Como é difícil comentar certos episódios de Tokyo Ghoul:re, pois muitas vezes acontece muita coisa na tela e fico indeciso sobre o que é relevante comentar e o que não é. Com mais episódios as cenas teriam como ser melhor desenvolvidas e isso não seria tanto um problema. Enfim, o quarto episódio foi importante para o prosseguimento dessa adaptação, pois tanto revelou a verdade sobre o Rei de Um Olho, quanto indicou o que acontecerá daqui em diante. É hora de Tokyo Ghoul:re no Anime21!

O Tsukiyama tem uma certa rixa com o Ui, porque foi ele que comandou a operação para liquidar sua família, o que foi abordado no final do primeiro cour e, sinceramente, é pouquíssimo digno de nota por essa revenge não ter dado em nada e mal ter tido tempo de tela.

É mais interessante comentar a apresentação da Roma nesse momento da história como uma integrante do Pierrot, o que no mangá a essa altura não era novidade para os leitores, mas no anime não lembro se teve um foreshadowing decente. Eu lembro que ela aparecia no leilão, mas se não me engano não revelou a sua “verdadeira identidade”.

O foreshadowing para a interessante história de vida do Arima já foi mais bem feitinho, né.

Sim, ela é uma personagem do mangá que aparece lá na segunda metade da primeira série sendo bem secundária, e ela é só isso mesmo, só que ser bem mais do que parece deu a ela um certo espacinho na história – o que podem só ignorar como fizeram com a Mutsuki e o Torso ou não.

O único outro detalhe interessante do trecho da batalha entre senpai e kouhai pelo doutor Kanou é o Shirokai ter dois kakuhous e, portanto, duas kagunes; mesmo caso da Quebra Nozes, o que meio que é a prova de que até entre os ghouls existem das mais variadas mutações.

Isso deu abertura para que o autor explorasse o conceito da imaginação e personalidade do ghoul determinarem a forma da sua kagune, os “poderzinhos” que os ghouls soltam – plasma, eletricidade, etc – principalmente no modo kakuja, a existência de meio ghouls que não são ghouls como o Arima revela no final do episódio, etc.

Contudo, antes de comentar o melhor momento do episódio mais a fundo, acho importante pincelar sobre o que aconteceu na luta do Amon contra os Quinx. No mangá os Quinx chegam ao recinto para lutar, mas antes disso quem enfrentou o Takizawa e o Amon, além de quase ter matado a Mado, foi a Mutsuki, já tendo saído de cativeiro. Não, ela não acaba como uma “gatinha assustada” no original.

Ao meu ver isso foi o mais decepcionante desse cour até agora, pois ignoraram todo o problema dela com o Torso, o qual era um momento chave para a “mudança” de personalidade da garota, mudança essa que no mangá provoca situações conflituosas pelo resto da trama. Mesmo usando o flashback – nesse caso ou usam ou adaptam sem fidelidade – não há mais como desenvolver bem a personagem.

Número de pessoas que só veem o anime e se importam com a Mutsuki depois desse episódio: 0.

Na prévia do episódio seguinte ela sequer aparece… Eu compreendo que pela falta de tempo alguns personagens iam rodar mesmo, mas por que tinha que ser justo ela? Não teria sido melhor cortar as cenas pouco relevantes – como a do Tsukiyama – para dar tempo a Mutsuki e pô-la no meio da luta?

Enfim, sobre a luta em si a Mado relembra o passado e acaba jogando tudo para o alto para salvar o “Abacaxi”, Takizawa, o que faz certo sentido e denota um conflito bastante interessante para a filha de pais mortos por ghouls que ela é.

Além disso, o Amon que ela admira desde a juventude também é um ghoul. Como ela lidará com isso daqui em diante? O que aponta o abraço da Hinami na prévia?

A reflexão que o ato dela sucinta é válida para o momento atual da trama no qual a diferença entre ghouls e humanos tem se tornado mais e mais turva.

Outro ponto que reforça isso é a hesitação da Saiko em enfrentar o Amon devido a ele ter protegido ela no passado, assim como as palavras dele e a sua demonstração de que ele pode sim estar em uma pele de monstro, mas é bastante sensato, é uma pessoa capaz de proteger um humano ou um ghoul sem fazer distinções.

Suas palavras e ações semeiam um caminho para o entendimento e a coexistência. Ainda é uma ideia em estados inicias, é verdade, mas são esses breves momentos que preparam terreno para o que deve ser o final da obra.

Ademais, sobre esse trecho só quero comentar que a fixação do Urie por não perder mais ninguém é sim um clichê irritante que quase sempre há em battle shounens e afins, mas dada a morte recente do Shirazu e os arrependimentos que ele tem pela forma como ele agia com o companheiro, acho ser compreensível a forma de pensar e agir do Urie agora. Só espero que não exagerem no melodrama…

Vocês já esperavam que os Washuu na verdade fossem ghouls? Bem, isso já era praticamente certo. O problema foi o Furuta matar o chefe do clã e tomar o trono. No fim das contas, os Washuu sequer importam agora?

