Aqui estou para fazer a resenha do anime que por sua premissa ficou erroneamente conhecido como uma mistura de Sword Art Online e Ano Hana. Tudo bem que a obra possui sim certas similaridades – principalmente com SAO – com as obras citadas, mas, ainda assim, Shichisei consegue se “equilibrar” razoavelmente bem na corda bamba entre o clichê esquecível e uma história que é mais do que isso.

Tanto é que, tirando as similaridades de clichês e a ideia de risco de morte em um jogo virtual, pouco ou nada pode se associar a obra original de light novel de maior sucesso da atualidade. Quanto a Ano Hana a semelhança acaba por ser praticamente refutada ao longo do anime, mas devo comentar isso melhor no artigo. Prepare seu VR e embargue comigo na aventura da guilda das seis ou sete estrelas.

Queria que toda amizade de infância fosse bonita e forte desse jeito…

A premissa de Subaru é simples e trata de um tema que se tornou incrivelmente popular nos ultimos anos: a realidade virtual, como podemos aproveitar o melhor do seu desenvolvimento para o puro e simples lazer pessoal. Ao menos é isso que a sinopse acusa, mas ao longo do anime uma conspiração se revela e ela, obviamente, está intimamente ligada aos personagens que protagonizam a obra: seis crianças que um dia começaram a jogar o jogo Union não apenas por diversão – mas também para ir lapidando seu lugar na sociedade, já que se sair bem no jogo abriria portas para elas – e sofreram um trauma severo quando uma delas morreu tragicamente após morrer no jogo – e não, isso não é SAO.

… sendo capaz de superar até a maior das tragédias.

As circunstâncias da morte em si nunca foram exploradas, mas pela história ser narrada sob o ponto de vista das crianças a falta de informações mais detalhadas acaba sendo compreensível. É aí que se encontra a base para “brincar” com a ideia aterradora de que essa morte suspeita não foi uma morte de fato, mas sim uma tramoia para se aproveitar do que a Asahi tinha de especial, do que na verdade todos eles possuíam, um sense, que nada mais é que uma habilidade que pode ser categorizada, mas detém propriedades especificas que tendem a determinar o sucesso do jogador no VRMMORPG. Isso até acaba sendo um acerto do autor, pois, de certo modo, justificada muitos dos clichês de Shichisei.

Cada personagem tem um diferencial e não se sabe qual o potencial máximo dele, tanto é que com o passar dos episódios é explicado que o sense é o motivo real do jogo existir, pois ele não passa de um grande experimento para explorar o potencial do cérebro humano através do desenvolvimento dessa habilidade única.

Até aí “tudo bem”, não é como se despertar um sense no anime fizesse mal a algum dos personagens, mas a partir do momento em que quem está por trás disso – a sofrível e sem graça guilda Gnosis – pretende usar esses senses no mundo real aí a coisa muda completamente de escala.

Acho essa pose muito cômica, até incomum de ver. Okay, não teve nada a ver pôr ela aqui.

Há uma grande conspiração por trás da volta a vida da Asahi e é nela que seus antigos companheiros se envolvem quando o Haruto reencontra a garota, um reencontro que não só reabriu feridas de um passado trágico, mas também reviveu sentimentos latentes.

E não só nele, mas também em todos os outros personagens principais – talvez se possa excluir o Clive disso –, que reagem a situação muito a mercê de seus próprios sentimentos no que diz respeito a imortal Asahi ou aos outros companheiros.

Eles eram crianças no primeiro jogo, agora no novo jogo chamado de ReUnion – que depois revelam ser apenas um novo campo de testes bastante similar ao anterior – eles são adolescentes que com os seus hormônios a flor da pele e a estranha situação de ver o antigo grupo, que sofrerá uma cisão, ser reunido, acabam por dar vasão a sentimentos que foram interrompidos pela “separação forçada”.

A Satsuki é apaixonada pelo Haruto, o Takanori pela Asahi, a Nozomi pelo Takanori, etc. A única paixão que não é explicitada logo de cara é a da Asahi pelo Haruto – logo a única que é mútua a princípio –, mas logo de cara é facílimo sacar que há algo de especial entre eles, que ele é o Jinta e ela a Menma.

É aí que a trama acaba por gastar tempo demais para resolver essas idas e vindas amorosas dos seus protagonistas, mas não é como se isso não tivesse sido importante para o quadro geral, porque esses sentimentos em conflito tanto causaram situações de dificuldade para o grupo – tenha sido ele unido ou ainda em frações –, quanto ajudaram a desenvolver os heróis a restabelecer relações fragilizadas, as quais detinham um papel vital no que se refere ao desenvolvimento do potencial dos senses deles.

“Você esperava uma cena séria, mas sou eu, momento de fanservice leve!”

O emocional foi imprescindível para que os protagonistas conseguissem superar os seus problemas e no final do anime acabassem finalmente reunidos, restabelecidos como guilda em um jogo no qual a necessidade de desbravar, de explorar, de jogar para ir descobrindo os segredos do mundo; foi o que ditou o ritmo da narrativa.

