O estudo da ciência existe para melhorar a vida do ser humano, mas a maneira como o conhecimento e o avanço são usados nem sempre ajuda a humanidade como um todo, e até quando ajuda ressalvas sempre podem ser feitas.

Seja um grupo de pessoas, um organismo único ou toda uma sociedade; os avanços científicos tanto podem ajudar quanto atrapalhar; nos lembrar do que nos torna humanos e desmascarar nossas faces mais atrozes.

Dois tipos de sociedades opostas, mas nem tão distintas assim, exploradas na ficção cientifica são a utópica e a distópica, o sonho e o pesadelo; e são elas que vou abordar nessa lista.

Prepare-se para saborear do melhor e do pior do contraste entre o ideal e o real que, ainda que não seja a nossa realidade atual, não parece tão distante assim.

 

Astro Boy

Astro Boy, ou Tetsuwan Atom, é um dos maiores clássicos da história dos animes e mangás. A obra é de autoria do mestre Osamu Tezuka e se passa em um mundo futurista em que a robótica se torna ainda mais avançada quando o Dr. Tenma cria Astro (Atom, no original japonês), o primeiro robô com sentimentos, à face do filho que perdera.

A certa altura Tenma abandona Astro e é seu antigo parceiro, o Dr. Ochanomizu, que acolhe o garoto e o incentiva a se tornar um herói que resolve casos envolvendo humanos e robôs enquanto luta para ser aceito pela sociedade.

O sucesso do anime de 1963 foi o gatilho para o estabelecimento da indústria de animação como a conhecemos hoje, mas a versão que acompanhei foi a de 2003, exibida na saudosa TV Globinho.

Seja que versão for, há um filme de 2009 que é uma boa e rápida porta de entrada ao universo. Assista Astro Boy, uma das obras mais icônicas da ficção científica mundial. E veja também a próxima indicação, o início da lenda do garoto robô.

 

Atom: The Beginning

Atom: The Beginning narra os eventos anteriores a Astro Boy, como Tenma e Ochanomizu se conheceram e criaram A106, robô que foi o primeiro protótipo do principal personagem criado pelo mestre Tezuka.

Nessa prequela a robótica ainda está em seus estágios iniciais, mas com a criação dos amigos universitários os primeiros traços de humanidade em um robô já podem ser percebidos.

Atom é o começo de todo o fascinante universo criado pelo pai dos mangás e é mais do que indicado para quem se interessa por Astro Boy. Outro anime que envolve androides você pode conferir na próxima indicação.

Leia as primeiras impressões de Atom: The Beginning.

 

Eve no Jikan

Em uma sociedade na qual androides são parte essencial do dia a dia dos humanos, Rikuo, um jovem estudante, descobre algo de estranho sobre Sammy, sua empregada androide, que o leva a conhecer um café chamado de Eve no Jikan no qual humanos e androides são tratados como iguais.

É ao conviver com os frequentadores do café que Rikuo muda a forma como vê os androides, o que remete a uma discussão recorrente na ficção cientifica: devemos tratar como humano, e não como uma simples ferramenta, um ser que na teoria não o é?

O anime possui 6 ONAs disponíveis no Crunchyroll, a versão que assisti, que foram compilados em um filme que conta com algumas cenas extras. Os androides, seres não humanos, servem para contar uma história provocante sobre o que é ser humano. A diferença parece óbvia, e mesmo assim talvez não seja? Mas e quando, como no caso da próxima entrada, não houver diferença nenhuma mesmo?

 

Suisei no Gargantia

No futuro distante, a humanidade abandonou a Terra e vive nos confins da galáxia, em guerra sem fim contra os Hideauze, criaturas gigantescas com aparência de plantas que vivem no espaço. Todos são criados desde bebês para lutar nessa guerra, e esse é o caso do protagonista, Ledo.

Em uma batalha, porém, ele é arremessado há anos-luz de distância e acaba parando em um planeta todo coberto por água. Humanos o habitam, vivendo suas vidas inteiras em enormes embarcações. O nível tecnológico é muito mais baixo, o estilo de vida é muito mais simples, mas Ledo não tem dúvidas: ele está na Terra!

Ela não havia sido destruída na guerra contra os Hideauze? O que aconteceu, qual é a história de verdade? Como ele faz para voltar para a sua civilização galática? Ele quer mesmo voltar…? Ser humano só fica cada vez mais complicado.

