Hello pessoas, como estão? Espero que estejam bem. Mais uma vez, eu, Bruna, venho com uma indicação incrivelmente interessante (pelo menos do meu ponto de vista) e gostaria muito de compartilhar minhas impressões e reflexões sobre este mangá que me fez ter reações escandalosas sem nenhum motivo aparente.

Quando me deparei com Hidamari Ga Kikoeru fiquei muito interessada devido a capa, porque ela me lembrou muito de Koimonogatari (é um shounen-ai maravilhoso para os desavisados e já escrevi um artigo sobre ele, bora dar uma olhada ^^), logo meu coração palpitou e pensei que seria uma boa ler um BL para diversificar o histórico de leitura. Quando estava baixando os capítulos disponíveis, resolvi ler o feedback das pessoas no site e as respostas delas me incentivaram ainda mais a ler.

Eu não sei vocês, mas as capas dos mangás me interessam bastante apesar do conteúdo da história, muitas vezes, ser insatisfatório, e desta vez não foi diferente. Os tons verdes e os dois garotos me transmitiram, só de olhar, aquela sensação de “filme bom”, então, logo de cara, fui ler esperando não ficar decepcionada e torcendo muito para encontrar um shounen-ai de qualidade, com personagens independentes e com vidas próprias sem escorar completamente uma na outra.

O resultado disso, até então, foi melhor do que o esperado.

O mangá de Yuki Fumino conta a história de dois jovens, Taiichi Sagawa e Kouhei Sugihara, em que o primeiro é como boa parte dos universitários: à procura de um trabalho e sem dinheiro, enquanto o segundo é um rapaz com dificuldade auditiva. A vidas deles se encontram quando Taiichi, com sua má sorte em encontrar um emprego, acaba caindo (no sentido literal da palavra) em cima de Kouhei, este se assusta momentaneamente só que, ao ver como Sagawa parecia faminto, dá seu almoço para ele e vai embora.

Em uma conversa com seus colegas, Taiichi descobre sobre o problema de audição de Sugihara e que ele precisa de alguém para fazer anotações de algumas aulas. A partir disto, Sagawa se voluntaria a tomar notas para Kouhei como forma de agradecimento pelo almoço de outro dia, mas, além disso, ambos acabam fazendo um acordo: Taiichi fará anotações e Sugihara trará almoço.

Primeiramente, queria deixar claro que, apesar de ter gostado muito de Hidamari Ga Kikoeru, ele não conseguiu superar Koimonogatari em relação a complexidade dos personagens e enredo, mas isso não tira o brilho próprio do mangá e da forma como a narrativa é construída. Yuki, a mangaká, fez algo incrivelmente bom e está seguindo um ritmo de desenvolvimento que não atropela a evolução dos personagens e nos deixa confortáveis para ler sem pressa alguma.

O humor, entrelaçado com drama, faz deste mangá uma das leituras que mais apreciei este ano, pois a forma como a vida dos protagonistas vão sendo apresentadas, juntamente com seu envolvimento, faz o leitor sorrir e pensar: quando é que eles vão ficar inteiramente juntos? Apesar de preferir histórias que me conquistem sem enfiar o shipp no primeiro capítulo, fiquei com aquele sentimento de querer vê-los tendo um envolvimento romântico para que pudessem ajudar um ao outro sem pensarem sobre suas ações e reações. Mas, ao mesmo tempo, agradeci aos céus pelo mangá estar mostrando a construção da relação deles junto com suas próprias evoluções.

Um dos pontos agradáveis nesta história é sobre como ela aborda o olhar das pessoas achando que tudo é vitimismo e não encarando de fato o problema e as dificuldades enfrentadas pelos outros. Pelo fato de Kouhei ter essa dificuldade auditiva, muitos colegas de classe, principalmente os garotos, viam-o usá-la como desculpa para atrair atenção e conseguir certos privilégios com as garotas.

Se formos pensar realmente nesta questão, veremos que é algo recorrente na vida de muita gente, não digo isso somente àqueles com qualquer dificuldade física, mas também para pessoas com problemas psicológicos e afins. Geralmente vemos familiares e desconhecidos tratando coisas sérias como uma suposta fase, algo que não merece um olhar atencioso e será dissipado rapidamente; todos conhecem esses pensamentos e quando são direcionados a nós, entendemos o quão doloroso pode ser um descaso, assim como reconhecemos que, por causa disso, muitos sofrem em silêncio até não aguentarem mais.

