Ao longo da passagem de Yuu e Merc pelos vários reinos e cidades, o que marcava cada jornada era a responsabilidade que os flashbacks tinham pra explicar as coisas, e a interferência mínima dos protagonistas pra resolver os problemas de cada pessoa que encontravam. Na verdade, podemos dizer que Yuu e Merc eram mais um impulso inicial que induziam os “problemáticos” a encontrarem seu próprio caminho, ficando em segundo plano a cada história. Nessa aventura optaram por conceder a nossa dupla principal um papel maior do que tiveram ao longo da série, explorando suas ações diretamente na solução do impasse da vez.

Continuando de onde paramos, vimos que Ultos era um sofredor de nascença pela falta de asas e isso o trazia dor. Já Michellia a santidade local, assim como suspeitava tinha um grande fardo em seus ombros, as suas belas e grandes asas. Nisso Yuu e Merc acabaram se introduzindo a cada um deles em diferentes circunstâncias assim como as dessas duas figuras.

Que Ultos era solitário nós já tínhamos percebido, mas ele era bom em esconder esse status – ou pelos menos parecia bom em ignorar a sua própria condição -. Isso mostrava que ele tinha algum entendimento do que acontecia ao seu redor, cabendo apenas decidir entre dois caminhos: a “rebelião” ou a conformação, com ele escolhendo a segunda opção até a chegada de Yuu.

Yuu é alguém que se livrou de suas próprias amarras com o tempo e as experiências vividas, e seu jeito resistente e determinado de ser acaba movendo Ultos de sua prisão – tanto a interna quanto a física -.

Não muito longe dali, Michellia tinha algo muito maior que o mero peso que a impedia de voar. O peso de suas asas, assim como a prisão de Ultos, estava mais dentro dela do que no seu exterior. A sua condição fez com que ela não conseguisse criar uma ligação real com Deus, durante toda sua existência. Michellia sequer tinha noção clara do que era a fé que tanto buscava, ela não sabia nada sobre o Deus que cria, não sabia como chegar ao que queria, e a sua mente não compreendia que aquilo que procurava estava tão acessível quanto ela podia imaginar.

O que interligava os dois era que uma tinha o desejo de “voar” se libertando de suas asas, enquanto o outro almejava se libertar voando com as suas próprias. A transformação em ambos os lados é acompanhada por elos de amizade e aprendizado, que forjados aos poucos no presente, substituíram aqui a necessidade dos flashbacks contando detalhadamente histórias tristes, como a garota que não encontrava seu caminho divino e a família que se destruiu por causa de regras sem sentido – isso tudo foi contado e explicado rapidamente, sem rodeios no passado, e digo que se tivesse não faria tanta diferença -.

A prova de fogo a essas almas em metamorfose veio com a ação de Ravial, quando emboscou Yuu e Ultos. Depois de muito diálogo com Merc e Pestia (e um encontro rápido com o próprio Ultos), Michellia decide fazer o ritual que pode ceder metade de seu “peso” ao garoto e trazer o alívio e as respostas que os dois tanto anseiam.

Acho que o ponto chave do episódio foi a construção da relação entre Yuu e Ultos, que passaram de desconhecidos a melhores amigos. Yuu apesar de ter seu foco claro em Merc, em momento nenhum esqueceu aquele que estava a seu lado, ouvindo seus pensamentos, cuidando dele com toda atenção e companheirismo necessário, sendo essas as ações que mudaram o pensamento de Ultos e o fizeram se abrir pra o curandeiro.

A confirmação disso tudo, está no ato altruísta que Ultos faz quando se lança sem asas pra salvar a vida de seu mais novo (e provavelmente o único além do irmão) amigo Yuu, que caía pra morrer num deslize durante a aparição de Ravial e seu exército – mesmo sabendo que ele também poderia morrer junto, já que Michellia ainda não tinha realizado o ritual de transferência -.

No fim, seu gesto e o de Michellia junto a suas determinações, permitiram a ambos alçar liberdade. Nesse momento Ultos descobre um novo mundo aberto pra ele – e ainda se declara pra Yuu de brinde -, enquanto Michellia descobre que no fim era ela mesma quem limitava sua fé, descobrindo que tinha acesso direto a Deus dentro de si há muito tempo, só não tinha exercitado isso ainda por conta de suas tristezas e pesar no coração.

Apesar de tudo ter terminado bem e de uma forma linda, algo que senti falta e que não deu tempo de deixar bem esclarecido foi a relação entre Ravial e Ultos, porque embora o mais velho demonstrasse amor e desejo de proteger o irmão, eles pareciam meio distantes – aqui eu acho que caberia pelo menos umas lembrancinhas estáticas, pra dar uma noção melhor -.

Penso que Ravial queria manter as aparências para não gerar desconfiança nas pessoas (exceto Michellia) se expondo e acabando com as chances de sobrevivência de seu irmão, assim como Ultos também não o julgava, justamente por saber de sua origem e pelo cuidado que ele oferecia, mesmo que não demonstrado de forma clara ou constante – considerando que não vimos nada deles na prisão da ilha, as vezes eles se dão melhor do que parece e só não deu pra mostrar nos 24 minutos disponíveis -.

No geral, a participação mais ativa dos protagonistas me agradou bastante e o episódio foi fantástico. Creio que agora nossa última aventura deve concentrar as forças em Yuu e Merc, sanando o mistério da identidade dela e com eles retornando ao reino inicial provavelmente, acabando assim essa longa curta viagem.

Vejo todo mundo na próxima e conclusiva aventura de Merc Storia!

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