Acho que essa frase do título é bem propícia pros acontecimentos desse episódio, onde o anime decidiu de uma forma diferente nos dar algumas respostas sobre questionamentos que eu já tinha feito anteriormente, ao passo que usou um episódio tranquilo e sem muitos eventos pra desenvolver outros tópicos que foram bem importantes pra construção da história como um todo.

Desde o episódio passado com o John Silver, eu estava me perguntando acerca dos pensamentos do grupo sobre os destinos escritos e os ocorridos nas histórias, independente do caráter dos protagonistas e vilões em cada uma delas.

Por um erro de transporte Reina leva a família Tao pra zona de histórias da Branca de Neve, mas como já sabemos, a névoa costuma guiar o time pra locais onde há problemas. Como eles disseram desde o começo, Reina como sacerdotisa pode sentir a presença dos Chaos Tellers aonde estiver, só que nessa zona ela não sente nenhuma incorreção.

Sem que tivessem espaço pra pensar muito, eles são rapidamente “atacados” pelos sete anões que levam Ex a força até sua casa. Com esse evento incomum a história vira uma coisa que do meio pro fim, acaba revelando fatos importantes e escreve um bom final pra problemática do dia.

Os anões criam uma verdadeira celeuma e fazem com que Ex acidentalmente dê o beijo responsável por despertar a Branca de Neve. A garota o confunde com seu príncipe e gruda nele, sem dar muita importância pras explicações que ele ou os demais estavam dando e sem se tocar da alteração leve que sua história já tinha sofrido por ali – a turma de Ex já estava incomodada com a mudança de eventos, mas pelas vias tradicionais batalhando não tinha mais conserto.

Branca de Neve de início mostra uma personalidade bem infantil e num certo grau irritante, parecendo ser apenas uma garota mimada e egoísta esperando seu destino feliz se cumprir.

Ela sequer tentou se questionar coisas do processo como a Chapeuzinho e a Cinderella, que ao menos tentaram mover um pouco suas trajetórias pra mostrar que tinham alguma vontade própria – me deu um certo nervoso acompanhar ela junto ao grupo na primeira metade do episódio, mas isso se corrige um pouquinho com as resoluções finais.

Essa versão da história dela aponta pra algo bem interessante que é a mudança na personalidade original das personagens, e os possíveis efeitos decorrentes disso na mentalidade dos heróis ao refletir a situação, comparando ao destino traçado. A Rainha não odeia sua enteada por completo como previsto, mas a cria com amor até o momento de seu cruel destino se cumprir e a inversão de valores ser feita.

Branca de Neve também não odeia a madrasta – a qual trata carinhosamente por mãe -, ao contrário disso ela a ama pela benevolência e carinho que lhe foram dados. A Rainha sempre amou a princesa, mas num certo momento se deixou mudar e decidiu levar a ferro e fogo o seu destino.

A prova viva do elo que existe entre elas é a conversa sincera que a Rainha tem com a menina explicando os seus futuros e como devem agir, independente do que sentem uma pela outra.

Eu trago de novo aquele tópico do John Silver, porque é realmente algo a se questionar até na proposta da série, em termos de lição a se trazer pra quem acompanha. Branca de Neve tem uma ligação forte com a mãe, e a Rainha era uma mulher boa que estava fadada a se transformar num monstro e morrer apenas porque a escreveram assim.

Olhando pela lógica humana da coisa, não é justo que ela esteja condenada ao mal mesmo que seja do bem, apenas pelo cumprimento do destino programado de sua filha, e com esse questionamento descobrimos a posição que eu estava cobrando da família Tao.

Eles tem seus questionamentos, percebem as coisas e se sentem de fato incomodados, mas infelizmente não podem criar interferências a seu modo – tal ato pode acabar destruindo a zona alterada.

