Tales of Zestiria the X 2 – ep 5 – Eu já escrevi sobre isso antes!
Ah, essa sensação de déjà vu que temos depois de assistir muitos animes… e olha que nem sou dos que viu mais! Não que seja surpreendente que uma história derivada de um game esteja repleta de elementos já bastante conhecidos. Com base em minha percepção, tendo a acreditar que a mídia game é uma das que mais reusa, se apropria e reaproveita elementos já bastante comuns no imaginário coletivo de elementos narrativos. Talvez tenha a ver com o fato de que as produtoras precisam atender não só o público que busca uma história, mas também aquele que só quer superar os desafios propostos e vencer? Bom, isso é especulação para outra hora e outro lugar. E provavelmente para outra pessoa também, afinal eu não poderia estar mais longe de ser um especialista em games.
Tudo em Zestiria é retirado de algum lugar e adaptado em maior ou menor grau. Serafins, corrupção, um salvador, todos os arquétipos de personagens, os vilões, as situações, os desafios. Todas as histórias no fundo são assim? Talvez. Outra discussão para outro momento. Mas sendo ou não de fato apenas um grande quebra-cabeças com peças de tabuleiros diversos, o fato é que a sensação de que Zestiria é assim é maior do que o seu anime médio. O que de forma alguma é prejudicial enquanto ele estiver entregando uma boa história, divertida e tecnicamente bem produzida.
Porém, se Zestiria é mesmo uma colcha de retalhos tão grande, o que foi preciso para me chamar a atenção de tal forma que eu decidisse escrever um artigo apenas sobre isso? Bem…
Eu nem sei se isso é propriamente um clichê. Já escrevi sobre isso (o título é verdadeiro) e lembro que na época pesquisei para tentar descobrir se essa fórmula era mais antiga, mais difundida, se tinha um nome. Não encontrei nada (mas admito que não foi uma pesquisa assim tão profunda). Eis que Zestiria apresenta-a para mim nesse episódio e se esse clichê ainda não tem um nome terei a petulância de batizá-lo: Salva pelo Falcão. Leia o artigo lincado se nunca tivé-lo lido por aqui! O que faz esse clichê ser tão notável é sua complexidade e a quantidade de variações que permite, por isso foi difícil não perceber conforme a Rose preenchia cada um dos requisitos para se tornar mais uma Salva pelo Falcão. Não leu o outro artigo ainda? Leu e quer uma explicação melhor? Vamos lá.
A obra mais antiga que eu conheço (bom, de um total de três obras, já contando com Zestiria, mas aposto que existem muitas outras que eu simplesmente não conheço ou não analisei o suficiente para perceber que também possuem esse elemento) que aplica esse clichê é Berserk, e foi em homenagem a ele que dei esse nome (não leve isso de nome muito a sério, ok? é só porque é divertido e para facilitar a minha escrita e o nosso entendimento). Em Berserk aconteceu assim: Caska era uma adolescente e sua vila era constantemente atacada por bandidos. Eventualmente ela é comprada por um nobre. Caska não está particularmente feliz com isso mas acredita que será para a melhor, sua família ganhou algo, ela terá mais oportunidades, etc. Então o nobre decide atacá-la no meio do caminho – só porque ele pode. Griffith e seu bando aparecem e a salvam. Ela entra para o bando e torna-se uma de suas seguidoras mais leais e uma de suas guerreiras mais poderosas. Um enorme conflito ocorre quando ela renega Griffith, mesmo que parcialmente, em favor de outro homem – Guts.
No artigo que apontei comparei esse modelo ao que havia acabado de assistir, então, em Kabaneri of the Iron Fortress. Aquele artigo não descreve o clichê tão a fundo quanto esse porque Kabaneri não havia ido até o fim ainda. Em Kabaneri Mumei é uma criança que vê sua mãe morrer diante de seus olhos, e apesar de escapar por pouco do ataque dos zumbis, acaba capturada por um homem que, digamos, não estava bem intencionado. Biba chega com seu exército e a salva. Ela se torna uma kabaneri para Biba, devota e poderosa. Boa maior parte dos conflitos do anime ocorrem porque ela está dividida entre os ideais de Biba e os de outro homem – Ikoma.
A estrutura é sempre algo como: garotinha em apuros em um mundo distópico é salva por um líder carismático e de moral cinzenta de um bando de párias, torna-se fidelíssima a ele e treina a vida toda para ser uma guerreira digna de seu salvador. Em algum momento ela conhece outro homem que a afasta de seu líder ao apresentá-la a sentimentos que ela não conhecia ou não tinha esperança de realizar (em Berserk Caska desenvolve sentimentos românticos por Guts depois de anos de amor platônico por Griffith, enquanto em Kabaneri Mumei desenvolve sentimentos fraternos por Ikoma, coisa que Biba a faz rejeitar por toda sua vida). Já percebeu onde eu quero chegar? Na relação Rose – Brad/Dezel – Sorey, lógico.
