Covenant é um webtoon escrito e ilustrado por explodikid e editado por Breanna Boswell. O quadrinho é lançado no Line Webtoon e estreou recentemente na plataforma.

Na história acompanhamos Erza, um poderoso exorcista que não tem fé em Deus. Ele trabalha exterminando demônios e precisar lidar com a possibilidade de uma guerra enquanto protege um humano normal de manifestar forças demoníacas.

A ação e a comédia da série certamentes são pontos positivos seus, pois o quadrinho tem belos designs e cenas de ação com boa sensação de movimentação, além de haver espaço para algumas tiradas cômicas; principalmente com o protagonista, Erzo; mas sem perder mão da seriedade em momentos necessários.

Covenant tem qualidade de produção na média, no máximo um pouco acima, do que a plataforma geralmente apresenta e se não oferece um vasto olhar sobre a trama em seus três primeiros episódios, também não deixa de entregar o suficiente para o leitor sacar por qual caminho a trama seguirá.

Erza é um talentoso exorcista, mas é não tem fé em Deus. Na real, Deus existe nessa história, seria um plot twist de muito mau gosto se fosse outra coisa, sendo assim, o problema não é Deus existir, mas Erza acreditar em Deus, confiar nele, louvá-lo.

Por que ele é assim e ainda está onde está é sim uma informação interessante de se revelar ao público, mas creio que o que instiga mesmo é a ideia de que ao longo da trama Erza pode ser sim “convertido”. Aliás, deve, será estranho se não for.

A minha experiência com Deus e a religião é bem peculiar e não cabe me aprofundar aqui, mas acaba que eu me identifico com o protagonista, a “única” diferença é que não pego poder emprestado de anjos para matar demônios, infelizmente…

De toda forma, a ideia de um herói feito ele para esse tipo de história cria um fator adverso para provocar o interesse do leitor e isso é bom. Por mais que eu seja cético sobre a capacidade do autor de criar algo que não se oriente tanto por clichês, não posso negar que há potencial para mais, nada me apontou o contrário.

Emfim, há um grupo adversário ao dos exorcistas com poderzinhos e se achei os integrantes dessa vertente antipáticos é sinal de que o autor fez seu trabalho bem-feito, pois se tem uma coisa chata é gente que arruma confusão onde não deveria haver.

Tanto é que isso provoca a cólera de Samson, o parceiro de Erza, um cara que parece bastante crente e envolvido pelo entorno, alguém diligente. Erza não é assim, mas tem talento de sobra e isso importa.

Enfim, o caso é que a caracterização do conflito entre facções ficou bacana, foi algo positivo, realista de se abordar no meio cheio de dogmas e intransigência da religião. Eu não quero ofender, só alertar para o abismo de opiniões e abordagens que pode existir mesmo entre aqueles que adoram o mesmo Deus.

Superado esse trecho, um detalhe que prenunciava os problemas adiantados no sonho do Erza é o aumento no aparecimento de demônios. Tudo deve estar ligado, afinal, é o que se espera de uma boa escrita e a ideia de que Erza conversa com o arcanjo Gabriel em seus sonhos e mesmo assim ainda não se “rendeu” a fé novamente explorou bem isso.

Erza está cercado por provas da existência de Deus e mesmo assim titubeia, inclusive, ele é escolhido para operar grandes feitos em nome do Senhor. Isso até me lembra a máxima de que Deus vem para aqueles marginalizados ou que não acreditam nele e o legal é que não é uma má construção, a gente mal percebe.

O terreno é assentado para que Erza tenha uma experiência pessoal e profunda com Deus. Além disso, pontos importantes da trama vão sendo introduzidos gradativamente, tanto que só ao final dos três primeiros capítulos que aparece aquele a quem Erza deve proteger e ele é informado da guerra.

A sinopse do próprio aplicativo entrega que o Erza vai proteger o rapaz que aparece ao final do capítulo três e se ele é um alvo das forças do demônio, por que não uni-lo aquele que é o melhor cordeiro de Deus, mas não é exatamente um cordeiro?

Explodikid realmente fez a lição de casa ao dar bons indícios de que é capaz de construir uma trama bem equilibrada ainda que mexa com algo tão delicado como a fé. Inclusive, não duvido nada que o autor seja crente, mas não dá indícios de ser um crente cego, alheio a crítica a religão e vivências diferentes.

Sendo assim, Covenant acaba sendo um quadrinho bem interessante, que tem potencial para agradar crentes e não crentes. Nada exatamente espetacular, mas consistente e de bom gosto, além de ter uma bela arte e não exagerar em suas abordagens.

É o tipo de história que eu como ateu leio com prazer, pois não tenta vender uma ideia de que a religião é uma certeza e apesar de ser claro que no mundo do webtoon Deus existe, se busca contextualizar e respeitar sentimentos diversos. Covenant pode ser uma boa leitura para crentes e ateus, indico a leitura.

Até a próxima!

Comentários