Bom dia!

Sensacional. Esse episódio não teve a história mais emocionante, nem o desenvolvimento mais inesperado, muito menos a revelação mais chocante.

Mas que espetáculo de narrativa, hein? A história foi contada de vários pontos de vista diferentes, de acordo com cada personagem envolvido no grande esquema das coisas, e todos eles chegaram a um ponto de inflexão ao final do episódio ao mesmo tempo.

Mais ainda: o fato de não ter acontecido nada extraordinário nem de nenhum elemento novo relevante ter entrado em cena adiciona mérito ao grande final desse episódio, que amarrou várias histórias de diversos personagens que vêm sendo contadas desde os primeiros episódios.

E tudo isso em um episódio sobre uma parede. Metaforicamente, cada um dos personagens envolvidos e também o anime encontram-se agora encarando uma parede. O que estará do outro lado?

 

Banmon em chamas após a vitória de Daigo contra Asakura

 

A parede do episódio não é qualquer parede também. É a última parede da antiga fortaleza de Banmon, que teimosamente permanece de pé, marcando o local da primeira vitória de Daigo Kagemitsu e que foi, para a população geral, o ponto de partida da glória e prosperidade de seu domínio.

O verdadeiro ponto de partida, porém, foi o pacto com os 12 demônios, que devoraram várias partes de seu filho recém-nascido, Hyakkimaru. Passado e presente agora se reencontram.

Todos os pontos de partida dos fatos que começaram entre 15 e 16 anos atrás, que haviam se espalhado pelo mundo, se reencontram e suas linhas narrativas se emaranham.

 

Tahoumaru escuta a história que seus pais esconderam

 

A parteira que fugiu após o nascimento de Hyakkimaru enlouqueceu, passou a viver nas ruas da cidade, e agora encontrou-se com Tahoumaru, o filho mais novo de Daigo Kagemitsu e que ele já planejara no mesmo dia em que mandou que se livrassem do lamentável bebê que cresceria para se tornar Hyakkimaru.

Foi Biwamaru quem o salvou naquele dia, após derrotar um ghoul que devorou a outra parteira que não teve coragem de matar a criança, e agora o monge errante chega ao Templo do Inferno, a base dos 12 demônios.

 

O Templo do Inferno brilha com o miasma

 

A batalha que catapultou a fama de Daigo foi contra os Asakura, que nunca deixaram de ser uma ameaça na fronteira e hoje estão mais ativos do que nunca, e sabendo da movimentação de Kagemitsu parecem estar se preparando para algo, na mesma Banmon em que foram derrotados no passado.

Hyakkimaru e Daigo Kagemitsu se reencontram à vista de Banmon.

A estátua divina que salvou a vida do bebê Hyakkimaru e para a qual Nuinokata rezava todos os dias rachou-se.

 

A estátua de Nuinokata racha

 

Note que tudo isso já era conhecido. Dororo criou um final épico nesse episódio combinando e desenvolvendo linhas de enredo já bem estabelecidas. Tem uma ou outra coisa nova ou “seminova” nesse episódio.

O que achei mais fascinante entre as novidades apresentadas é como o povo do domínio de Daigo conhece uma versão distorcida da história real. Não é que eles não saibam de nada ou que saibam de uma fantasia fabricada, mas sim que sabem tudo o que esteve envolvido para que Daigo prosperasse, mas a história que eles sabem é uma adulteração dos fatos reais.

Tudo começa com Daigo Kagemitsu e os demônios. Para o povo, seu senhor derrotou os demônios e os encerrou no Templo do Inferno. A verdade é que os demônios (que eram criação humana, esculturas feitas por um artista qualquer) já existiam e Daigo ofereceu a eles qualquer coisa (escolheram seu filho) em sacrifício para que suas terras prosperassem para que ele pudesse se tornar poderoso.

 

Uma peça teatral encenando uma versão da história segundo a qual Kagemitsu derrotou os demônios

 

Daigo então se tornou poderoso, derrotou Asakura em Banmon, e os demônios tornaram a natureza mais mansa e fértil, em troca deles próprios se libertarem do templo e cometerem todo tipo indignidades demoníacas que lhes dessem na telha, desde que não prejudicasse o poder de Daigo.

O povo acredita que houve um confronto. Na verdade, houve um acordo.

O outro elemento 100% novo desse episódio é Sukeroku, o garoto que morava na vila que havia onde mais tarde seria construída a fortaleza de Banmon. Perdeu na batalha que houve ali sua casa e sua família, e continua de alguma forma subsistindo e sonhando em retornar para sua terra, do outro lado da colina encimada pela sinistra parede de madeira.

Não espero muito de Sukeroku. Parece-me ser apenas mais um personagem incidental como os demais de todos os episódios de monstro da semana que Dororo teve. Mas também como esses demais personagens, ele ajuda Dororo e Hyakkimaru a progredirem na história.

 

Os Asakura recebem notícia sobre a partida de Daigo para Banmon

 

De quase novo, o mais notória adição desse episódio foi descobrir mais sobre os Asakura. Não é de hoje ou de agora que eles se opõem a Daigo. Aparentemente, são inimigos desde sempre ou quase isso – e estão a uma caminhada a pé da capital do domínio.

Mantém vigília permanente na fronteira, e já chegou a eles notícias da movimentação de Daigo Kagemitsu.

Outro elemento reaproveitado de episódios anteriores é a parteira que saiu correndo após o nascimento de Hyakkimaru. O que poderia ter sido só um elemento dramático do primeiro episódio foi reutilizado nesse décimo-primeiro com grande efetividade.

Ela enlouqueceu e vaga pelas ruas da cidade ninando uma pedra enrolada em tecido que faz às vezes de bebê demônio. Estava claro que Tahoumaru nada conseguiria arrancar de seus pais, e nenhum servo que porventura saiba o que aconteceu daria com a língua nos dentes também.

Tahoumaru até tentou, drogou um servo de seu pai, mas ele preferiu tentar se matar a contar a verdade para o filho mais novo de Kagemitsu. Uma ex-serva enlouquecida passa a ser uma boa escolha narrativa, pois.

 

A parteira enlouquecida

 

Não deixa de ser interessante como ela reagiu da mesma forma tanto ao ver o Hyakkimaru quanto ao ver o Tahoumaru. É a forma que Dororo encontra de dizer que eles são parecidos e ela percebe isso, apesar do traço cartunesco de Osamu Tezuka?

E agora?

Como será que Hyakkimaru irá escapar de Daigo Kagemitsu e Dororo dos soldados Asakura?

O que irá acontecer com Biwamaru no Templo do Inferno?

O que será que significa a rachadura da estátua que Nuinokata adora? Hyakkimaru perdeu sua benção divina?

E a própria Nuinokata, será que irá tentar fazer algo?

O que Tahoumaru irá fazer agora que descobriu o segredo de seus pais?

Eu tenho as minhas hipóteses, mas não parece tão divertido assim especular agora. Estou enfeitiçado por Banmon e quero apenas esperar para ver o que está do outro lado dessa parede em Dororo.

 

Hyakkimaru e Daigo Kagemitsu

 

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