Kouhei se afastou de todos desde o colégio até chegar na faculdade para não causar incômodos e evitar conflitos, muitos o viam como alguém arrogante e antissocial sem nem ao menos tentar conhecê-lo. De certa forma, Sugihara também parou de fazer questão disso ao tomar a decisão de almoçar num lugar onde ninguém pudesse vê-lo.

Outro ponto, em relação a este personagem, que me chamou atenção no mangá foi o típico “eu sinto muito sem realmente sentir”. Quando os colegas de classe de Kouhei souberam sobre seu problema auditivo, começaram a tratá-lo como incapaz de realizar qualquer coisa e tinham-o como digno de pena, algo que Sugihara não gostava por não se ver como alguém assim. Em um dos capítulos é apresentada uma cena na qual Kouhei está limpando a sala e uma garota chega dizendo: deve ser difícil para você tirar o lixo sozinho. Isso é altamente irritante por ser muito comum.

Ao mesmo tempo que existe este sentimento de pena, há a falta de interesse e exclusão de Sugihara entre os grupos formados na sala de aula, pois nas conversas, apesar dele não ter perdido por completo a capacidade de ouvir, era necessário repetir algumas coisas para entrosá-lo e em todas as vezes que tinham de explicar o assunto seus amigos-não-amigos floreavam com a mão dizendo: é trabalhoso demais explicar. Isto só marcou seu distanciamento das pessoas e o quão apáticas elas podem ser.

A respeito do Taiichi, o mangá traz ele como alguém que parece não ficar muito tempo na vida das pessoas, assim como é um perdido no mundo. Tenho a impressão de que a Yuki tentou ao máximo nos mostrar como as aparências podem enganar e também fazer uma chamada para o mundo a nossa volta por meio deste personagem especificamente, pois o universitário transmite a sensação de ter caído de paraquedas numa faculdade pela qual não sonhou.

Para ser bem franca, conforme fui conhecendo o Sagawa, percebi que ele tem uns pensamentos muito interessantes e sua personalidade ajudou bastante a me afeiçoar ao personagem, pois Taiichi não tinha o desejo de continuar estudando quando o ensino médio terminasse e sim ingressar no mercado de trabalho. Porém, seu professor acabou convencendo-o a iniciar a vida de universitário, mas ele ainda não se sente parte do mundo da faculdade, vira e mexe nós o vemos se questionando sobre o futuro e seus desejos, algo que acho muito importante para não o observarmos como sendo um cara alto-astral sem complexidade alguma.

Muitas pessoas, sem saber o que querem fazer da vida, seguem o fluxo e viram universitários sem nem ao menos pensar se aquilo é o que realmente desejam, a frustração chega rápido para eles quando notam seu despreparo à esta vida. Por isso, num determinado capítulo, Taiichi vê uma oportunidade de encontrar seu lugar no mundo, algo que poderá fazê-lo se sentir bem e irá ajudá-lo no futuro com Kouhei (queria muito dar um spoiler, mas este não vou dar porque pode acabar com a vibe quando lerem).

Sagawa se questiona muito e observa como as pessoas tratam Sugihara em determinados momentos, isso o deixa irritado pelo descaso e falta de compreensão dos outros para com o próximo. Acredito que o Taiichi só deseja momentos bons para Kouhei, assim como quer vê-lo convivendo com outras pessoas dando uma oportunidade para conhecê-lo realmente. Digamos que nosso querido estudante extrovertido perdido no mundo é um idealista, no qual gostaria de ver todos convivendo bem e aprendendo e ensinando coisas.

Independentemente das coisas que falei aqui, gostaria de deixar claro o quanto Hidamari Ga Kikoeru foca na amizade de ambos antes do sentimento virar amor, se vocês curtem narrativas deste tipo aconselho muito a lerem os dois volumes publicados no Brasil e quem tiver mais interesse ou souber inglês, tem mais capítulos traduzidos para este idioma. Tenham em mente que quando começarem a ler este mangá, vão encontrar um Taiichi Sagawa fazendo o possível e um pouco além para aprender como Kouhei Sugihara se sente – ele deseja ser mais útil enquanto o outro fica a cada dia mais apaixonado.

A história, podemos dizer assim, trata de uma crescente amizade que em um determinado momento fica paralela a um amor parceiro sem esquecer o carinho e agradecimento mútuo. Ou seja, vale muito a pena ler e assistir ao Live Action que foi lançado este ano.

Comentários