 

Mardock Scramble: The First Compression

Balot é uma jovem prostituta que tem um histórico de abuso na família e sofre uma tentativa de assassinato de Shell, o dono de um cassino, com o qual a garota vivia uma relação de dependência.

A beira da morte ela é salva pelo Dr. Easter e Ouefcocque, um é cientista, o outro um rato aprimorado cientificamente, que acionam a lei “Scramble 09” e usam de todos os meios possíveis para salvar a vida dela e a permitir testemunhar contra seu algoz.

Mardock Scramble é uma série de três filmes que narra uma história humanizada em um mundo no qual a tecnologia pode distanciar as pessoas do que é “humano”, mas são os atos humanos o que há de verdadeiramente monstruoso. O que é diferente, mas não tanto, do anime que é a próxima indicação.

Leia a resenha de Mardock Scramble: The First Compression.

 

Heavy Object

Em um mundo no qual Objects, massivas armas esféricas capazes de sobrepujar exércitos comuns, dominam os campos de batalha; Qwenthur, um estudante de design de Objects, e Havia, um nobre analista de radar, têm que se virar para derrotar essas armas das formas mais criativas possíveis e assim mudar a percepção do mundo sobre essas máquinas de guerra.

É ao lado de Milinda, que pilota o Object Baby Magnum, e a comandante Frolaytia que os dois vão virar a guerra contemporânea de pernas para o ar. Heavy Object é um anime de sci-fi militar com mechas peculiares e um mal bem mais à vista do que o que permeia a trama da próxima indicação.

 

Koukaku no Pandora

A única comédia dessa lista. Uma colaboração entre Masamune Shirow, de Ghost in the Shell, e Koushi Rikudou, de Excel Saga.

Nene sofreu um terrível acidente, perdeu seus pais e só foi salva graças à tecnologia que permitiu que seu corpo inteiro – cérebro incluso – fosse transforado em uma máquina. Mas ela não tinha dinheiro para isso, foi tudo vontade de uma benfeitora desconhecida, que ela parte, então, para conhecer, e com quem irá viver.

Uma história que se passa no mesmo mundo de Ghost in the Shell e que de uma forma totalmente diferente faz as mesmas provocações sobre o avanço sem freios da tecnologia e como isso aumenta o abismo entre ricos e pobres, coloca em xeque o que é ser humano e no final talvez nem cumpra a promessa de prosperidade que a justificou em primeiro lugar.

 

Ghost in the Shell

O que é ser humano? Não, de verdade, o que é ser humano?

Em uma sociedade na qual todo o corpo pode ser substituído por partes robóticas, no qual até mesmo o cérebro pode ser um cérebro robótico, e no qual memórias, a percepção e até mesmo a personalidade pode viajar por redes de informação para qualquer lugar não importa quão longe do corpo original, o que é ser humano?

Major Motoko Kusanagi, com o mais avançado cérebro prostético, lidera uma equipe de investigação de crimes cibernéticos. Seu alvo é o elusivo Puppetmaster, que à primeira vista parece ser apenas um vírus de computador desenvolvido com inteligência artificial muito avançada.

Leia a resenha de Ghost in the Shell.

 

A.I.C.O. -Incarnation-

No Japão de 2035 uma catástrofe que ficou conhecida como “erupção” adentrou uma cidade de pesquisa e espalhou os resíduos de uma inteligência artificial chamada de “matéria”.

Aiko Tachibana é uma garota de 15 anos que perdeu a família no incidente e ao se encontrar com Yuuya Kanzaki descobre um segredo sobre seu corpo e parte em uma jornada em direção ao marco zero da erupção com o intuito de desvendar os mistérios que cercam sua existência.

A.I.C.O. é uma produção original da Netflix animada pelo estúdio Bones que aborda temas delicados de maneira consistente e interessante, misturando o humano e o científico sem negligenciar nenhum dos dois. A indicação seguinte realça essa qualidade com sua carismática dupla de protagonistas.

Leia a resenha de A.I.C.O. -Incarnation-.

 

Dimension W

No ano de 2071 os problemas energéticos que assolavam o mundo foram resolvidos devido a descoberta de uma fonte inesgotável de recursos, a Dimensão W.

É nesse mundo aparentemente sem grandes problemas que Kyouma tem o trabalho de lidar com as bobinas, dispositivos que extraem energia da Dimensão W de maneira ilegal, que ele tanto odeia, enquanto forma uma estranha parceria com Mira, androide que tem relação com seu passado.