Rose era uma criança em um mundo cada vez mais assolado pela Malevolência e teve sua vila destruída. Única sobrevivente, foi capturada por um bandido qualquer que pretendia sabe-se lá o quê com a garota. Brad surge com seus Windriders e a salva. Ato contínuo, ela passa a segui-lo, é criada como sua filha e treina com ele, tornando-se uma formidável assassina. Aqui a coisa diverge um pouco: Brad morreu. Mas isso não muda muita coisa não. Dezel seguia Brad e agora segue Rose, e segundo pode-se inferir do que ele falou nesse episódio, não é porque tenha algum sentimento pessoal pela garota (pode até ter e acredito que tenha, mas sua justificativa foi outra), e sim porque ela é a sucessora de Brad. Ele chega mesmo a chamá-la de marionete e diz que o destino dela é cumprir a missão de Brad. Assim, Brad pode estar morto, mas sua influência sobre Rose continua viva como nunca! Então ela conheceu o Sorey que viu o seu lado mais feio, condenou seus atos mas no entanto não a rejeitou, e finalmente fê-la acreditar em algo para o qual ela sempre fechou os olhos.
A garota agora está perdida, desesperada mesmo, sem saber se tudo o que fez teve alguma utilidade no final das contas. Segundo a filosofia de seu salvador ela fez o que tinha que fazer, afinal fez o que era possível fazer, por feio e sujo que seja. Ela sabe disso. Sorey sabe disso, e mesmo assim não se obsta de criticá-la por ser uma assassina. Ele claramente se opõe a seu modo de vida e sua filosofia. Sorey se opõe ao caminho que Brad traçou para Rose, o mesmo caminho pelo qual Dezel a segue e faz o que tem de fazer (como guardião dos arcanos e dos ideais de Brad) para que Rose não se desvie. Se a Salva pelo Falcão seguir a mesma rota das outras que a antecederam, estamos perto de um conflito entre Sorey e Dezel pelo destino de Rose (se bem que os serafins do Sorey já confrontaram Dezel em duas ocasiões, né? talvez fique por isso mesmo).
Kondou-san
Pois é meu caro Fábio, este artigo do episódio 5 de Tales, está tão, mas tão completo, que eu nem sei o que comentar. Eu já tinha lido o artigo, que usaste para explicar a situação da Rose, eu já li esse artigo à uns bons meses, salvo erro cheguei a comentar lá, mas obrigado pela explicação melhor, que como sempre feita de forma eximia.
O passado da Rose, não mostra nada, que eu já não tivesse visto, em uma dúzia de animes, dos 300 e tal que já vi. Como tu bem referiste este episódio passou uma sensação de déjà vu, mas ainda assim este episódio não deixou a desejar em nada.
O passado da Rose, fez-me lembrar muito a triste, realidade da guerra na Idade Média, a intenção daquele bandido para com Rose, era mais do que evidente. A sorte da Rose, foi o facto do Brad e o seu grupo estarem lá, mas será que este acontecimento foi algo de bom para a Rose, eu acho que não. A forma como o Brad, perguntou à Rose, se esta queria se juntar ao grupo dele e ir com eles, não foi uma pergunta inocente. Neste episódio, a forma como se referiram ao Brad, não representa bem a realidade, eu quero acreditar que o Brad a certa altura tivesse tido sentimentos fraternais com a Rose, e não apenas para esta se tornar uma assassina que luta pelo bem do povo e quiçá e sua marioneta como o Dezel disse. O Dezel em certo, ponto já começa a irritar, com aquele jeito dele. Ver a Rose, a questionar-se interiormente, se aquilo que fez e faz estava correcto, foi uma cena bem tocante, principalmente quando ela solta aquele grito de dúvida e a chorar ao mesmo tempo. O Sorey, subiu um pouco na minha consideração, ele mesmo não aceitando aquilo que a Rose faz, ele não lhe virou as costas, achei um gesto digno, de um homem que é o pastor. Voltando ao Brad, ele era um homem sábio, mesmo sendo mercenário, ele sabia que as coisas naquele mundo não estavam certas, aquela última cena do flashback onde a Rose diz para ele, que ela quer ser como ele e ele dá aquela resposta badass foi muito boa (se bem, que o Brad foi um pouco ingénuo, quando acreditou no Konan). Falando em konan, tu tinhas razão, ele era um demónio já, eu não acreditei bem, quando os outros disseram para a Rose, que ele tinha morrido com o desabamento da torre, ela devia ter ido verificar, e corta-lhe a cabeça e espetá-la numa estaca, só assim a vingança dela estaria completa. O grupo de mercenários que o Brad liderava, é quase uma utopia, os mercenários da Idade Média, eram a pior escória que já tinham nascido na terra. O anime que representa bem, os mercenários da Idade Média é aquele do Junketsu no Maria, este sim representou muito bem, como eram os mercenários a sério (nem é preciso dizer que gostei do anime, como é óbvio).