Depois de muito caminhar eles chegam ao castelo e são recepcionados pela Rainha que lhes oferece um pequeno banquete, demonstrando sua hospitalidade – nessa parte eles acabaram ficando mais por conta da gula de Reina do que por outra coisa e no fim das contas foi bom. Durante a comilança mais uma vez a soberana oferece maças, dessa vez como sobremesa na esperança de matar Branca de Neve de novo.

Aqui eu me perguntei o que ela realmente sentia, já que sabia que envenenar a menina culminaria no encontro com o príncipe e sua inevitável morte – e vale lembrar que ela parecia bem satisfeita em por a história nos eixos a qualquer custo tá louca. Os anões então intervém e impedem que o roteiro prossiga, levando a mulher a um pequeno momento de reflexão.

A revelação final foi bem interessante com a Rainha sendo nada mais que a antiga Branca de Neve, agora invertendo os papéis e se colocando no lugar de sua mãe. O flashback dela mostra que a outra monarca era assim como ela, mas a diferença é que em sua vez o ódio pela sua mãe e seu destino a dominaram. Esses acontecimentos a fizeram indagar Branca de Neve sobre seus sentimentos em relação a ela e o que estava acontecendo com as duas.

Pra surpresa dela, a menina diz que mesmo sabendo o que as aguarda, ela a ama incondicionalmente e desejava poder ficar com ela pra sempre. Uma pessoa normal ficaria abalada com essa revelação e com ela não foi diferente, isso a faz pensar no ocorrido da sua época como princesa e o porque da menina não ter ódio dentro de si.

Ficou meio subtendido que pelo roteiro normal ela devia agir como sua mãe e possivelmente suas predecessoras, a amando num primeiro momento e a menosprezando no seguinte pelas suas ações.

Com isso veio outra novidade: a interferência causada por Ex foi um evento menor e que acabou impedindo que a maçã validasse seu verdadeiro efeito, gerando o ódio na menina e o esquecimento do amor pela mãe – maldição que infelizmente atingiu a Rainha antes.

O momento de abertura dos corações permitiu que a Rainha refizesse seus pensamentos e Branca de Neve encontrasse a oportunidade que precisava. A história pode voltar ao rumo original? Pode, mas acho difícil que essas duas não consigam contornar isso.

A princesa agora tem a chance dourada de ter uma rota onde pode ser feliz com aquela que ama e que agora não mais está sob um jugo obrigatório de condenação – a Rainha se livrar da influência do espelho também é um bom sinal dessa volta por cima.

Pra ser sincero acho que o único evento que deve ser contemplado de fato na história, é a união de Branca de Neve com o príncipe, já que esses roteiros se pautam na ideia do final feliz com todos saudáveis e um casamento duradouro. Considerando essa ideia, não se faz necessário o extermínio de uma personagem que não pretende exercer influências negativas no cumprimento dessa “lei”.

Uma curiosidade minha é acerca da extensão dessa interferência, será que apartir de agora todas as Brancas e as Rainhas poderão agir como mãe e filha sendo felizes sem haver invejas, espelhos, maças e mortes? Não sei, mas gostaria de uma definição sobre isso e que de preferência fosse favorável e definitiva a pessoas boas como a Rainha.

Ver essa mudança de roteiro acontecer é bacana porque nos dá novas perspectivas para algumas histórias trágicas, assim como nos mostra que é possível sim fazer interferências menores. O problema maior aqui seria descobrir o que são essas intervenções menores e como fazer em outras zonas quando for preciso – o que não dá é deixar os pobres coitados apenas revoltados com quem escreveu aquilo e com choques de consciência deixando a vida passar sem opções pra agir.

Gostei bastante da dinâmica do episódio, não foi o mais engraçado, o que teve mais ação, mas certamente foi o que trabalhou melhor os bons pontos que a série tem a seu favor.

Esses elementos que permitem a mudança de pequenos eventos também me agradaram porque vejo um futuro melhor pra vários personagens e pra lição que a série pode passar no final. Espero que esse tenha sido o pontapé pra série deslanchar.

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