Dimension W é um anime de ação, drama e comédia, além do sci-fi, mas o que cativa mesmo nele é a relação entre os protagonistas e como as histórias deles se cruzam tendo um mundo instigante como pano de fundo.

 

Psycho-Pass

Akane Tsunemori é uma inspetora novata que escolheu essa profissão para exercer seu senso de justiça, mesmo que pudesse ter escolhido uma carreira melhor e muito mais segura, de acordo com sua pontuação calculada automaticamente pelo sistema.

Sistemas informatizados independentes da operação humana gerem a maioria das funções vitais no Japão, e no caso da justiça, é o Sistema Sybil. A forma como a lei é executada mudou drasticamente, e, graças ao Sybil, o Japão nunca foi tão seguro e tão feliz.

Ao invés de investigações manuais após a ocorrência de crimes, os olhos de Sybil estão por toda parte, e mede o potencial criminoso dos cidadãos a todo o tempo. Ao se atravessar determinado limite, os inspetores e executores são enviados para lidar com a pessoa. Dependendo do quanto a pessoa tenha se corrompido, pode ser enviada para tratamento, presa pelo resto da vida, ou até mesmo executada sumariamente – tudo isso é decidido por Sybil; aos inspetores e executores cabe apenas puxar o gatilho.

Mundo perfeito? Oh, ele é ainda mais imperfeito do que escapa à percepção de Akane e da maioria das pessoas que cresceram dentro desse sistema, mas é auto-evidente para nós…

 

Blame!

A Terra não existe mais, a sociedade não existe mais, nada do que você conhece existe mais. Tudo o que existe é a incalculavelmente grande Megaestrutura, um labirinto de proporções cósmicas no qual o que resta da humanidade tenta sobreviver como pode em cantos e frestas.

A Megaestrutura é patrulhada por robôs, e eles estão programados para matar seres humanos.

Killy viaja sozinho pela Megaestrutura a procura de uma pessoa que possua genes terminais – alguém que, diz-se, poderia controlar as máquinas da Megaestrutura. E coisa é hoje só uma lenda que nem todos conhecem, mas Killy continua sua jornada, de colônia humana em colônia humana.

Leia a resenha de Blame!.

 

Planetarian: Chiisana Hoshi no Yume

Trinta anos após o fracasso do Programa de Colonização Espacial a humanidade está à beira da extinção e na Terra há aqueles que escavam artefatos das ruínas da civilização.

Kuzuya é uma dessas pessoas e ao adentrar a cidade sarcófago ele encontra um planetário do período pré-guerra e a robô que cuida dele, Hoshino Yumemi.

Ele a ajuda a consertar o planetário e com ela observa as estrelas nessa história simples, mas tocante. Planetarian é uma estrela cadente nessa lista que permite a você realizar o seu desejo de poder desfrutar de uma última e excelente indicação.

 

Akira

Akira é a obra máxima de Katsuhiro Otomo e um clássico dos mangás. O filme de mais de três décadas é ainda hoje uma referência em animação e sua trama de ficção científica cyberpunk uma das mais aclamadas entre público e crítica.

Na história acompanhamos Kaneda e Tetsuo em uma rivalidade que supera até os eventos sobrenaturais que passam a cercar a vida dos dois na distópica Neo Tokyo, cidade uma vez devastada por uma explosão que deflagrou a Terceira Guerra Mundial.

A catástrofe foi provocada por uma misteriosa existência chamada Akira e parece cada vez mais próxima de se repetir. Akira é uma das obras mais relevantes da história do Japão e uma lista de sci-fi com essas características jamais poderia deixar de contar com sua presença. Indico que assista o filme de Akira e leia o mangá em lançamento no Brasil pela editora JBC caso ainda não tenha o feito. E corra com isso, afinal, nunca se sabe quando uma distopia irá irromper.

 

E aí, curtiu a lista? Se quiser indicar mais animes para listas vindouras pode ficar à vontade.

Aproveite a sessão de comentários antes que o governo nos proíba de explanar nossas opiniões ou que estejamos embriagados demais de contentamento para sequer sermos capazes de defini-las.

Porque utopia pode ser algo bom e distopia ruim, mas, vai por mim, o que quer que nós mereçamos, será sempre cheio de problemas!