Bom dia!

Se Mahou Shoujo Site é o anime de pessoas boas (pelo menos a protagonista) comendo o pão que o diabo amassou, tendo a chance de se vingar de seus algozes e do mundo com magia, Dorei-ku é o anime de pessoas horríveis sofrendo a retribuição divina por meio da tecnologia. Mais ou menos isso.

Se você fosse uma pessoa horrível, o que você seria capaz de fazer para os outros sofrerem só para seu próprio prazer? Em Dorei-ku, você só não pode matar. Mas aposto que deve ser possível fazer isso de alguma forma indireta, e estou aqui me perguntando se o anime irá tão longe. Mahou Shoujo Site foi, não é mesmo? Por outro lado, aquele outro não teve coragem de mostrar um estupro logo no primeiro episódio. Dorei-ku teve! Mas é um anime corajoso mesmo, não é?

Não. Quero dizer, o anime tenta chocar mas não consegue de verdade, porque seus personagens são simplesmente inverossímeis. Dorei-ku nem tenta mostrar as circunstâncias e as consequências de um estupro, ou o sofrimento envolvido, a violência, nada disso. Ele só quis mesmo mostrar um estupro (e nem mostrou muito, talvez para evitar censura). Ao menos o sofrimento da Aya, em Mahou Shoujo Site, era real, palpável, porque ainda que os abusos que ela sofreu tenham sido muito exagerados, eram verossímeis. A diferença era apenas de tom. Em Dorei-ku, não, só tem um estupro ali porque sim. Aliás, não é porque sim: é para fazer a garota estuprada revelar seu “lado negro”.

Mas quem é que vai levar a sério o “lado negro” de alguém que não parece real? Ela foi estuprada e, enquanto o sentimento de vingança possa ser coerente com essa circunstância, ela se aproximar de boa vontade de seu violador depois não é. É um tema complexo, espinhoso, e tenho certeza que é possível que alguém reaja exatamente como a Rushie reagiu, conseguindo se aproximar como se nada tivesse acontecido, mantendo os sentimentos reais (raiva, basicamente) ocultos, mas não creio que seja o caso mais comum.

Veja bem, Masakazu a estuprou. Ele usou sua força para se impor violentamente sobre Rushie, a encurralou, calou, despiu, e finalmente, a violou. Parece assustador? É porque é assustador. E depois de passar por uma situação assustadora dessas ela consegue se reaproximar dele para se vingar – ok, vá lá, posso aceitar que ela talvez seja apenas “boa” em esconder o que sente, por difícil que seja segurar os calafrios que deveriam estar correndo por sua espinha naquela hora. Mas depois ela o levou para casa e o manteve despido. Sim, ela estava totalmente no controle da situação, mas mesmo assim: por que ela iria querer estar perto de seu estuprador nu mais uma vez? Pelo menos ela usou um paninho pra sentar em cima, então tudo bem (não).

E claro que o Masakazu é um gordo nojento. Todo gordo é sexualmente frustrado e um estuprador em potencial, afinal. Está nos genes: se é gordo, é estuprador. Estudos científicos sérios já identificaram a interação entre os genes OBZDD e ESTPD: o gene da “gordice” comprovadamente potencializa o gene da violência sexual. Além disso é óbvio que se ele fosse um bonitão, em forma, não só ele não seria um estuprador como ela ficaria molhadinha só de vê-lo, então eles fariam muito sexo feliz e consensual aquela noite inteira. Sim, esse parágrafo inteiro foi irônico e sarcástico, estou tirando sarro de como Dorei-ku abusa de estereótipos ruins.

Na imagem, uma legítima vítima de violência sexual sentada em cima de seu estuprador nu por vontade própria

Ah, mas é tudo por causa do aparelho! Pode ser? Vamos ver o outro caso do episódio então, daqueles que parecem ser os protagonistas. A … como é o nome dela mesmo? Acho que ela não tem nome. Aquela personagem de olhos esquisitos amiga da Eia estava chorando para a amiga pelo fim de seu namoro. A Eia não estava nem prestando atenção. Eu não sei qual é a relação delas, quão amigas elas são, mas sequer escutar o que a outra está dizendo? Tá bom. Daí ela escuta: ele a trocou por um homem! E aí ela se interessou! Se interessou pelo quê, exatamente? Pela desgraça da amiga? Pelo “exotismo” da bissexualidade? Qualquer que seja o caso, ela é uma pessoa horrível. Para não deixar dúvida, Eia arrastou a amiga para um encontro com seu ex-namorado e sem mais nem menos, só para testar se o que ele dizia era verdade, a beijou. Em público. No Japão.

