Battle Royale é um clássico, a obra é originalmente um livro escrito por Koushun Takami e adaptado para várias mídias como mangá e cinema, sendo o filme de 2000 o alvo de minha resenha dessa vez.

Mas o impacto cultural da obra vai além da literatura ou da grande tela, afinal, todo um gênero fora definido em cima de sua premissa. Pessoas presas a um jogo no qual devem matar umas às outras e no final só uma sobreviverá.

Matança indiscriminada que influencia muitas obras de anime e mangá, temas primários do Anime 21, e, inclusive diversas obras ocidentais. Já ouviu falar de Jogos Vorazes?

A classe.

Farei um caminho um tanto quanto inverso nessa resenha, usarei o exemplo de Jogos Vorazes – série de livros de Suzanne Collins que foi adaptada para o cinema – e partirei daí!

Ao ver Battle Royale – se você já tiver lido e/ou visto Jogos Vorazes – fica claro o quanto Collins bebeu da fonte, pois o pano de fundo e as circunstâncias podem não ser iguais, mas os personagens principais se mantêm jovens. Ao menos se compararmos o primeiro livro/filme da produção americana.

Isso caracteriza plágio? Não, e afirmo mais, diferente do filme japonês – ainda não li o livro que deu início a tudo – Jogos Vorazes faz uma contextualização do que ocorre que explica bem melhor para que serve esse “jogo de horrores”.

Um genuíno filme de horror.

Esqueçamos um pouco o pão, e analisemos o circo. A quem entretêm um jogo mortal respaldado por uma lei em funcionamento há anos e por que os “escolhidos” não faziam a menor ideia da existência da lei? Aliás, como uma lei dessas é aprovada?

Em Jogos Vorazes há uma distopia bem definida, todo o contexto de domínio da Capital sobre os outros Distritos viabiliza e justifica a ocorrência do jogo, já no Japão da virada do século a coisa parece bem feia, mas nunca esteve antes? É mesmo para tanto?

Se queriam se livrar de jovens problemáticos; que claramente não eram o total, a amostra da sala do jogo é um bom exemplo disso; por que não selecionar os problemáticos e tirar do bolo os certinhos?

Quando um estrangeiro pergunta para o brasileiro como está o país.

Se isso não ocorre é porque o jogo deve entreter a alguém, mas a quem? Eu não vi nenhuma câmera na ilha. Quem se diverte vendo isso, provavelmente os velhos rancorosos do governo, curti apenas o áudio gravado pelas coleiras?

Isso é extremamente doentio e não faz muito sentido criar essa lei e os jovens sequer saberem de sua existência, até porque no início do filme a primeira cena dá a entender que é algo noticiado pela mídia e, por tabela, aceito pela opinião pública.

Mas a reação dos alunos dá a entender que desconheciam tal lei. E aí, qual é dos dois casos? Faltou contextualizar isso melhor no filme, pois após ver a dúvida continuou pairando sobre a minha cabeça. Eu não duvido que o livro dê as explicações que eu queria, mas o livro é o livro, o filme é o filme – criticar um independe do outro!

Ainda há espaço para gentileza em meio a matança.

Usei Jogos Vorazes como exemplo, pois, é um filme infanto-juvenil – o livro também faz isso – que se preocupa com esses detalhes importantes, e, porque foi a primeira vez que consumi uma obra ciente de que era um battle royale e das origens desse tipo de premissa.

Em todo caso, voltando ao filme da virada do século, outros dois pontos nos quais a produção apela demais para a forma, em detrimento do conteúdo, são na trilha sonora e na sonoplastia; ambos espalhafatosos demais, como se não fosse possível o público se chocar apenas com a cena, como se ele tivesse que ser induzido ao choque.

Não é um erro crucial, e dada a intenção de chocar da produção entendo que seja assim, mas várias vezes “estraga” o suspense da cena. Dependendo do quão grandiosa é a trilha sonora você faz ideia do que esperar e isso faz o filme parecer menos horrível do que realmente é, e talvez o torne um pouco mais cômico.

Se ficar matam você, se correr você morre.

Aliás, Battle Royale não chega a ser um filme trash, mas a violência nele é muito gratuita sim, é explorada com o intuito de chocar mais do que de conscientizar sobre o mundo insano no qual seus personagens vivem e acho isso um problema, pois faz o filme perder força enquanto exemplo de algo horrendo que não deveria acontecer sob qualquer hipótese.

O contexto apresentado não é suficiente para justificar a ocorrência de um jogo desses. A matança em Battle Royale parece bem irracional em comparação a Jogos Vorazes ou animes como os da franquia Fate e Juuni Taisen – obra de Nishio Isin.

Isso só para ficarmos em exemplos mais conhecidos na comunidade otaku. É claro que eu nem posso comparar as circunstâncias desses animes a desse filme, mas a obra ocidental pode ser comparada, e a seriedade dela pode ser levada mais a sério. Isso soou estranho, né, mas creio que me fiz entender!

Mortas por um prato de comida!

Entretanto, nem tudo são espinhos e dado o orçamento da produção, muito baixo em comparação a qualquer blockbusters americano, e a época em que foi lançada consigo entender o motivo pelo qual se tornou sucesso de público – e, até onde pesquisei, também de crítica.

Mais pela força da ideia que pela qualidade de sua execução, o que não altera sua relevância para o mundo do entretenimento, e nem o poder de criticar a sociedade e aqueles que nela habitam que a premissa do battle royale tem.

Qual foi a necessidade dessa cena mesmo?

Também não posso ser leviano e varrer para debaixo do tapete bons momentos de personagem que se encontram espalhados ao longo da película. O problema é que a maioria são apenas flashbacks, e são tão breves que no máximo indicam justificativas para personagem X agir de forma Y.

Eles não se debruçam, não se aprofundam, sobre nada. Isso nem mesmo ocorre com os dois protagonistas que, mais por sorte que pelos próprios esforços, conseguem se salvar, fazendo uma analogia ao aluno de uma edição passada que se alia a eles.

Vamos morrer primeiro seu pedófilo!

Outra coisa não explicada, já que ele e o outro, um assassino de carteirinha, apenas são “transferidos” para a sala. Creio eu que isso ocorre apena para animar as coisas, o que só caracteriza ainda mais como arbitraria a forma como o jogo mortal é conduzido.

Dá para perceber isso também pelo final difícil de engolir entre os três e o professor vingativo, forçado para terminar a coisa de forma poética, que vira cômica quando ele se ergue, indo morrer sentado.

Nem reclamo dos jovens cientistas, o principal é um super hacker, porque no final o que eles fazem praticamente não tem relevância para a sequência da trama. E, como a massiva maioria, morrem, e de maneira violenta.

Não comentarei mais as semelhanças entre Battle Royale e Jogos Vorazes para não dar spoilers do blockbuster americano, mas se deseja assistir um filme mais sério – com efeitos especiais e atuações melhores – fica a indicação.

Será que essa cena foi uma analogia a frase “As Drogas Matam”?

Eu respeito a relevância social e histórica de Battle Royale, mas o filme, deixando tudo isso de lado, é bem mais ou menos, hein!

Eu gostei, me divertiu, mas acho que ele foi feito mais para chocar, entreter, que suscitar reflexão, tudo isso com produção no máximo mediana.

Fico por aqui agora, mas talvez um dia comente a sequência de 2003, e o livro que inclusive foi lançado no país pela editora Globo e não deve ser tão difícil de se encontrar por aí!

Eu não sei, e nem acho que esse filme saiba responder…

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