Se tudo o que importa é o poder para controlar ambos os lados da balança, o vilão não vai perder essa chance que ele mesmo escancarou de tomar controle sobre a V, né? A tendência é de que o Furuta domine o CCG, os Washuu, a V; tudo. Além de que ele fará oposição ao Rei caolho.

Quando você dá headshot, mas o jogo é de zumbi.

Na verdade, ao sucessor dele, e é aqui que começo a comentar o quão bem toda a “passagem de bastão” do Arima fez a esse episódio; apesar de ter ficado aquém do que poderia ter sido.

Afirmo isso não só por terem demorado a passar esse trecho, mas porque como tudo na adaptação do :re, falta competência a equipe de produção para entregar cenas de impacto, além de manter a trama coesa.

Repito mais uma vez, o anime todo é mais um grande checkpoint do mangá que uma série capaz de “caminhar com as próprias pernas”. A imitação quadro a quadro que procuram fazer em certas cenas de destaque só comprova minha opinião – o que praticamente só serve para fanservice.

Simplificando, o Pierrot só quer ver o circo pegar fogo.

Enfim, o Arima, o Furuta e a Hairo cresceram em um local chamado Sunlit Garden, uma instituição da CCG na qual os descendentes do clã Washuu frutos do cruzamento entre um humano e um ghoul são criados para se tornarem investigadores.

Peões fortes o suficiente para se equiparar em força física e agilidade aos ghouls, mas que não têm kagunes e como efeito colateral por possuírem uma alta taxa de células RC no sangue seu tempo de vida é curto. Não é à toa que o Arima tem cabelo branco, mas antes ele era azul, né? E nem que ele tem glaucoma.

No final, ele, que possuía o corpo e a vitalidade no auge da forma sobre-humana, era na verdade um “senhor idoso” fadado a morte mais que certa.

De pai para filho, de rei para rei!

Por isso ele se matou, porque já não teria mais muito tempo e era conveniente deixar o Kaneki levar a fama pelo feito. Afinal, ele, quase cego de um olho, era o Rei de Um Olho, a lenda ressuscitada em comum acordo por ele e a Eto.

Se você, caro(a) leitor(a), não entendia porque o Arima nunca matou ela e sempre parecia a deixar escapar, com a revelação desse episódio tudo fez sentido. No final, ele sempre quis se libertar de seu dever como o “Deus da Morte”, mas para fazer isso a rebelião que ele buscava necessitava de um sucessor, de alguém que pudesse levar o seu legado adiante.

E quem era melhor para isso que o Kaneki? Um humano que virou meio-ghoul, lutou do outro lado e voltou para o lado ao qual ele pertenceu. Uma contraparte artificial – a Eto seria a contraparte literal – do Arima que foi morta uma vez por ele, mas que também recebeu o direito de ter uma nova vida, uma chance para se conectar aos dois mundos; o mundo dos ghouls que sofrem nessa guerra sem fim, o mundo dos humanos que também sofrem com tudo isso.

O Kaneki é o protagonista trágico que agora vai ter que colocar a coroa e assumir seu papel como rei, um rei que seja capaz de unir humanos e ghouls, como o Arima jamais seria capaz de fazer.

Um rei que entende a dor de ambos os lados e, ainda que só queira viver uma vida tranquila com as pessoas que ele ama, é bondoso o suficiente para carregar o fardo, para aceitar uma missão que sequer sabe se será capaz de cumprir.

Esse é o Kaneki, um cara fraco – mas às vezes forte –, um cara que sente medo; perde; morre; mas não se entrega a tragédia.

Porque Tokyo Ghoul era uma tragédia na qual o protagonista morreu sem ter conseguido fazer tudo aquilo que ele queria, mas Tokyo Ghoul:re não é uma tragédia, é um conto épico de um rei que vai mudar o mundo. E se todo rei teve alguém que o coroou, o Arima vestiu essa “carapuça” muito bem!

Descanse em paz Arima, o seu legado ajudará ambos humanos e ghouls!

  1. Leticiana Thomazini Coelho

    Eu li o mangá de Tokyo Ghoul e Tokyo Ghoul:re todo, mas teve partes que não conseguir entender e suas análises me ajudaram a esclarecer as minhas dúvidas é uma das únicas coisas que tenho certeza dessa história é que ela é muito bem construída e que um anime de uns 24 episódios por aí, não é suficiente para explorar isso. Personagens bens contruidos , principalmente o Kaneki que ao meu vê é um dos melhores personagens já criado na história dos mangás/anime . ( sou tão fã do personagem que o meu gato se chama Kaneki)

  2. Fico feliz que esteja gostando dos artigos. Realmente, Tokyo Ghoul merecia adaptações melhores em anime; tanto com mais episódios, quanto com uma equipe de produção melhor. Tirando o anime de 2014, todas as outras temporadas foram bem abaixo do mangá, mas tenho a esperança de quem um dia, ainda que demore bastante, readaptem a obra de uma forma que faça jus a qualidade do material original.

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