Lostorage Conflated WIXOSS – Luz versus escuridão
Lostorage Conflated WIXOSS é continuação direta de Lostorage Incited WIXOSS, e não só isso, mas ao se aproveitar das personagens da fase Selector – que rendeu duas temporadas de anime e um filme majoritariamente recap – acaba se tornando continuação também desses animes, mudando o status de spin-off que Lostorage tinha antes. E do que se trata Conflated? De uma nova rodada de batalhas com novas regras, que foca em um número menor de personagens e um objetivo claro: escolher o novo senhor do quarto das janelas brancas. Em uma temporada na qual uma coadjuvante é alçada a um status de protagonista, o desespero volta à tona e contrasta com a luz que as heroínas procuram.
O anime foi exibido na temporada de primavera de 2018 e teve um total de 12 episódios e um OVA, o qual tem o exato mesmo conteúdo do primeiro episódio, então não é preciso ir atrás de assisti-lo.
Conflated logo começa mostrando a que veio, com uma batalha que apresenta uma nova vilã e, sem tanta demora, com a apresentação das novas regras e a escolha de novas selectors, sendo essas todas garotas que já participaram das batalhas anteriores – todas as heroínas da franquia até então –, a nova Piruluk, a LRIG da Akira e a Kiyoi, que passou por ainda mais coisas antes de voltar ao seu corpo original e passar a se dedicar a acabar com o cruel sistema de batalhas. A Carnival se torna a principal vilã e a Akira também volta para agitar um pouco as coisas – ela é pau para toda obra, né.
É nesse cenário em que as batalhas se desenrolam e justamente por ter menos participantes fica a sensação de que se trata de uma seleção da seleção, de que se trata de um best of da franquia. As LRIGs antigas voltam, as mais antigas com visuais atualizados, um antigo desafeto da Kiyoi aparece e, assim como ocorreu em Lostorage Incited, a Kiyoi acaba criando uma LRIG que assume o nome de Piruluk e lembra muito a amiga que morreu por interferência da Remember – seu desafeto pessoal.
Como as personagens principais de Selector e Lostorage já haviam sido devidamente desenvolvidas em seus respectivos animes, um dos maiores acertos dessa temporada foi buscar alguns elementos novos mesmo em meio a tantas caras batidas. A Lyla – que eu carinhosamente chamava de inimiga B – e a Kiyoi, foram justamente isso, uma tentativa de não cair na mesmice ainda que com regras novas.
Tentativa essa que deu frutos, pois a vilã, apesar de não fugir de certos clichês, consegue agitar bem a trama e meio que representa um estado de estresse, de certa saturação, pois tem vários parafusos a menos, os quais, regados a essas batalhas sobrenaturais, potencializaram seu desequilíbrio mental.
Quanto a Kiyoi o acerto foi ainda maior, pois ao contrário da Ruuko e da Suzuko, a personagem foge bastante do estereótipo de protagonista plana que é forte e vai só aumentando a força que tem ao longo do tempo, além de que, o caminho que ela trilhou foi bem mais tortuoso que o das outras duas já que ela chegou a ser LRIG de uma vilã e perdeu uma amiga – se culpando por isso –, mas foi capaz de dar a volta por cima ao salvar a vida da mãe da nova amiga que fez, assim continuando a sofrer com as batalhas, mas sem se entregar completamente a elas, sem se deixar tomar pela escuridão.
Uma personagem forte de personalidade centrada que soube conduzir bem a trama passando uma sensação de que suas vitórias se davam mais pela força que ela conquistou ao longo de sua jornada do que por ser uma protagonista que vai ganhar no final – ainda que perca pelo caminho. Outro detalhe interessante foi a possibilidade da selector se tornar LRIG para ela mesma lutar no campo de batalha, o que, infelizmente, acabou não sendo tão bem aproveitado porque as selectors antigas que nunca viraram LRIGs também não viraram mesmo com essa possibilidade; restando apenas a Kiyoi, as personagens novas e a Yuzuki – essa que foi LRIG por 2/3 de Selector – nos ofertar esse fanservice.
É até compreensível elas não terem se transformado, afinal, se perdessem enquanto LRIGs seriam capturadas como a própria Yuzuki foi, mas a verdade é que elas não se transformaram por uma escolha de roteiro, uma das muitas que convenientemente levavam a trama até o ponto no qual a queriam levar, coisa que ocorre desde o primeiro anime da franquia e nesse não foi nada diferente.
As próprias concessões feitas a Carnival – que agia como uma espécie de promoter de batalhas – pelo Eterno eram justificáveis dada a característica seletiva da rodada de batalhas, mas lá no fundo era só um recurso de roteiro para que regras pudessem ser quebradas e, por isso, situações desesperadoras surgissem. Uma forma válida de apimentar a obra, mas que nem por isso deixou de ser questionável.
