Chio e Manana são uma dupla imbatível. O oitavo episódio de Chio-chan no Tsuugakuro traz as garotas em duas situações muito bem elaboradas, com as diferentes facetas da amizade e de suas personalidades movimentando os segmentos. O interesse dessa dinâmica é que Manana está distante de ser uma escada, por assim dizer, para Chio brilhar com suas referências ao mundo dos games e sua filosofia do “manter-se na linha do mediano”. Além disso, uma apresentação interessante de uma personagem secundária, Momo Shinozuka, membro do Conselho Disciplinar, apesar de ser um desfecho que não recorre à comédia.

Chio-chan no Tsuugakuro consegue retomar o caminho do absurdo – com fatos que, se não improváveis, exageram o cotidiano –, do referencial ao universo dos animes e games e do humor inteligente, com um timing quase perfeito, sem apelar para piadas grosseiras ou personagens duvidosos (por enquanto, já que o preview aponta o retorno).

No primeiro segmento, Yuki-chan – uma personagem subaproveitada – usa sunquíni para ir à escola, já que tem uma prova dos 1.500m se aproximando. É evidente que Yuki está empolgada para a corrida, e o traje proporciona a ela entrar clima, uma preparação emocional antecipada. O estado da garota é um misto de ingenuidade, falta de percepção do que ocorre a sua volta (ou da interpretação desta) e calma ao ser observada, já que é uma atleta e está acostumada com olhares.

Yuki e seu “traje escolar” sexy: Chio e Manana em choque, e depois em guerra.

Chio e Manana se assustam com a roupa de Yuki, mas com Chio decidindo elogiar a amiga e seguir como se nada estivesse acontecendo, Manana se coloca na posição de ser aquela a chamar para a realidade Yuki.

A situação é um prato cheio para o lado mais cruel, e também trocista, de Manana se manifestar. Quando Chio veste seu uniforme de jogadora de soft tennis, a garota, inicialmente, acredita que ela o faz para ser solidária. Mas é impressionante o quanto Chio é praticamente um livro aberto para Manana. Ela percebe que a amiga apenas está recorrendo a um disfarce, usando o boné para ocultar o rosto, evitando assim uma visibilidade negativa.

A atleta Yuki está acostumada com a atenção do público, então nem percebe os olhares espantados e mais maliciosos.

Como Yuki se torna um embaraço para Chio por atrair olhares, Manana se delicia com o desconforto da garota, aproveitando as circunstâncias para se livrar da corredora e deixar exposta Chio, com o short saia que está usando. O jogo entre elas se estabelece novamente, com o “passar” um momento constrangedor como fim último. Yuki se mantém alheia a tentativa de Manana de colocar Chio no centro dos olhares, enquanto Chio, já sentindo vergonha, luta para que as três permaneçam juntas.

Manana, por conhecer Chio, afronta-a com a aversão que a amiga tem de se destacar e ser aquela que tem holofotes para si. É certo que Manana tem prazer em ver o desespero de Chio, mas a adolescente não cruza a linha que separa um leve constrangimento “básico” (e toda a tensão que o envolve) de uma brincadeira opressiva.

A vitoriosa Manana saboreando o momento… até deixar Chio-chan se trocar.

Vale salientar que o corpo à mostra de Yuki é o elemento disparador da comicidade que o segmento apresenta, não se trata de um puro e simples fanservice, a série o aproveita para explorar uma situação de exposição, com três maneiras distintas de encarar os olhares dos curiosos e lidar com suas consequências e possibilidades. Chio-chan no Tsuugakuro tem acumulado pequenas doses de posições desnecessárias, para deixar em evidência roupas íntimas, e obsessão com seios fartos – especialmente em relação a Madoka, mas nesse episódio acerta com a proposta e os enquadramentos.

O segundo esquete tem Chio trazendo à tona seu lado atlético, seu gosto pelo perigo e sua obsessão em reproduzir na vida real os jogos que passa à noite desafiando. Mas o que se destaca no segmento é realmente seu vínculo com Manana.