Yuuga, o ex-namorado, nem parece uma pessoa tão má nesse contexto. Ele é um maluco que quer apenas sentir a emoção de arriscar a própria liberdade. Talvez ele ganhe escravos, mas talvez ele se torne um! Bom, ele fez um acordo com a Eia para que ela o salve caso isso aconteça, mas isso não é garantia de nada. Ela pode muito bem apenas ficar com o dinheiro dele e largá-lo ao próprio infortúnio. Ela é uma pessoa horrível, afinal. Ele certamente sabe que ela pode traí-lo, e aposto que isso é apenas mais um de seus jogos. Esse mesmo maluco, por qualquer razão, escolheu não envolver a ex-namorada, ao invés disso terminando antes com ela. É quase um cara legal, não parece? Mas não aposte nisso.

O importante, contudo, é que nenhum dos dois, Eia ou Yuuga, estava usando aparelho ainda. E mesmo assim a Eia já era essa pessoa horrível. O episódio ainda termina com uma narração dela falando sobre o quanto se arrependeu de ter entrado nesse jogo idiota. O que posso dizer? Eia, Dorei-ku até agora quer me fazer crer que você merece o que quer que possa vir a lhe acontecer. Como eu não sou uma pessoa (tão) horrível, eu não acho que mesmo pessoas horríveis merecem que coisas horríveis aconteçam com elas, mas prometo fazer o possível para não chorar por uma personagem de desenho fictícia se e quando ela se ferrar nesse caso.