A trama se desenvolve dessa maneira, com batalhas que vão destrinchando as regras e dando sutis pistas sobre o que o Eterno deseja e o que as heroínas terão que fazer para parar as batalhas. Tem seus plot-twists, mas, no geral, eles não foram tão bons quanto os dos animes anteriores. Outro dos problemas que prejudicaram um pouco a obra foi o uso muito conveniente e previsível de algumas das personagens, sempre vencendo ou perdendo quando pareciam que iam vencer ou perder, o que remete aos plot-twist não tão bons, as surpresas – principalmente nas batalhas – quase inexistentes.
Outra coisa não tão bem desenvolvida foi o drama da Chinatsu quanto a recuperar as suas memórias, que tanto correspondiam a sua infância com a Suzuko, quanto ao tempo em que ela foi uma vilã. Não foi desenvolvido algo tão interessante disso, a própria Chinatsu foi usada mais para dar um upgrade na Suzuko do que como uma personagem recorrentemente útil na trama, mas pelo menos isso serviu de motivação para a Suzuko lutar e também como uma forma de reafirmar a confiança que a Kiyoi ganhou, pois ela foi unanimemente escolhida para ir até o Eterno resolver tudo, carregando consigo os desejos de todas. O resultado até que foi bom, mas a construção para chegar nele não foi tão boa.
O último ponto negativo digno de nota é a armadilha feita pela Carnival para forçar uma luta entre a Ruuko e a Suzuko, a qual não teria acontecido se, apesar de estarem emocionalmente confusas, elas tivessem posto os neurônios para funcionarem. Era um fanservice esperado, mas foi forçado demais e não agregou em nada à história, apenas servindo para selar uma aliança que poderia ter sido feita de outra forma. Mas, ainda assim, os pontos positivos do anime se sobressaíram em meio aos erros.
Mesmo que a Kiyoi tenha sido a estrela de Conflated, a Ruuko e a Suzuko também tiveram alguns bons momentos, principalmente nas lutas. A Tama teve tempo para processar os acontecimentos quando volta ao quarto das janelas brancas e com a ajuda da Shiro (Yuuki) resolve as coisas de um jeito diferente do esperado. Sem mais batalhas, mas com a compreensão dos sentimentos da Mayu.
Outro ponto positivo foi o desfecho no qual ficou claro que a vontade que o Eterno tinha de tornar a Kiyoi a dona do quarto das janelas brancas era na verdade um disfarçado pedido de socorro de sua parte, pois no fundo a existência que mantinha o sistema de batalhas queria se livrar do peso que carregava, e quem melhor para dar a ela a libertação senão quem sofreu com todos os aspectos dessas batalhas? Foi selector, foi LRIG, perdeu pessoas queridas, ajudou pessoas queridas, provou do pior do desespero e sofrimento, mas também foi capaz de provar o melhor da amizade e esperança.
O Eterno sabia que a Kiyoi teria forças para pará-la e lá no fundo era o que a existência desejava, o que, quando ocorre, devolve não só as memórias perdidas de quem se envolveu nas batalhas, mas também faz LRIGs que antes eram humanas retornarem aos seus corpos e dá corpos humanos as LRIGs que foram criadas pelo sistema do jogo. Um verdadeiro happy end completo e gratificante!
Acabou tudo bem até demais? Acabou, mas não é como se esse não fosse o propósito dos animes da franquia WIXOSS mesmo com toda a sua construção sendo pautada pelo drama. Ainda que se diga que as vilãs deveriam ter tido um final mais sofrido, só o fato de elas terem que encarar a vida real com todos os seus defeitos e falhas de caráter para mim já foi pior do que qualquer esquecimento promovido por uma entidade sobrenatural. E não só elas, mas com o aparente final das batalhas as heroínas também terão que encarar um mundo que não as dará a oportunidade de realizar desejos fáceis ou manipular memórias. Foi um adeus às batalhas do desespero e um olá para a vida adulta!
Antes de terminar, não poderia deixar de comentar que o anime manteve a ótima qualidade de costume no que se refere a sua produção, tendo uma animação consistente, ótima trilha sonora e boa direção. Só achei o roteiro bem forçado em algumas horas, como comentei acima, mas ele foi bom na maior parte do tempo, e inclusive trabalhou bem o apelo para os fãs mais “fervorosos”.
Pode ser que façam novos animes relacionados a franquia, mas duvido que envolvam essas mesmas personagens e duvido ainda mais que os fãs queiram isso, afinal, elas já sofreram demais, então que aproveitem o fim com sorrisos em seus rostos como fizeram ao final dessa temporada. Até mais ver!