Diferente do que eu esperava, esse episódio não foi exatamente um pré-clímax, contudo, trabalhou muito bem o que era necessário para alinhar ainda mais tanto a resolução da situação da amizade da Tachibana com a Haruka, quanto as reflexões do Gerente sobre sua vida com algo importantíssimo para a protagonista no momento: a sua decisão de se manter perseguindo sua paixão ou retomar sua vida antiga no clube de corrida. Será que ela chegará à conclusão de que um não necessariamente exclui o outro, de que talvez dê para conciliar os dois? Enfim, vamos ver o que o anime nos entregou!

Quase uma funcionária exemplar, mesmo que pelo motivo errado…

Eu pensava que o ponto alto desse episódio seria a reconciliação da Tachibana com sua amiga, mas não focar exatamente nisso e sim em algo que está atrelado a isso e é ainda mais importante para ela, dada a situação em que se encontra, foi uma escolha inteligente, pois, no fim das contas, mesmo o que não tem relação direta com ela – o plot envolvendo o Kondou e o seu sonho –, se faz importante no que se trata da resolução dos problemas da garota. Como já apontado anteriormente, ela agora está curada da sua lesão e pode fazer fisioterapia para voltar a correr como antigamente, porém, o que ela faz é justamente o contrário. Ela deseja passar ainda mais tempo trabalhando com o Gerente e pegar mais turnos é uma comprovação clara disso, de como ela parece querer fugir daquilo que ela gostava – correr no clube de corrida –, mas a faz sentir aversão por poder atrapalhar seu novo sonho.

Já ficou claro que a Tachibana ainda adorar correr, então o ato em si não é problema e sim no que a volta à prática desse ato pode implicar para ela, que seria menos tempo para tentar conquistar o coração do homem de meia-idade pelo qual ela está apaixonada. A Haruka notou esse sentimento, contudo, suas ações não parecem exatamente reprobatórias, mas sim motivadas pela vontade que ela tem de se manter próxima a amiga, de compartilhar novamente com ela sua paixão em comum.

Vocês já esperavam por esse momento? Eu já esperava por esse momento!

Como bem dito pelo Kondou no penúltimo episódio, elas se afastarem não quer dizer que deixarão de ser amigas, mas isso não é tão fácil de entender para um jovem – falo aqui da Haruka – que se sente angustiada por achar que perderá uma amiga tão próxima pela qual nutre uma forte amizade quando a verdade é que as pessoas mudam e a sua amiga mudou e, independentemente de que caminho a história irá seguir, não voltará a ser exatamente a mesma Tachibana de tempos atrás.

Talvez ela até entenda isso e deseje que a Tachibana volte a correr por saber que ela ainda ama fazer isso e que é possível sim que se construa algo de novo e bom no ambiente do clube de corrida delas, sem esquecer das alegrias do passado e dos possíveis infortúnios que podem retornar no futuro, mas para que isso ocorra de fato – para que ela “recupere” sua amizade e reacenda essa “chama” nela –, colocar a Tachibana contra a parede não é exatamente a forma mais eficaz de fazer isso, e é aí que entra a importância do Kondou ter sido aprofundado e de a história de vida dele, assim como seus atos no presente, se conectar em pontos sensíveis ao momento pelo qual a Tachibana está passando.

Antes de falar mais dos últimos momentos desse episódio – os quais englobam bem o drama atual da Tachibana, que é o que deve ser resolvido como clímax do anime –, é de suma importância comentar a conversa do Kondou com seu amigo Chihiro e para isso tentarei lançar mão de uma experiência pessoal que creio se assemelhar muito ao que ele sente e pelo que está passando agora, que não tem mais muitas esperanças de realizar seu sonho. Ainda sou relativamente jovem em comparação ao Kondou e não creio que já cheguei ao “fim da linha”, mas me identifico com o que ele sente ante a seu eu universitário, um sentimento de que escrever para ele agora não é o mesmo que escrever era em sua juventude, que com isso só desapontaria seu eu de outrora. No meu caso, há cerca de dez anos me apaixonei pela literatura e passei uns bons anos lendo avidamente e, a partir daí, comecei a escrever poemas, mas hoje em dia me sinto praticamente incapaz de escrever, como se por temer decepcionar meu eu garoto aspirante a poeta, um amante das letras.

Em comparação a situação do Kondou o meu caso pode ser considerado apenas um universo reduzido, mas, apesar disso, meu sentimento não é muito diferente do dele, só que o que eu ainda tenho, e ele não, é juventude e mais chances para realizar meus sonhos – sim, assim como ele, sonho em me tornar escritor, em me casar com as letras –, enquanto para ele “voar” é algo que beira o inalcançável. É a partir daí que o Gerente vê o que a Tachibana está fazendo e se dá conta de que há algo de muito errado ali – de que a analogia da andorinha também pode ser usada para com ela.

Adoro o Chihiro e como ele tem uma personalidade divertida e equilibrada.