Não se aprofundou na dinâmica e na mecânica do jogo em si, é verdade, o que se deveu com certeza a falta de tempo para desenvolver personagens e mundo, mas foi razoável na forma como conseguiu se valer desse mundo para contar sua história de maneira gradativa e boa.

Adorei muitas das paisagens do jogo, como essa.

Contudo, nem tudo é um mar de rosas, e se o anime acerta na “qualidade” das relações interpessoais trabalhadas entre aqueles que mais importam, peca por apresentar antagonistas superficiais – vilões enlatados – que não possuem qualquer desenvolvimento e sequer uma abordagem envolvente.

Dois dos antagonistas da primeira metade nem são tão ruins, mas não passam a sensação de perigo que o anime podia ter explorado, e os antagonistas tardios são ainda piores, pois eles que estão por trás de tudo o que ocorreu de ruim com os personagens na história, mas são mais rasos que piscina infantil.

Não que havia a obrigação de criar vilões interessantes, mas precisavam apelar tanto para clichês de personalidade como fizeram com os completamente esquecíveis personagens que usam a Nozomi? É algo tão bobo que até atrapalha a seriedade e o divertimento do arco final no qual aparecem e esse não é um anime só de profunda reflexão e mensagem, então o divertimento é sim essencial para ele.

Ela como vilã também foi horrível, só se salvou o visual gótico mesmo e olha lá.

Além disso, a insistência em situações clichês que são extremamente previsíveis também é um fator de demérito para a obra. Não que eu já não esperasse ver o herói levantando mais forte depois que a morte sorri para ele, nem que o personagem chato de outrora teria uma mudança em 360º, mas há momentos em que a trama não recorre a resoluções tão fáceis ou pouco criativas – como a primeira morte do Haruto e o modo como a Satsuki lida com a rivalidade e amizade para com a Asahi –, o que acaba criando um contraste entre soluções realmente interessantes e desfechos que são o contrário.

“Oi Kirito, é você?”

Subaru anda constantemente na corda bamba entre o medíocre e o bom, se mantendo em boa parte do anime no que eu poderia categorizar como “razoável”, mas não consigo afirmar que chegou a ser “ótimo” em mais do que dois ou três momentos. O que foi uma pena, pois apesar do final que não é conclusivo no que tece ao mistério principal, o anime me agradou por seus personagens e seu clima, o que pode variar bastante de pessoa para pessoa porque a personalidade da maioria dos garotos e das garotas acaba se rendendo a estereótipos – ainda que não se perca totalmente ao usufruir deles.

Não tenho problemas com protagonistas fofinhas que desejam paz e amor para o mundo todo e não voltam atrás no seu discurso de união e amizade; ao menos não se elas têm pelo menos uma cena de consternação em algum nível, e a Asahi teve isso no finzinho do anime; então não acho que ela foi de todo ruim e nem que seja uma personagem irreal que apenas segue um padrão fácil de lidar.

Ela não é exatamente só isso, e nem a tsundere da turma é só tsun, e nem o babaca continua sendo apenas o babaca. Nem o protagonista, tapado como ele só, deixou de demonstrar coragem quando foi preciso.

No fim das contas, Subaru é um bom anime que desenvolveu bem os temas com os quais se dispôs a trabalhar e deu um fim decente para sua trama? Sim e não. A adaptação animada da light novel, que ainda está em andamento no Japão, consegue passar bem a importância da amizade e dos laços que os personagens cultivaram ao longo de suas vidas, ressaltando a importância da união e da confiança com aqueles mais próximos a eles, e até dá um fechamento digno para a trama mesmo sem fechar a história como um todo.

Sejam em Union ou em ReUnion, só existe uma Subaru!

Entretanto, a força da mensagem, e a qualidade de seu meio de transmissão, acabam por depender demais da boa vontade ou não do telespectador. Se você, caro(a) leitor(a) não liga para os clichês, a produção econômica – a animação foi bem mediana, mas a trilha sonora já foi e compensou um pouco – e a forma questionável como alguns detalhes foram explorados; então esse anime pode agradá-lo, mas se espera algo mais profundo e original talvez Shichisei não seja a melhor escolha.

Não dá para ser uma telespectadora vip com vista privilegiada como a Elicia – brincadeira, a garota me agradou bastante como personagem e desempenhou um papel essencial, e até simbólico, como a sétima estrela da turma –, mas assistir esse anime da tela do computador ou na TV usando o Amazon Prime – a produção está disponível no catálogo da plataforma – pode ser mesmo prazeroso, uma experiência que se não trouxer nada de novo para a sua vida, ao menos pode fazer você curtir o que assistiu.

Tenha cuidado ao jogar VRMMORPG quando isso se popularizar – isso vai se popularizar em um futuro talvez bem próximo – e valorize aquelas amizades “para toda sua vida”. Até a próxima!

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