Ainda me custa acreditar, naquilo que a Rose se tornou, como uma garota tão doce e alegre se transformou numa assassina de sangue frio (se bem que concordo com a maneira de pensar dela). O anime pelos vistos, esqueceu-se da Alisha, mas a Alisha tem que aparecer logo, para dar equilíbrio ao anime.
Como sempre mais um excelente artigo Fábio.
Fábio "Mexicano" Godoy
Pois é não é, tenho impressão que é uma fórmula simples (embora composta por vários elementos menores encadeados) e genérica o suficiente para existir aos borbotões, mas eu não saberia citar mais nenhum caso além desses três. Na verdade, acabo de olhar minha lista inteira no MyAnimeList e bom, posso ter deixado de prestar atenção em alguma coisa, mas de fato não consegui encontrar nenhum outro anime que se utilize dessa fórmula. Conhece alguma outra história com uma personagem que tenha passado por isso, em anime ou qualquer outra mídia?
Sobre a Rose acho que falamos bastante já, mas bom, acho que foi para o bem que ela foi salva né? Independente do que ela se tornaria depois, o que estava para acontecer com ela antes do Brad socar a cara daquele bandido quebrando-lhe todos os dentes sem dúvida era algo bem ruim =D
E assisti Junketsu no Maria também! Aliás, assisti e cobri o anime aqui no blog, não sei se já viu =) A história principal é bastante problemática, mas a retratação dos conflitos militares da época é bem feitinha mesmo.
Obrigado pela visita e pelo comentário!
Kondou-san
Eu sei que chegaste a comentar o Junketsu no Maria, eu já cheguei tarde, mas eu já os li todos os artigos que fizeste dele. Quando os li, a minha vontade era de comentar e comentar até mais não, mas não tenho tempo (o que tenho pena, aquele artigo onde o padre desafia e questiona as leis de Deus, foi o meu artigo favorito de Junketsu, os meus dedos chegaram a ter comichão (acho que o meu ponto de vista sobre, a igreja, já é bem conhecido).
Nem me fales do Myanimelist, eu às vezes quando olho a minha lista lá dos animes completos, até sinto uma certa vergonha alheia de alguns animes, que perdi o meu tempo a vê-los.
Sinceramente, agora que falaste nisso, eu não me lembro de nenhum anime que tenha visto, a usar a fórmula que Tales usou com a Rose. O único anime (acho que são ovas) que usou uma fórmula semelhante, foi o Rurouni Kenshin Tsuioku-hen, ovas que contam o passado do Kenshin. O kenshin teve um passado, bem semelhante ao da Rose, só a era e o país é que eram diferentes. O Kenshin, quando era criança perdeu os pais por causa de doença, o Kenshin é vendido como escravo, depois é comprado por um mercador de prostitutas, as prostitutas tomam conta dele. Até que um dia, a caravana do mercador é atacado por um grupo de bandidos, que matam toda a gente, mas o Kenshin é salvo por um mestre espadachim. E por ai vai, tanto Rose como Kenshin se tornaram assassinos, pelos seus ideais utópicos, a Rose mata pelo bem do povo e o Kenshin lutava para acabar a guerra.
Fábio "Mexicano" Godoy
É verdade, tem o Kenshin! Essa história dele é contada no mangá (ainda que de forma meio apressada, entrecortada), mas está lá. Porém acho que tem duas diferenças cruciais: primeiro, é algo do passado dele. Aconteceu e acabou, pretérito perfeito. E segundo, até onde se sabe ele não teve alguém que entrou em sua vida e o fez questionar seu caminho até então. Parece ter sido algo que ele descobriu sozinho. Mas é de todo modo uma fórmula parecida. Estou determinado a estudar esse clichê e vou pesquisar mais casos semelhantes e ver a que conclusão chego com isso, hehe.
Kondou-san
Veja os ovas e vai ver que eles têm muito em comum (estes ovas tiveram o approval do autor, por isso vale a pena ver). O Kenshin, no seu passado, teve uma pessoa, que o fez questionar aquilo que ele estava a fazer. Essa mesma pessoa, é referida tanto no mangá como do anime, mas de forma subentendida. O Kenshin só deixou de ser assassino quando a sua amada morreu, por culpa dele.
Fábio "Mexicano" Godoy
Talvez a memória esteja me pregando peças ou talvez os OVAs sejam mais claros a respeito mesmo. Vou ver se arranjo um tempo para isso, obrigado pela sugestão!
Kondou-san
Acho que vais gostar dos ovas de Rurouni Kenshin, principalmente o Tsuioku-hen, que conta com uma animação, lindíssima, temática mais adulta, sem aquelas piadas da versão anime, um clima de suspense muito bom, já para não falar da história que é excepcional.