Nesse caso, a Tachibana desistiu de correr no clube, apenas torcendo de longe enquanto se distancia mais e mais da corrida e das pessoas desse mundo até um ponto em que ficará completamente para trás e encontrará a felicidade por onde ficou. É uma analogia a andorinha, que encaixa perfeitamente por ela estar tentando fazer exatamente isso, a felicidade que ela diz ser possível de se encontrar ao se ficar para trás para ela é o mesmo que desistir de correr e se dedicar a realização desse amor, um amor tido como impossível e que pode muito machucá-la se ela o continuar tratando com obsessão.

Mesmo que ainda não posto em palavras, fica claro que o Kondou está percebendo isso, que a devoção que ela tem a esse sentimento pode ser prejudicial, que ela também tem que viver além disso e fazer outras coisas que não só se agarrar a um amor incerto que pode não dar frutos. A cena em que ele espia a breve conversa entre a Tachibana e a Haruka é uma forma de ligar isso, dois polos da história que convergem, ambos preocupados com a Tachibana, ambos querendo ajudá-la a talvez perceber que é sim possível conciliar as duas coisas ou que se isso não for o que impede a Tachibana de voltar a correr, fazê-la perceber que renunciar, de certa forma, a sua juventude por um amor que provavelmente não será possível não é a melhor forma de se viver a vida, que isso só deve machucá-la, como muito machucou o Kondou em sua obsessão de uma vida dedicada a palavras que não envenenaram ninguém – veneno que hoje em dia o corrói e o embriaga em lamentações e nostalgia.

Leiam esse ótimo artigo da Mari para entenderem melhor a simbologia dessa estátua.

Aliás, literatura não ser a ajuda e sim o veneno foi uma bela sacada, uma forma bastante peculiar de enxergá-la e que demonstra bem a autenticidade da autora em escrever sua história de forma simples, gradativa, organizada e coerente; com um roteiro muito bom que apoiado por uma excelente produção é capaz de extrair o melhor de uma obra que tinha um grande potencial e nada decepcionou em sua adaptação. Outro ponto digno de elogio é a forma como a trama foi trabalhada, em um primeiro momento focando principalmente na Tachibana para que o público pudesse se afeiçoar à personagem, para depois ir trabalhando a Haruka e o Kondou a fim de que se tornassem interessantes como personagens – muito mais o Kondou nesse sentido – sem esquecer de fazer com que suas histórias, reflexões e atitudes fossem úteis e/ou necessárias para a história da protagonista.

Você vai voar ou só olhará para o céu, Tachibana?

O que esperar do derradeiro episódio do anime? Que Kondou e Haruka ajudem a Tachibana a ver a situação de forma diferente para ela não se jogar de cabeça em um precipício sem fim aparente. Em um anime de romance, no final o romance em si, o excesso em sua busca, é o grande problema, o grande “vilão”, já que em Koi wa Ameagari no You ni o mais importante não é, ao menos não ainda, fazer possível um amor considerado impossível, mas sim nos mostrar o quão gratificante e positiva pode ser a troca de experiências entre esses personagens e como isso não pode e nem deve ser “maculado” por uma paixão adolescente que mesmo contida e aparentemente saudável só está esperando para sair dos eixos e afetar negativamente a vida da pessoa com esse sentimento. Creio que não chegará a tanto e uma boa resolução para o problema que se apresentou nessa reta final será obtida nesse último episódio, contudo, a história não deve acabar aí, mas se o resto do mangá será adaptado ou não, só o tempo dirá. Me despeço já com saudades do anime. Até mais!

Nela reside o problema e a solução, toda a causa e a ação.

  1. Bem Ollááá Peoples!!!
    O que falar deste ep.!!! Foi denso o Kakeru17 já matou tudo cobriu todos os flancos não tem mais o que falar…
    Mas um cara que temos aplaudir…É o Chihiro…Nos dialogos com o Kondousan ele quis dizer “olha essa vida é efêmera numa hora vc acerta o publico noutra vc vira o excremento da mosca em cima do excremento do cavalo do bandido…Literatura não é para divertir é para envenenar!!!” é que ele ainda é um romântico ele ainda tem aquela verve da juventude de universitário, ele sabe que o mundo apronta essas armadilhas fáceis da fama literária…Mas no dia seguinte vem a ressaca…E temos o paralelo inteligentissimo com a Akira e a Haruka (fia o capitão do time de futebol tem um crush por vc e ainda não percebeu…), fantastico!
    Peoples! Este É o melhor anime da temporada!!!
    E fica um abraço pro Kakeru17 pelo excelente (top fucking galaxies!!) por abraçar esse anime que muita gente não dava um ai…VIVA!!!!

    • O anime está excelente mesmo e o Chihiro foi uma ótima adição ao elenco. Só não falei mais dos excelentes diálogos dos dois porque quis dar mais foco a situação da Tachibana no artigo, mas comparar a literatura a um veneno foi genial, além dele comentar como a acomodação que a literatura proporciona sobre a máscara do entretenimento ser perigosa para o escritor foi muito boa para mostrar um ponto de vista pertinente em uma história com personagens tão ligados a literatura.
      Koi wa Ameagari no You ni é um trabalho de arte genuíno e marcante, só nos resta agora esperar ansiosos pelo último episódio e correr para o mangá depois disso!

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