Sonny Boy é um anime original do estúdio Madhouse da temporada de verão de 2021 que teve sua estreia adiantada pela Funimation em seu canal do Youtube. O anime é dirigido por Shingo Natsume (One Punch Man, ACCA, Boogiepop wa Warawanai) e apresenta uma estética simples, mas estilosa. Contudo, o que chama mais atenção é o roteiro, afinal, que diabo de isekai com direto a mudança de cenário é esse?

Se ainda não viu o episódio indico que faça isso antes de ler este artigo, pois tentarei ser mais sucinto em minha análise. A primeira coisa que me chamou atenção nesse anime foi a maneira até displicente com a qual a trama foi apresentada. Sem explicações detalhadas ou categorizações só foi possível entender melhor os detalhes da viagem a outro mundo com o prosseguimento do episódio e a evolução de sua trama.

Digo que se trata de um isekai por uma questão de conveniência, mas a verdade é que não sabemos nada sobre esse evento sobrenatural que não só transportou uma escola com alguns alunos apara o que parece ser uma outra dimensão, como também desencadeou o surgimentos de poderes em alguns deles. Sonny Boy tem muito a cara de um experimento ou talvez de uma alegoria a algo muito mais profundo.

Essa sensação cresceu em mim quando vi a forma como o poder foi organizado na escola. A mente por trás do conselho estudantil escolheu o aluno mais popular para ser seu laranja, enquanto a implantação de um sistema com direitos e deveres (principalmente deveres) foi toda bolada por essa figura misteriosa, a qual no fim mostrou que sabe bem mais, me fazendo até pensar que talvez todos já estejam mortos. Será?

Se estiverem, por que fazer ruma alegoria da sociedade com espíritos? Não sei, só o que sei é que ficou muito claro para mim que dá para comparar os que têm poderes aos ricos e os que não tem aos pobres. Os ricos mandam, os pobres obedecem, e os ricos mais espertos podem esconder que têm poderes e usar terceiros (laranjas, políticos) para canalizar as atenções e servir de fantoche de um “desejo’ maior.

 

 

Okay, da forma que coloco parece um pouco simplista demais, talvez estúpido, mas não foi um pouco por aí que a trama seguiu? Tanto é que das duas forças opositoras a esse sistema, uma se rebelou e provocou uma confusão, desafiando e derrubando a autoridade do fantoche, já a outra não tinha superpoderes para bater de frente, sofreu sua punição, mas não se furtou a escolher e trilhar seu próprio caminho.

Quem consegue não seguir as ordens impostas a si e procura se libertar de um ambiente cercado de escuridão abre novas possibilidades capazes de sobrepor a falta de perspectiva vigente, não à toa depois que a Nozomi pula eles mudam de cenário e aí que eu fiquei confuso mesmo. Porém, é quase certo que há um sentido maior nessas construções, como na maneira que a Nozomi e o Nagara se tornam amigos.

Em poucos minutos eles se conhecem e logo o evento ocorre, coincidência? Provavelmente não, mas nada nessa estreia deu a entender que a Nozomi tem poderes, no máximo que ela sabe mais do que já falou. Se não isso, tudo parte de sua personalidade um tanto excêntrica, que a sua maneira move a história para frente e não só resultou na modificação do cenário externo a escola, como também mudou o protagonista.

A letargia dele se manteve quase todo o episódio, mas ele partiu para resgatá-la de seu salto de fé, de seu salto no escuro, tentando retorná-la a acomodação na qual ele se sentia confortável. É verdade que não foi com a melhor das intenções, não foi para segui-la, mas para trazê-la de volta, só que, ainda assim, ele se mexeu. Está na cara que Nozomi é a chave para essa historia, que ela não foi tão “largada” senão de propósito.

Sonn Boy não quer entregar as respostas para seus mistérios de mão beijada e nem acho que deveria, mas é claro que nem tudo pode parecer desconexo também, então apostar nas associações que podemos fazer entre o que acontece em tela e nossas próximas vivências deve ser o melhor caminho para entender esse anime. Outro personagem crucial para o todo é o titereiro do Cap, esse sim mostrou que sabe demais.

 

 

Por fim, nem precisa de regra dos três eps aqui, com seu plot twist inteligente Sonny Boy aguça a curiosidade por mais e faz isso enquanto nos mantém à deriva em sua trama enganosamente desencontrada. As visões que o delinquente tem não podem ser descartadas, há algo de muito macabro em toda essa problemática e cabe a Nagara e Nozomi nos mostrarem o caminho de volta, ainda que seja para lugar nenhum.

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