O episódio quatro de Asobi Asobase tem laser lançado pelas nádegas, já o episódio 5 traz o terror espalhado por um boneco de cocô com uma lâmina que está solto na escola devido a um jogo de ocultismo. Asobi Asobase continua criativo, bizarro, exagerado e sem medo de se arriscar. Porém, quando um programa de comédia trabalha com esquetes, não é de se surpreender que ao compará-los haja algum desequilíbrio entre eles. Dependendo do que seja o descompasso, talvez não venha a se configurar como um grande problema. No caso do episódio 5 de Asobi Asobase, pode-se dizer que tal desacerto não chega a ser prejudicial à série.

Dois segmentos são absolutamente engraçados, chegando a serem geniais. Hanaka é quem traz a insanidade para ambas as partes. Primeiramente, ao ir a uma sessão de estudos em um restaurante vestida de maneira extravagante e se julgando na moda – segundo os looks exibidos no bairro de Harajuku, o mais fashion de Tóquio. Com Olivia e Kasumi sentindo vergonha alheia e Hanaka como o centro das atrações pela ausência de bom senso (a garota considera alta costura o seu estilo chamativo), estudar se tornar uma tarefa praticamente impossível.

A estranha noção de moda da menina Hanako: extravagante é eufemismo.

Quando Kasumi brinca com a caneta girando-a de um lado para o outro, Hanako se entusiasma e quer ser capaz de repetir o gesto da amiga. A ideia não resulta em algo feliz, pois ela erra o giro e a caneta cai no café de uma cliente fumante (uma das que riem da roupa de Hanako) provocando um incêndio. Como o seu traje berrante assemelha-se a um figurino que pode ser associado a um demônio, é a descrição que ela recebe dos frequentadores do restaurante após ocasionar o desastre.

Hanako é o centro das atenções. Desastre à vista.

E é Hanako também quem envolve as companheiras e Chisato-sensei na constrangedora situação de explicar como nascem os bebês, a partir do seu desejo de ter um namorado, casar aos 25 anos e ter um filho. As respostas para a pergunta vão se tornando mais e mais bizarras a cada tentativa. Olivia, por exemplo, acredita que a inseminação ocorre quando o casal se beija e o homem está com o pênis de fora. A partir da dúvida de Hanako, fica evidente que muito do temor de Kasumi a respeito do gênero oposto tem relação com o que foi informado sobre sexo para ela.

Sexo acrobático para fazer bebês. Um festival de constrangimentos.

A cena ganha em comicidade quando Hanako pede que seja ilustrado com dois bonecos o modo como transcorre o ato em que os bebês são feitos. Chisato-sensei sofre por causa de sua inexperiência. Ela tem conhecimento do início do processo de concepção, porém tem vergonha de explicar. E com os bonecos, o embaraço só aumenta, pois como não tem prática, ela segue o relato de uma amiga, que provavelmente descreveu a ela uma noite de sexo selvagem.  As posições em que ela coloca os bonecos são próprias de acrobatas, de quem não teme a máxima exigência de flexibilidade. Tanta confusão leva as garotas a desistir de ter filhos.

Em um dos esquetes, Perguntas Pesadas, temos Olivia testemunhando o fim de um relacionamento, no qual uma garota revela ao namorado que, na verdade, ela é homem. A membro do clube dos passatempeiros automaticamente pensa na fujoshi Kasumi. Contudo, quando conta para a amiga a novidade, Kasumi fica assustada e indignada, não aceita bem o fato da presença de um transexual na escola. Elas especulam para descobrir quem pode ser o menino. Suspeitam de Aozora-san, que é considerada uma das estudantes mais belas. Sem jeito para perguntar sobre o incidente da noite anterior, Olivia inventa um jogo para obter a informação sobre o gênero de Aozora, que antecipando o propósito das garotas, controla a situação ao revelar que criou uma desculpa para romper com o namorado. A resposta satisfaz Olivia e Kasumi, mas não Hanako, que tem o sinal de alerta ligado.

Aozora-san: menina ou menino? Talvez um episódio futuro responda.

Sobre o segmento, há dois aspectos a se apontar: o humor em si não é tão contagiante e o ataque histérico de Kasumi sobre a possibilidade de haver um garoto matriculado na escola que finge ser menina. A exaltação demonstrada por ela não tem relação com o seu medo de homens, mas com o fato dela condenar a travestilidade julgando-a inaceitável. Considerando a fobia de Kasumi, um rapaz vestido de mulher pode ser ofensivo. Mas se a relação do suposto aluno é com um outro garoto, não haveria motivo dela se escandalizar, já que o motivo não é escuso e nem vil (como a de um jovem em busca de um harém). Como apresentado, o foco migra da habitual tolice das integrantes do clube dos passatempeiros para um enigma que faz piada com a sexualidade tornando o diferente algo a se temer.

Não se trata, na verdade, de discutir o politicamente correto. A comédia é subjetiva. E nem o humor de um indivíduo é infalível, pois ele pode se perceber rindo de algo que nunca imaginou considerar engraçado. Muito menos a comédia está acima do bem e do mal. Ela é suscetível de tropeços e manifestações ideológicas. Não que esse seja o caso do esquete. Particularmente, o humor do segmento parece em dissintonia com o que Asobi Asobase tem de melhor, que é a maneira que brinca com a falta de conhecimento e exagero de seu trio de protagonistas, envolvendo as outras personagens em suas loucuras.

O segmento mais hilário apresenta Oka-san, do quase encerrado clube de ocultismo. Ela, como a última representante, está sofrendo pelos corredores com a perspectiva de fechamento do clube, e é quando ouve Hanako, Olivia e Kasumi usando um tabuleiro Ouija. Ao entrar na sala das passatempeiras, Oka-san fica feliz com a oportunidade de propor um jogo ocultista: esconde-esconde de uma pessoa (One Man Hide-and-Seek). O boneco oferecido para a atividade é uma pérola cômica: um boneco de cocô. O brinquedo precisa ser batizado e o nome que Hanako sugere não poderia ser outro além de Maeda, que já é presença constante na série.

Oka-san é uma personagem instigante. Mais pânico e humor ao programa.

O jogo consiste em um ritual que, em seu final, leva os participantes a se esconder do espírito invocado no boneco. O problema é que as garotas o deixam na pia do banheiro e ele some. Daí o pânico toma conta, em um desespero legítimo, com Hanako, Olivia e Kasumi acreditando serem alvo do boneco de cocô que tem uma lâmina nas mãos. As expressões de terror são impagáveis. Depois Oka-san descobre a verdade sobre o brinquedo desaparecido, mas aí o medo das garotas já está incontrolável.

Essas três sabem passar vergonha!

Assistir Asobi Asobase é recompensador, já que o riso vem de um absurdo que não perde de vista a inteligência do(a) espectador(a). E o episódio 5, mesmo que tenha um segmento não tão inspirado, mantém o programa em alto nível, não desperdiçando as novas adições ao elenco, consagrando-se como um anti-moe que elabora com precisão seu humor cáustico e insano.

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