

A Ada tem um perfil tão peculiar que desde o começo do anime me pareceu óbvio que em algum momento explorariam a altura e estranheza dela. E fazia sentido que fosse nesse episódio, o que eu questiono mesmo é a roupagem. Esse lance dela ser otaku, ser fã de garotas mágicas e jogar com uma, ou o mais próximo disso pela fofura da 12, me chateia um pouco pelo quão deslocado foi em comparação ao que era a trama.

E nem reclamo dela só ter feito uma jogada marcante no segundo tempo e próximo ao fim do jogo, pois desde o início esse papo de catenaccio, somado ao fato do Urawa não tomar gols, deixou a entender que o time era mais defensivo e no máximo conseguia matar e controlar o jogo, o que nem é exatamente a estratégia do Conte, ao menos não pelo fato de que ter três zagueiros pode até soar defensivo, mas nem é exatamente.

Acho que a autora se confundiu um pouco aí, misturando a rigidez defensiva italiana aos sistemas de jogo de técnicos italianos que hoje em dia estão bem mais propositivos do que a cultura de futebol do país já foi em outros momentos da história. Porque, é sério, o Urawa não teve muitas chances no primeiro tempo. Já no segundo aproveitou o contra-ataque para marcar o gol, algo que times assim realmente fazem bem direitinho.

E aí vai outra reclamação minha, não tenho nada contra fazer gol de contra-ataque, pela forma como o Urawa joga fazia todo o sentido marcar assim, o problema é a forma apelativa como o Warabi perde o gol. O episódio anterior acabou dando toda a pinta de que conseguiriam criar uma grande jogada, mas mais uma vez tudo foi resumido a comédia e erros bobos. Só sobrou o último episódio para fazer algo de diferente.

Pois após fazer o gol o Urawa obviamente iria tentar segurar o resultado e no máximo marcar outro para matar, é o tipo de estratégia comum a times que não privilegiam a pose de bola ou uma jorrada de ataques, mas sim a eficiência e o resultado, o que não significa que não atuem bem dentro da proposta, só que com certeza essa não é das mais vistosas, tanto é que a Chika e a Ada são os grandes destaques da partida delas.

A Chika por seus desarmes precisos em todos os espaços do campo e a Ada por ter se aproveitado da brecha de concentração do adversário para marcar, usando de seu porte físico, altura e velocidade para se sobressair na dividida. A caracterização de “zumbi” dela pode ser extra boba, mas se penarmos nela como uma analogia a jogadora que passa o jogo todo morta e assusta em momentos-chave não é que ela faz sentido?

Como a Ada é a jogadora de perfil destoante das demais, não é de se estranhar que ela seja uma arma a ser usada nesses momentos do jogo, quando o adversário está ficando confiante demais e seria perfeito puxar o tapete, sendo mais culpa do Warabi por não ter feito uma falta nela ou ainda melhor, não ter feito o deverzinho de casa para estudar as armas que o Urawa poderia usar. Tudo foi uma surpresa para o Warabi.

E por esse despreparo saíram atrás enfrentando um adversário mais experiente, duro e que depende menos das habilidades individuais de suas jogadoras, ainda que a Ada tenha muitos méritos por ter marcado o gol. Mas deixando essa conversa um pouco de lado, sabe o que é mais engraçado sobre essa caracterização a italiana do Urawa? Bem diferente do catenaccio de outrora a seleção tem sido bem ofensiva na Euro 2020.

O torneio começou faz alguns dias e já se encaminha para o mata-mata, com a Itália tendo feito sete gols em três jogos e não tomado nenhum. Então dá para dizer que sim, a seleção italiana se defende bem, mas não (e escrevo isso não só pelos resultados), não é mais defesa que ataque, há um equilíbrio, algo muito visto nas formações de três zagueiros atuais. Mas aí você me diz, ela não se inspirou na seleção feminina da Itália?

Acho difícil, apesar de que não me surpreenderia se me dissessem que as italianas ainda são prioritariamente defensivas. E por que acho isso difícil? Porque Cramer se baseia quase somente em referências ao futebol masculino, o que é compreensível pela exposição que a modalidade tem no mundo, mas um pouco decepcionante e até raso visto o quanto esse anime é interessante a comunidade do futebol feminino japonês.