  1. Eu nem ia dizer nada sobre Doreiku, mas logo no primeiro episódio já começou mal. Achei tão ridícula e desnecessária a cena da violação, bastava deixar implícito não era necessário mostrar um nerd frustrado sexualmente (Masakazu) “impor” as suas vontades sobre a Rushie (esta também, devia ser de outro mundo, nunca se deve marcar encontros a sós com alguém que se conhece online, é uma questão de inteligência e bom senso). Ainda na linha do estupro da Rushie, aquela cena dela a planear vingar-se do gordo que abusou dela, para mim foi trash (qual a necessidade de tornar a personagem caricata e ainda para piorar, colocar ao lado da mesma uma caixa de pílulas do dia seguinte junto da ficha do Masakazu. Eu sei que ela foi abusada, não preciso que o anime esteja sempre a lembrar da mesma coisa (essa cena das pílulas esteve em par de igualdade (em termos de trash), com a cena do preservativo (camisinha) da Natsuko de Ousama Game).
    Tocando um pouco em Mahou Shoujo Site, que referiste de forma excelente na introdução deste artigo, eu senti muito mais raiva no quase estupro da Aya, do que senti ao ver o estupro da Rushie. Isto deve-se a uma certa veracidade que o anime de Mahou Shoujo Site tenta passar (mesmo com os exageros), a Aya logo no primeiro episódio, dá para ver que ela come todo o santo dia,o pão que o Diabo amassou e isso gera incomodo e revolta em quem vê. Onde Mahou Shoujo Site ganha pontos, Doreiku só perde pontos (eu não engulo recursos manhosos do roteiro, e Doreiku está cheio deles). Em momento algum, senti pena da Rushi e muito menos senti raiva ou nojo do Masakazu. Quem dirigiu o episódio, pouco se lixou para o aprofundamento das feridas emocionais da vitima, simplesmente mostrou que a Rushie ficou cheia de raiva e a fazer caras bizarras, isto para mim não conta como desenvolvimento de personagem. A cena do salão de jogos para mim foi quase a gota de água, nessa cena, por pouco o episódio não quis dizer que a Rushie era uma mulher vulgar (qual a necessidade de mostrar a vitima a vestir-se com roupas provocantes para atrair o seu abusador, de tantas formas de vingança, foram logo escolher a mais asquerosa).
    Antes de passar mais adiante, o teu parágrafo sobre os gordos, esteve especialmente bom (a dose de ironia e sarcasmo alcançou a perfeição).
    Agora a protagonista Eia, ela foi tão mal introduzida, logo no começo com aquela cena desnecessária e fútil do beijo lésbico, deixou-me logo desanimado para o resto do episódio. Já não me bastava o namorado da amiga da Eia estar a fingir ser gay, como do nada a Eia, num estabelecimento público, decide dar um beijo francês na amiga sem motivo aparente (aqui tal situação não faria mal, mas dar um beijo lésbico em público no Japão, não deve ser muito bem visto, digo eu).
    As motivações do Yuuga são tão, mas tão rasas, que eu espero que ele nem a Eia morram afogado num lago raso.
    Achei bem estranho e bizarro o dispositivo que as personagens colocavam na boca, como eles não sentem dores se aquilo tem umas 40 agulhas com alguma droga na ponta (deve ser daqueles fetiches estranhos, que nunca me darei ao trabalho de entender).
    Não esperava que fosse fazer as primeiras impressões deste anime, fortemente candidato a trash da temporada, mas como sempre, mais um excelente artigo de primeiras impressões Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      O episódio foi uma bagunça. As pílulas do dia seguinte à mostra revelaram que houve o estupro, mas depois o anime mostrou parte dele para sua audiência ter certeza de que houve o estupro. De fato, desnecessário. Só não digo que a Rushie é tão estúpida como você diz porque ela marcou o encontro em um lugar público, o que é razoável. Acho que deveriam no mínimo trocado fotografias antes de decidir se encontrarem, mas que seja. No final do encontro, suponho que ele tenha sido insistente em dar carona à garota e ela não conseguiu dizer não. É o tipo de coisa que consigo imaginar na sociedade japonesa. Ver isso daria um toque de realismo ao episódio, coisa que fez muita falta. Ao invés, preferiram mostrar de várias formas diferentes que sim, a Rushie foi estuprada! E isso depois do anime, em uma de suas primeiras cenas, ter revelado que ele não está acima do estupro, quando aquele sujeito se virou para a mulher que ele havia vencido e a ordenou que fizesse sexo com ele – com o que ela concordou. Ora, isso também é um estupro! Ninguém duvidaria que o Masakazu havia estuprado a Rushie, mas o anime acha que sim, ou acha que gostamos muito de assistir estupros e coisas que remetem a um estupro, então mostrou a cena do carro balançando, depois em outra cena revelou que dentro dele iam Rushie e Masakazu e que ele se forçou sobre ele, depois mostrou a pílula, e depois em outra cena mostrou o Masakazu consumando o ato enquanto a Rushie se lamentava. E ele estava preparado para aquilo! A levou até o porto e a estava botando para dormir com algo naquele pano que enfiou na cara dela. Todo gordo é estuprador mesmo, não é?

      É esse tipo de anime que Dorei-ku é. Pra quem gosta é um prato cheio.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

      • A cena do carro a balançar, o gordo do Masakazu a colocar um lenço com clorofórmio na cara da Rushie para depois abusar dela e depois aquela cena das pílulas, tudo isto foi desnecessário. E eu esqueci de mencionar a garota na cena do bar que concordou sem mais nem menos, ter relações sexuais com um estranho (o que também pode ser considerado um estupro), Essa garota claramente estava sob o efeito de drogas (daquele troço que ela colocou na boca).
        O episódio todo, formou um estereótipo tosco em volta dos gordos e eu ainda estou para entender o porquê. Como tu bem escreveste no artigo, o episódio bombardeou o espectador com um falso estereótipo que as pessoas gordas, são propicias a cometer estupro do nada (por pouco, o anime não mostrou o Masakazu a “comer” a Rushie com os olhos em pleno bar). Acho que quem escreveu o roteiro e a história, não se deu ao trabalho de estudar, que as pessoas com excesso de peso, têm mais dificuldade em produzir testosterona (no caso dos homens) e estrogênio (no caso das mulheres). Logo os gordos, pela lógica cientifica são menos propícios a se tornarem predadores sexuais. Mas para o anime de Doreiku, a lógica não conta para nada, se ele esfrega na cara do espectador que os gordos são violadores, então deve ser verdade.
        Para mim, se Doreiku continuar trash e sem sentido é drop.

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