Blade Runner: Black Lotus é um anime derivado da franquia Blade Runner, que tem origem no livro “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” de Philip K. Dick, proeminente autor de ficção científica.

A franquia é marcante pelo filme de 1982, mas também pela sequência de 2017, Blade Runner 2049 (dirigido por Dennis Villeneuve, que dirige outro clássico sci-fi, DUNA), tendo tido várias séries em quadrinhos e alguns curtas, sendo um deles animado, Blade Runner: Black Out 2022.

Black Lotus é a primeira série animada ambientada no universo e é uma parceria entre Crunchyroll e Adult Swin (como Fena: Pirate Princess), terá 13 episódios e é produzida por um estúdio japonês (com direção japonesa, portanto, é anime sim!), o Sola Digital Arts (Ultraman).

 

“Na história acompanhamos Elle, uma garota que acorda sem memórias no deserto e parte para Los Angeles atrás de respostas. Levando consigo apenas um dispositivo misterioso e flashes de memórias, Elle precisará lidar com todos os perigos que ameaçam sua sobrevivência.”

 

Se tem uma coisa que gostei nesse anime foi de sua ambientação, pois ela me teletransportou para o universo sujo e mórbido de Blade Runner, a representação de um mundo capaz de fabricar sua própria humanidade.

Por outro lado, a animação totalmente em CGI é de se estranhar um pouco, não tem como negar isso. Porém, a cada temporada me acostumo mais a esse tipo de animação e não tendo a achá-la desagradável aos olhos, apesar de ter que admitir que ela “engessa” um pouco a história.

Digo, alguns movimentos das personagens não parecem naturais, a coisa toda fica um tanto quanto estranha, mas diria que a animação ainda se sobressai em um aspecto, nas cenas de ação, que com sua ótima coreografia e trilha sonora chegaram a empolgar em alguns momentos.

Muito devido a heroína, Elle, uma personagem cujo passado misterioso, artes maciais super em dia e brilho nos olhos já denunciava sua natureza. Elle é uma replicante, uma linha de seres orgânicos criados artificialmente que visa atender as necessidades dos humanos.

Aliás, o conceito de replicante é uma das marcas da obra, que traz diversas questões a debate, assim como conflitos entre personagens e objetivos. Dessa vez, o conflito parece bem simples, uma replicante recém-nascida tateando o mundo com memórias confusas, falsas até.

Ela lembra de um lugar que em suas memórias é bem diferente do que é na cidade, faz conexões e pede por ajuda, mas suas ações todas se baseiam mais em instinto e ousadia que em raciocínio lógico e um senso de autopreservação minimamente equilibrado.

Isso explora uma faceta guerreira e intensa da personagem, mas ao mesmo tempo sufoca dramas pessoais, objetivos outros, profundidade. E eu entendo que ela tem apenas dias de vida, mas se ela em si é rasa, não é isso o que espero da trama.

Em seus dois primeiros episódios o que temos é um desfile de construções narrativas simples e previsíveis. Os vilões aparecem em um trecho, a policial durona que deve ajudar e atrapalhar (talvez na mesma medida) em outro e ainda tem os humanos que devem acompanhá-la na jornada.

Doc Badger, com a qual ela faz um trato, e J (Joseph), figura misteriosa, mas duvido que mal intencionada. Inclusive, gostei desses personagens, acho que eles podem agregar a trama se interagirem com a heroína e podarem um pouco de seu ímpeto que só a colocou em risco até então.

Ademais, o desenvolvimento do assassinato do senador Bannister e mesmo a tentativa de fuga da garota não fugiram do esperado. Quando ela desiste de esperar pela decodificação do objeto misterioso que tem consigo e parte para a ação dá para imaginar o desfecho.

Mas exatamente que perigo ela representa para a Corporação Wallace? Ou ela é realmente apenas uma replicante qualquer, cuja existência e sobrevivência não comporta nada de muito relevante? Essas perguntas precisam ser dadas nos próximos animes ou de outra forma…

Corre o risco da trama ficar genérica, ainda mais se compararmos com o que é Blade Runner na literatura e no cinema. Isso devido ao instinto quase animalesco da Elle e de seus flashbacks pouco interessantes (ela parece apenas uma replicante fujona de uma brincadeira sádica humana).

Espero que o J traga uma perspectiva diferente a trama, o que é possível se pensarmos que ainda há mistérios sem resposta sobre a heroína e que, após entrar em pânico, é de se esperar que pense duas vezes antes de agir. Não é matando por matar que Elle vai sobreviver.

Por fim, se você tiver boa vontade com a animação, curtir a atmosfera típica de Blade Runner e não tiver pressa para ver mistérios sendo destrinchados ou personagens ganhando lastro, sugiro que avance, há espaço de melhora em Black Lotus, seja esta artificial ou não.

Até a próxima!

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