No fim, acabo com a sensação de que a autora não vê, ou que quem a assessora não vê, futebol feminino, tanto é que todos os elementos de campo e bola abordados no anime fazem referência ao futebol masculino. Tudo bem que dessa vez foram os garotos que falaram do Firmino, o falso nove do Liverpool e da seleção brasileira, mas quem escreveu a história foi uma mulher e ela é sobre futebol feminino oras, não masculino.

Não que as táticas mudem drasticamente, mas será que o caminho para o aprimoramento do futebol feminino (que o italiano de araque cita) é mesmo se espelhando no que os times masculinos fazem? Fica o questionamento. Pelo menos o misto entre Inter do Conte e Liverpool do Klopp rendeu mais uma jogada de gol interessante em campo, e dessa vez com uma exposição mais precisa do trabalho tático das atacantes.

Não sei se o Conte usa um falso nove propriamente dito em seu esquema, nunca parei para observá-lo em detalhes, mas o Klopp usa, e o que o Firmino faz em campo? Ele basicamente não fica guardando lugar na área, mas sai para abrir espaços para os pontas, Salah e Mané, além de passar a bola para eles na cara do gol. É só uma das coisas que ele faz nessa mecânica, mas foi basicamente o que a 12 que esqueci o nome fez.

Se ela é o Firmino, a Ada seria o Salah, que costuma atuar pela direita e marcar muitos gols, como a Ada marcou nesse jogo. E se o segundo gol veio poucos minutos após o primeiro, isso se deve demais ao fator anímico do jogo, em que a forma como se reage nos minutos seguintes a um gol determina quase que inteiramente os rumos do duelo. Um time aproveita para matar o adversário atordoado e ele tem que tentar evitar isso.

O Warabi não conseguiu, tomou o segundo gol que praticamente inviabiliza qualquer chance de sobrevivência no duelo. Mas é claro que as jogadoras não poderiam desistir, principalmente a capitã, que tem que aparecer mesmo nessas horas para reascender a chama do time. O mesmo, infelizmente, não dá para dizer da treinadora, que pode até ser inexperiente, mas sequer tentar compensar isso usando a cabeça.

Não à toa eu não consigo ver tanto o trabalho da Nomi assim no time porque o Warabi encaixou mesmo quando os talentos individuais começaram a aparecer, não foi como no caso do Urawa em que o time mostrou muita coesão nos momentos mais delicados da partida. Sei que essa é uma primeira vez tanto para a técnica, quanto para as garotas, mas não me contento com o quão pouco ela apresentou até agora.

Por quê? Porque isso torna praticamente impossível um avanço do Warabi, que precisa pelo menos empatar com dois gols em poucos minutos para se manter vivo em um confronto que ao que tudo indica tem só jogo de ida (imagino que o campo tenha sido sorteado entre os times, enfim). Não deve dar, os breves trechos da prévia não entregam isso, mas também dão a entender haver tempo de calmaria para um clímax.

E quando isso acontece é porque não acaba nos minutos finais, e para não acabar nos minutos finais só se o Warabi perder mesmo. Isso não me incomodaria tanto se eu tivesse a certeza de uma segunda temporada, mas que certezas a gente pode ter com um anime que teve problemas de produção desde o princípio e até melhorou em animação nos últimos episódios (bastante nesse), mas foi instável a maior parte da temporada?

Não duvido nada que a pior parte tenha sido motivada pela divisão de esforços com o filme e que a melhora de animação no anime se deva ao fim da produção do longa; o qual, aliás, é bem legal. Se ainda não o assistiu indico demais que faça isso, apesar de que tanto lá quanto aqui tudo aponta para um desfecho que não considero o ideal, ainda que nos pormenores tenha tido seus pontos positivos, para servir de alento mesmo.

Por fim, a Suo compreendeu as palavras óbvias, mas cheias de significado, da Onda e entrou de vez na partida só no fimzinho, o que ainda foi um dos pontos positivos do episódio, que eu curti bastante mesmo com os pontos questionados. E chamo atenção para mais uma coisa, só eu acho um exagero as tentativas de Cramer de sabotar ou relativizar os feitos das heroínas? Será que poderemos vê-los dando certo algum dia?

Só resta o episódio derradeiro e a derrota é praticamente certa. Vou me surpreender e ficar super feliz se anunciarem uma segunda temporada em que a Soshizaki e as outras finalmente deverão começar a colher alguns frutos. Não que sejam só merecimento no estágio em que elas e o time está agora, mas uma hora cansa esse lance de bater sempre na trave, uma hora elas precisam vencer um jogo que valha algo importante.

Até a próxima!

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