Animes são legais, nós sabemos. E acompanhar as séries toda a semana, ou pegar uma história já concluída e ver todos os episódios dela também. Mas nem só de 24 minutos vive a indústria de animação japonesa, seus filmes de longa metragem também são uma fatia importante do mercado audiovisual nacional. E nem estou falando de filmes de animes apenas, mas de histórias originais, que falam por si só, que nos arrastam e conduzem a 90-110 minutos de puro prazer, alegria, descontração, medo, empatia, tristeza e aprendizado. Quando se pensa em filmes japoneses, logo vêm a cabeça sucessos como A Viagem de Chihiro (vencedor do Oscar de melhor animação) e Akira (um dos filmes japoneses mais influentes da história). Dito isto, vamos falar aqui rapidinho sobre alguns diretores japoneses incríveis e suas obras mais marcantes?

 

Hideaki Anno

Hideaki Anno

É a pessoa mais eclética desta lista, eu diria. Além de diretor, já trabalhou como escritor, roteirista, animador e até dublador; não pra menos, conta com pérolas como Nausicaa, Túmulo dos Vagalumes, Macross, Karekano e Vidas ao Vento em seu currículo, mas quem firmou e determinou a sua carreira foi o complicado Evangelion. Além da série original, recebeu a ingrata missão de dirigir os dois primeiros filmes, o Death and Rebirth e o The End of Evangelion (que de End não teve nada…). Aliás, seu trabalho ainda não acabou, já que continua na luta para transformar o anime mais amado/odiado da história em algo compreensível com a nova franquia de rebuilds, sendo que o quarto ainda não tem data de estreia. E tava tudo até indo bem, não sei como as coisas saíram tanto do rumo no 3.0! Mas tirando os sérios problemas de roteiro, não dá, mesmo, pra reclamar do trabalho dele na série nem nos filmes, e ser responsável por levar ao ar algo tão icônico não é para qualquer um. Suportar as críticas também não.

Recomendado pra quem tá a fim de um papo beeeem cabeça.

Isao Takahata

Isao Takahata

Isao Takahata

O Isao é tipo a gêmea não famosa da Gisele Bunchen; apesar de ser co-fundador do estúdio Ghibli e ter participado em algumas de suas obras mais icônicas, Miyazaki acabou ficando bem mais famoso do que ele. Na minha opinião, meio injusto, já que ele foi produtor naqueles que seriam as bases do estúdio (Nausicaa e Castelo no Ar), além de ser o produtor musical de Serviço de Entregas de Kiki. Os filmes que ele dirigiu também são de roteiro próprio, sendo o mais famoso – e melhor, convenhamos – o adorado Túmulo dos Vagalumes (escorreu até uma lágrima aqui). O drama sobre dois irmãos japoneses tentando sobreviver durante a Segunda Guerra Mundial conquistou pessoas ao redor do mundo, mas não costuma receber os devidos créditos por estar fora do padrão esperado da Ghibli. Além deste, Isao dirigiu o fofo slice of life Only Yesterday, o infantil e ecologicamente correto Pompoko e, mais recentemente, O Conto da Princesa Kaguya, recentemente exibido nos cinemas nacionais, e When Marine was Here, apontado como o provável último filme do estúdio, snif.

Recomendado a quem gosta do estúdio Ghibli mas conhece apenas os filmes mais famosos, assim como a quem busca uma história mais simples. Menos com Túmulo dos Vagalumes, ali é drama e emoção do início ao fim.

Katsuhiro Otomo

Katsuhiro Otomo

Katsuhiro Otomo

Taí um nome reconhecível e que atrai prêmios a torto e a direito. Katsuhiro é, além de diretor, roteirista e mangaká, e suas obras possuem uma grande influência no mundo todo, em especial nos países europeus. Seu grande sucesso é Akira, obra que se tornou um ícone pop e cult ao mesmo tempo, e é um dos clássicos japoneses mais famosos de todos os tempos. Além deste, dirigiu poucas outras obras, como Metropolis (baseado no mangá do Osamu Tezuka) e o live action de Mushishi. Outro filme original seu foi Steamboy, mas nem de longe atingiu a popularidade de seu irmão mais velho. Uma pena.

Recomendado a quem curte uma pegada cyberpunk, um gênero que inclusive deve muito ao Otomo.

Makoto Shinkai

Makoto Shinkai

Makoto Shinkai

CARA, EU TE AMO. Sério, seu maior defeito é ter uma filmografia tão curta, o que é justificável já que sua carreira é relativamente decente. A animação do Shinkai é belíssima e de tirar o fôlego, e ele criou para si um traçado inconfundível e que chama a atenção desde simples prints até pequenas cenas espalhadas pela internet, seus cenários são absurdamente realistas. Não dá para não se impressionar, assistir a um filme dele em HD é muito gostoso. Mas nem só de beleza vive um fã, então ele tratou de colocar a maior quantidade de conflitos humanos e emoção possível em cada uma de suas obras, sejam curtas ou longas. Eu sei, assisti a todas elas. Dos curtas She and Her Cat e Dareka no Manazashi (intensos, fortes, pessoas que moram sozinhas se identificarão com o segundo), aos seus longas aclamados pela crítica, todos eles te arrastam em uma montanha russa emocional da qual é difícil resistir. Seu sucesso absoluto é 5 Centímetros por Segundo, inclusive com mangá sendo lançado atualmente aqui pela Newpop, que conta três histórias sobre três amores adolescentes e fecha com uma música que chegou a ser eleita por fãs como a mais triste do mundo; ah, meu coração, só de lembrar… Mas ainda temos o Voices of a Distant Star e o mais recente, Kotonoha no Niwa, que trabalham relacionamentos humanos e suas complexidades de uma forma, eu considero, ainda melhor do que o 5 Centímetros. Mas meu grande favorito, sem dúvidas, e grande recomendado, é Children Who Chase Lost Voices (Hoshi o Ou Kodomo), creio que a única fantasia de seu repertório. Com elementos que lembram bastante Nausicaa e Mononoke Hime, o longa utiliza como temas a morte e o luto, e a dificuldade que muitos de nós temos em superar a perda de alguém que realmente amamos. Nem foi falar da trilha sonora, um espetáculo por si só. Não é à toa que as expectativas em cima da carreira e do futuro dele sejam tão altas, chegando a ser chamado de “Próximo Hayao Miyazaki”.

