Um episódio esclarecedor e assustador. No confronto entre a normalidade e a insanidade, a segunda vence, pois Shoko congela diante do transtorno de personalidade apresentado pela tia de Satou. Sim, a parente da jovem está viva. E domina o episódio. Quando se pensa nela, talvez transtorno seja insuficiente para alcançar o que a cerca. Insuficiente, pois o plural é mais adequado. Transtornos que nos mostram do que é feita a garota de açúcar, já que pelo ambiente em que cresceu, foi criada pela tia, não é de se espantar que não tenha saído incólume. O que há de melhor no episódio é o modo como trabalha a tensão e o drama decorrente das revelações. Ainda que certo exagero possa ser destacado. Porém, nada que comprometa o resultado, que é deveras angustiante e triste (por causa de Shoko).

Boa parte do que ocorre no episódio é movimentado por uma denúncia de Kitaumekawa-sensei, que leva a polícia ao prédio em que Satou mora. Em sua fantasia distorcida, a garota está traindo o segredo que há entre os dois ao ser receptiva à declaração de amizade de Shoko. O mau-cheiro vindo do apartamento é a desculpa para mobilizar dois agentes da lei para averiguação. No mesmo instante, Satou e Shoko chegam. A jovem está desconfortável, hesita. Os policiais insistem na necessidade de checar o local. Satou bate na porta, como se confirmasse um código. Então, surge uma mulher com alguns curativos no rosto, que se identifica como a tia de Satou.

O insuportável Kitaumekawa alimentando sua obsessão por Satou.

O que isso quer dizer? A aparição da mulher gera um choque geral. Os policiais se surpreendem com a figura excêntrica. Esse fato desarma Kitaumekawa, que começava a acreditar-se dono da situação, mesmo que fosse preciso desmascarar Satou, e causa arrepio em Shoko, pelo ambiente sombrio do apartamento e pelo transtorno comportamental da tia de Satou.

A tia da garota, à princípio, parece tão somente uma mulher desorientada. Mas como Satou é afetada pela presença dela, segue calada, algo terrível se faz mais próximo. Excetuando o lixo que toma conta de um quarto, de onde vem o mau-cheiro, nada mais é constatado. Apenas um leve sermão de que viver assim é anti-higiênico e de que não é um ambiente saudável para uma criança são o resultado do exame do apartamento. Tudo isso poderia ser uma ocorrência comum, mas a tia de Satou providencia para que seja assustadora, estranha e repulsiva ao provocar e tentar seduzir o policial (já que é uma dupla, um homem e uma mulher).

Satou e a tia: uma relação doentia, tensa e com mais insanidades para serem reveladas.

A tensa situação fica cada vez mais inquietante com a tia evidenciando sua compulsão sexual, sadomasoquismo e carência afetiva, declarando que aceita qualquer desejo, seja prazer ou dor, que toquem seu corpo com carinho ou a espanquem. A tia de Satou faz todo um jogo psicológico com o policial, analisa-o, dirige a ele palavras ofensivas, tirando-o do sério, depois o seduz, deixando-o atordoado, até que a policial intervém para auxiliar o colega, a quem a tia de Satou também se oferece, afirmando que a jovem agente da lei está solitária. Com os policiais escapando, a tia se vira para Shoko, oferecendo amor também a amiga da sobrinha. Shoko está impressionada e aterrorizada, certamente sentindo compaixão por Shoko, mas ao mesmo tempo temendo o significado daquilo que está presenciando.

O ataque da tia de Satou: uma compulsão que devora as entranhas.

O que é amor para a tia de Satou é uma questão central e também o quanto essa sua visão distorcida contamina, revolta e forma Satou. Essa pode ser uma primeira amostra de quão nocivo foi o que a jovem viveu com a tia. Mais abusos podem ser revelados mais à frente, confirmando que a garota foi molestada sexualmente pela tia. É dessa atmosfera perversa que a yandere e sequestradora Satou se origina. Não que isso deva conduzir à compreensão e à justificação de seus atos, mas o histórico de vida tem relação com o modo como a psicopatia se desenvolve e manifesta-se.

A fala mansa e pausada da tia de Satou é desconcertante, assim como seus momentos de euforia. O seu transtorno comportamental é assustador. Satou age como se tivesse vergonha dela, escondendo-a, ou a tia de algum transtorno limítrofe. Os olhares delas têm alguma semelhança. Quando atende a porta, a tia, ao ser perguntada quem é, responde “Eu sou ela”. Há mais a se descobrir da relação entre elas. Happy Sugar Life fez um ótimo trabalho mantendo essa revelação segura, jogando com especulações e suspeitas a respeito do paradeiro da tia de Satou.

Satou e Shoko, curto-circuito na amizade, talvez irreconciliável.

Quanto a Shoko, ela passa por vários sentimentos, da afinidade à suspeita, do desejo de compreensão ao amor, porém a realidade que Satou a apresenta é pesada demais para suportar. Sua convicção se mostra frágil diante do abismo familiar de Satou, que contém monstros que certamente Shoko desconhece. Seus problemas são difíceis, obviamente. Contudo, comuns, talvez brigas de casal e pais rígidos.

A amizade está abalada. Shoko não consegue responder a Satou se permanecerá sua amiga. O sofrimento de Shoko perante a sua própria fraqueza é dilacerante, é verossímil a dor que sente, o autodesprezo por não ser capaz de manter sua declaração de afeto.

A tristeza de Shoko: a dor excruciante da fragilidade humana.

A dúvida é que se Satou não preparou um teste para Shoko, já que a leva para o apartamento da tia, no terceiro andar, e não para o andar 12, no qual vive com Shio. Será que Satou pretendia avaliar a reação de Shoko diante da sua tia? Com Shio nove andares acima, a jovem parece querer manter a sua feliz vida açucarada longe da amiga. Satou sabe o quão a sua situação é moral e criminalmente condenável?

Depois disso tudo, resta a Satou encontrar Shio, em seu apartamento asséptico, mas que ela enxerga colorido, vivo. A jovem pergunta a Shio sobre amizade, a criança não sabe responder, e a impressão que fica é que Satou é incapaz de conciliar conceito e sentimento, mas que Shoko poderia ser a chance de conhecer o significado do termo.

Posando de modelo antes de matar? Mais revelações no próximo episódio.

O episódio 8 é um carrossel de emoções. A direção realiza um trabalho eficiente na revelação da tia de Satou, em que angústia e certa repugnância se sobressaem por conta de seu comportamento constrangedor e sexualmente agressivo (assédio sem se importar com a presença de adolescentes no recinto). Os adultos permanecem contribuindo com suas psicopatias, transtornos e maus hábitos. E a normalidade leva uma rasteira, com Shoko não se permitindo ultrapassar a própria fragilidade para lidar com o mundo amargo que envolve Satou. O próximo episódio trará os crimes de Satou, já que mostrará a quem pertencia o apartamento em que ela vive com Shio. Talvez a fraqueza de Shoko seja sua salvação, assim ela pode permanecer distante da insanidade que é Happy Sugar Life.

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