Shimoneta – ep 11 – Uma muito necessária recuperação
[sc:review nota=5]
Shimoneta ainda tinha uma carta na manga! E concorde ou não com ela, foi bem executada e tem um bocado de coerência interna na história, além de ter permitido momentos memoráveis e colocado o anime em ritmo de encerramento. Isso não quer dizer que o perdôo pelos episódios mornos desse arco, mas mostra que eles sabiam o que estavam fazendo o tempo todo, e nesse caso isso foi positivo. Não acho que foi um episódio perfeito mas chegou perto disso, então aí está mais uma pontuação máxima para Shimoneta.
Os extremos se igualam. A linha do espectro na verdade é um ciclo. Fanáticos são todos iguais. Essa é mais ou menos a teoria desse episódio, e ele não foi sutil sobre ela. Políticos que forçam leis moralistas que cassam direitos da sociedade e terroristas que sequestram e assediam sexualmente indivíduos são iguais, segundo Shimoneta, no sentido de que ambos estão tão certos de que a justiça está a seu lado que precisamente por causa disso acabam cometendo abusos. É preciso reconhecer que a comparação entre os políticos moralistas e os terroristas sexuais não procede: os últimos não têm um projeto de poder ou de sociedade. Mas vá lá, dentro da lógica interna de Shimoneta talvez seja de se imaginar que se por um acaso do destino os Tecidos Reunidos de repente se tornassem governo fariam exatamente o que fazem enquanto não são governo, apenas ganhariam escala – talvez baixassem leis que obrigassem todas as pessoas a entregar suas roupas de baixo usadas para o governo diariamente? Considerando que os políticos moralistas também são a seu próprio modo ridículos, tomam decisões ridículas e as forçam à sociedade, faria sentido. Apenas resista à tentação de trazer essa leitura para o mundo real, onde mesmo os piores políticos quase sempre são muito melhores de que os mais bondosos terroristas.
A ideia é que porque ambos acreditam fanaticamente em suas verdades ambos causam danos ao resto da sociedade. Não me parece que seja bem o caso. Sim, os moralistas incorrem nesse erro exatamente dessa forma, mas os pervertidos não: eles sabem o tempo todo que estão fazendo o mal para outras pessoas. Se a Anna é capaz de estuprar o Tanukichi acreditando que o que faz é certo e bom – inclusive para o Tanukichi, isso não é verdade por exemplo para a Kosuri, que por ter ido até lá e voltado é um personagem mais fácil de entender. A Anna não prejudicaria de propósito ninguém que estivesse no que ela identifica como “seu lado”, mas os Tecidos Reunidos, como ficou muito claro na figura de seu líder, não se importam nem um pouco com isso. A Kosuri antes de trair a SOX já tinha essa forma de pensamento e foi exatamente por isso que traiu a SOX. Ela não achava que a SOX fosse sua inimiga, apenas a achava fraca e covarde.
De todo modo, como instrumento retórico esse discurso foi a melhor escolha possível para a Kajou – fez o governo ser identificado como algo semelhante aos Tecidos Reunidos, que são vistos pela sociedade como algo maligno. Por sinal, esse era exatamente o plano do governo antes em relação à SOX: como os Tecidos Reunidos alegavam estar agindo em “apoio” à SOX, o que eles faziam acabaria naturalmente atingindo a organização da Kajou. Então, se fosse apenas um instrumento retórico, seria uma baita de uma falácia mas seria compreensível dada a desproporção das forças em litígio. Porém eu acredito que a Kajou acredita realmente no que disse, e por isso preciso repreendê-la – ou melhor, repreender o anime por transmitir essa mensagem. Um dos maiores problemas de acreditar que todos os extremos são iguais e igualmente malignos é a tendência a se adotar sempre o meio-termo de compromisso como uma solução fácil, mas o meio-termo muitas vezes é uma falácia. Qual seria o meio-termo nesse caso? Não precisa proibir todo mundo de falar palavrão e roubar calcinha de vez em quando tudo bem?
Mas não dá pra negar que um episódio bastante movimentado e com várias ideias em combate, não apenas personagens, é muito mais interessante do que o que vinha acontecendo até agora. Uma fundação sólida permitiu à Anna aliar-se rapidamente à SOX sem que isso parecesse forçado, por exemplo. E ver a Anna lutando ao lado da Kajou foi uma das melhores coisas do anime até agora. Foi isso também o que permitiu à Kosuri redimir-se: ela arrepender-se individualmente de sua escolha funcionou nesse contexto como uma metáfora para todos nesse universo fictício que precisam reavaliar suas escolhas. E teve aquele final. As pequenas sementes de romance finalmente vão brotar? E não ficou parecendo estranho! Conseguiram realmente dar uma boa química para o casal Kajou e Tanukichi. Ele certamente já percebeu seus sentimentos (em parte talvez graças à Kosuri ter dito em alto e bom som na cara dele), e a Kajou talvez já esteja percebendo. Como o próximo episódio deve ser o último não guardo muita esperança a esse respeito, mas já estou bastante satisfeito com o que vi.