Ao se empolgar com a possibilidade de escalar dois prédios contíguos, recorrendo ao escapate, Chio começa a subir, tentando chamar a atenção de Manana, que está distraída conversando sobre dieta com Ushida, personagem do segundo episódio (praticante de cooper sob as instruções de Yuki). E ele não é o único personagem a ser resgatado nessa segunda parte do episódio. Na escalada, Chio se depara com um executivo, que abre a janela da sua sala. É o mesmo homem que escova os dentes observando o sol da manhã, quando Chio caminha pelos muros e telhados de sua vizinhança no primeiro episódio do anime.

A “mulher-aranha” em ação: impressionante como Chio perde a noção do perigo.

Ao ver Chio alcançado o topo de um dos prédios, Manana se assusta e se revolta com a falta de noção da amiga, e com a sua facilidade em se colocar em risco. Chio chega ao teto, feliz com o feito. Mas Manana consegue atingir o terraço do prédio oposto, ao fingir estar levando o almoço ao pai. E para mostrar sua indignação, a garota pula para a cobertura do prédio seguinte, com o objetivo de revelar sua indignação à amiga. Realmente, Chio extrapola ao subir o prédio como se fosse “a mulher aranha” (correndo um risco nada calculado, já que toda a ação se baseia em sua impulsividade). Mais uma vez a jovem se deixa levar pela oportunidade de reproduzir seus jogos favoritos.

Comemorando o triunfo. Nerd, atlética e estrategista, uma combinação explosiva.

O salto de Manana é uma surpresa, pois ela não é atlética. No entanto, a preocupação com Chio a torna imponderada. O que se sucede disso são o choro de Chio (de alívio, já que a Manana acerta o pulo), o desmaio de Manana (ao descobrir seu gesto impensado) e a afirmação da amizade delas, com Chio compreendendo que o tesouro no telhado é justamente a amiga.

Entre os hilariantes exageros do cotidiano e os vacilos colossais (como o episódio 6), Chio e Manana seguem suas aventuras e loucuras, com ações irrefletidas, raciocínio impressionante para escapar das confusões e tentando expor a outra a uma situação vexaminosa, porém sempre reforçando o vínculo entre elas.

O tesouro no final da aventura é nada mais nada menos que a amizade.

No último segmento temos Momo e a história de como assume seu lugar no Comitê Disciplinar. É uma terceira parte melancólica para um episódio que incita o riso descomedido. Momo é considerada chata pelos colegas e não consegue fazer com que suas ideias sejam apreciadas. Ela é uma aluna dedicada e cumpridora das regras, mas cada vez mais se sente sufocada pela falta de reconhecimento, pelo menosprezo. Até que um dia é convidada por um professor a integrar o Comitê Disciplinar. Então Momo, garota desastrada, inteligente, mas que tem dificuldade em lidar com pessoas, encontra o seu universo, um lugar no qual está confortável. Não é uma sequência engraçada ou luminosa, porém não é um descompasso, e tem seus bons momentos ao revelar atitudes do passado para esclarecer/fortalecer o presente e a personalidade da personagem.

Momo encontra o seu lugar na “selva” que o ensino médio.

O episódio 8 de Chio-chan no Tsuugakuro é divertido, tem Chio e Manana brilhando intensamente, endiabradas e ternas. Os segmentos exploram aspectos da pessoalidade de cada uma delas de modo eficiente, arejando a comicidade do programa. O segmento com Momo é curto e bem orquestrado. Um episódio que se aproxima muito dos melhores momentos dos primeiros capítulos, da comédia que abraça o absurdo, mas não é dominado por ele, compreendendo a necessidade de interromper a sua loucura no momento certo, para não ser acusado de não saber aparar as próprias arestas (pena que os deslizes não podem – e nem devem – ser apagados).

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