Recomendado para quem gosta de apreciar filmes de alta qualidade, visual, sonora e de conteúdo.

Mamoru Hosoda

Mamoru Hosoda

Mamoru Hosoda

Eu ouvi “feelings”? Hosoda esteve envolvido em obras grandes, como em filmes de DBZ e de Digimon Adventures, mas quando ele resolveu dirigir filmes originais, ohoho, ele acertou em cheio. Seu primeiro longa original foi o pouco conhecido The Girl Who Leapt Through Time (Toki o Kakeru Shoujo), porém seus dois sucessos estrondosos foram Summer Wars e Wolf Children. O primeiro se tornou aquele tipo de obra que até quem não conhece, conhece; sabe aquela sensação de “já ouvi esse nome antes”? Tá sentindo isso com Summer Wars? O mangá inclusive chegou a nós pela JBC, mas apesar de bem adaptado não é nem de longe intenso como o filme, cujas cenas de luta cibernética são lindas demais, e a estética do avatares dos personagens nos faz esquecer até de seus rostos humanos, hehe. Já Wolf Children é um caso de amor extremo, e, visto pelos prêmios que ele arrebatou no Japão e na Europa, eu não fui a única. A premissa simples de uma jovem mãe criando dois filhos inumanos completamente sozinha se desdobra em um filme lindo, intenso, que rouba a atenção do espectador a ponto de que ele esqueça do traço dos personagens, muito particular e esquisita à primeira vista. Recentemente, um novo filme seu chegou ao mercado, The Boy and The Beast (Bakemono no Ko), e os trailers foram muito bem recebidos pelo público.
Recomendado a quem curte histórias fantasiosas com pequenas lições, uma animação muito competente e não se importa com um traço bastante característico, hehe.

Satoshi Kon

Satoshi Kon

Satoshi Kon

Um de meus diretores japoneses favoritos, me deixou bem chateada quando morreu. Conheci sua primeira obra de um jeito curioso, topando na rua com um DVD pirata de Paprika. Não conhecia, nunca tinha ouvido falar, mas comprei mesmo assim só por ser um longa japonês animado… 3 reais mais bem gastos desde sempre, hehe. Satoshi Kon é famoso por suas histórias fantasiosas e complexas, geralmente sem nenhuma linearidade, além dos conflitos psicológicos e da profundidade de seus personagens. Suas obras mais famosas incluem Patlabor 2, Millenium Actress, Perfect Blue, o já citado Paprika e Tokyo Godfathers; este último, apesar de ser um filme intenso e emocionante, é o mais realista e menos, digamos, fantasioso de sua carreira, sendo comumente aquele com que as pessoas têm seu primeiro contato.
Satoshi deixou para trás uma obra ainda inacabada, chamada de Dreaming Machine, que mesmo ainda não tendo sido finalizada nunca foi oficialmente abandonada, deixando fãs ao redor do mundo esperançosos por um último contato com uma mente tão criativa.

Recomendado para quem procura filmes complexos e com uma pegada cult, feitos para se assistir várias vezes.

Shinichiro Watanabe

Shinichiro Watanabe

Shinichiro Watanabe

Mas NUNCA que eu deixaria ele de fora dessa lista! Mesmo saindo um pouco do objetivo, que são os longa metragens, o Watanabe tem em seu currículo obras tão incríveis que é meio que uma obrigação fazer todo mundo ao menos querer conhecer, hehe. Seu maior sucesso, disparado, é Cowboy Bebop, e não é pra menos, já que é um anime atemporal com referências musicais e à cultura pop em geral que, por si só, gerariam um artigo inteiro. Basta saber que o nome do filme da franquia é Knockin’ on Heaven’s Door pra entender um pouco do que estou falando. Óbvio então que a trilha sonora é característica de suas obras, mas vai mais além. Watanabe sabe quando demonstrar silêncio ou agitação, calmaria e barulho, descanso e explosões, e os personagens de suas histórias são trabalhados de forma a seguirem este fluxo. É possível inclusive compreender qual o ritmo musical predominante em cada uma de suas séries, e compreender o equilíbrio que ele traz às cenas que explicam sua escolha. Exemplos: se Cowboy é repleto de jazz, blues e funk, Samurai Champloo, outro de seus sucessos, ganha ritmo de hip hop. Já a recente obra Space Dandy é frenética e empolgante, então nada mais justo do que ser banhada por música eletrônica. Sua última obra foi Terror in Resonanse (Zankyou no Terror), considerado por muitos um dos melhores animes de 2014.

Recomendado para quem dá importância à trilha sonora, ou simplesmente gosta de apreciá-la, assim como quem curte animações visualmente ricas e equilibradas.

 

Na real, no final das contas todos os diretores aqui citados são recomendados a todos os públicos (com sua devida classificação etária, claro, crianças ficariam impressionadas demais com Paprika por exemplo), e foi justamente para isto que eu criei a lista. Pesquisem, baixem, assistam e se divirtam, depois venham me contar se era mesmo tão bom quanto eu disse… Ou não, hehe.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Acho que não hein? Até onde minha memória vai, Urobuchi é só roteirista, não diretor.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

Comentários