Mais uma vez, Asobi Asobase utiliza muito bem o seu elenco, o que faz com que personagens e segmentos anteriores sejam ressignificados. Um exemplo é a presidente do Conselho Estudantil, que não é apenas uma garota “involuntariamente” sincera que deseja ser diplomática, ela tem um lado mais obscuro ainda, ao manter um livro com informações e segredos de alunos e professores. Além disso, temos momentos singulares e geniais de como trabalhar temas e situações que são clichês em animes, como o tamanho dos seios das personagens. O sétimo episódio da série comprova que seja o inusitado, seja o simples, acionando-se o extraordinário ou o requentado, as gargalhadas (sem culpa!?) estão garantidas.

O primeiro segmento marca o retorno de Aozora (a estudante sobre a qual pairam dúvidas sobre a sua identidade sexual), que contrata, por assim dizer (já que as seduz com trivialidades), as passatempeiras para roubar da sala do conselho estudantil um caderno chamado de documentos de banana, o qual contém informações a respeito dos escândalos produzidos na escola. As garotas não interrogam Aozora sobre os motivos dela querer o objeto, e qualquer resistência é vencida pelos “presentes” que recebem dela. Pontuando que apelar para desejos e/ou necessidades sempre funciona com elas.

O trio desastre se vendendo por pouco para roubar os documentos de banana (um nome esquisito para um arquivo confidencial).

Depois disso, a sequência é hilária, jogando com tudo que tem disponível e acertando em cheio na execução. Hanako treina um besouro para roubar o documento, com direito a treinamento intenso à la filme de espionagem. Kasumi inventa de usar um disfarce para se tornar uma ladra fantasma, isto é, uma fantasia ridícula. O roubo em si é visto sob duas perspectivas: das passatempeiras e da presidente do conselho, que quase as surpreende no ato do surrupio. E, para encerrar, Hanako ainda “premia” as narinas de Olivia com um odor indesejado e desagradável. Comédia e flatulência novamente se mostram uma dupla bastante eficiente. Sem contar o esclarecimento de que o som do pum pode ser silencioso, mas seu efeito, no que tange ao seu “perfume”, devastador.

Fantômas, o besouro ladrão mais legal da história dos animes. Bom, talvez seja o único.

As garotas não resistem à curiosidade e investigam do que se trata os documentos de banana. O que descobrem são um amontoado de relatos que as indicam como promotoras de algumas das tragédias recentes que ocorreram na escola: de restaurante incendiado à presidente do clube de shogi repleta de fraturas pelo corpo (com Hanako, geralmente, no centro dos eventos). Para obter vantagem e ter material para se defender (fazer chantagem), elas leem mais e encontram só informações inofensivas, entre elas, a de Olivia ter um cheiro repugnante. Ancorando-se na piada da suposta (?) falta de costume do europeu em tomar banho diariamente, o momento rende afagos pouco lisonjeiros a Olivia e o seu aroma, mas que servem para reforçar a amizade entre as estudantes. No fim, elas se esquecem do livro e Aozora passa a ter munição para futuras chantagens contra as passatempeiras.

A maioria das anedotas do programa se apoia na tolice e na despreocupação de Hanako, Olivia e Kasumi. E quando foca na estranheza de alguma delas, aí a situação ganha contornos bizarros, levando ao vexame iminente de modo retumbantemente engraçado. Assim, uma Hanako, entediada na sala do clube, decide, para se entreter, mexer no notebook de Kasumi, que, por sua vez, está espionando a amiga, por temer ficar sozinha com ela, desde que a presenciou arrancando a cabeça de um namorado-robô. Essa configuração conduz a uma sucessão de expectativas e julgamentos quando Hanako descobre a nova estória BL escrita por Kasumi. Só que o conto erótico tem um desfecho frustrante. Curiosa a respeito das impressões da amiga, Kasumi não resiste em perguntar sobre a avaliação da jovem sobre a leitura, o que cria um desconforto maior ainda, principalmente pelas tentativas de Hanako em mudar de assunto não darem em nada. Ambas terminam mortalmente envergonhadas.

O estranho erotismo da estória de Kasumi: nem Hanako gostou de uma porcaria dessas.

A melhor parte é o último esquete, com uma atividade para a disciplina de economia doméstica contendo uma divertida piada com o fato de Kasumi ser bem-dotada no quesito seios. O segmento é intitulado “Tragédia dos peitinhos”, o que já indica que a situação toma um rumo disparatado que reúne vergonha por parte de Kasumi e a inveja de Hanako. Kasumi sente-se incomodada com esse seu atributo físico em particular. Já Hanako está no extremo oposto. Entre essas realidades opostas, está uma camisa que não se fecha graças ao volume de um par de seios, e isso desencadeia uma sucessão de trapalhadas de Hanako, que tenta ajustar a roupa de Kasumi e só consegue chamar mais a atenção para os peitos da garota.

Kasumi e a dificuldade com o volume dos seus seios. É fanservice! Não é fanservice!

A cena é extremamente divertida, com os reparos de Hanako falhando miseravelmente, aumentando o seu desespero e o constrangimento de Kasumi, até chegar o ponto do irremediável. Só que a yukata costurada por Hanako também apresenta um pequeno problema. Oportunidade para Kasumi dar o troco, e o gosto da revanche está escrito no seu rosto. Enfim, os seios têm sua redenção nos animes, sendo apresentado de maneira crível em uma situação palpável (não é um trocadilho).

Hanako é uma péssima costureira. Já Olivia sempre tenta ser otimista.

Asobi Asobase tem seus momentos dementes e sem sentido, mas na maior parte do tempo é uma comédia inteligente (absurda) muito bem nutrida por ocorrências cotidianas (vida de garotas do ensino médio elevada a potência do surreal), o que a torna ainda mais impagável. Um besouro sendo treinado para se tornar um ladrão profissional é tão comicamente contundente quanto laser sendo atirado pela bunda, somente que vêm de cepas distintas do humor, que, no entanto, Asobi Asobase lança mão de maneira contagiante e imperdível.

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